Era mais uma noite quente no Rio. Estávamos em uma fila de uma casa noturna na Lapa que dava uma volta no quarteirão, as ruas estavam lotadas, as pessoas bebiam, riam, gritavam e dançavam enquanto passavam por ali, apesar de estar uma vibe muito boa eu estava aflita por estar na fila a mais de uma hora, e a festa já estava atrasada.
— Que demora da porra — digo agoniada.
Passo a mão no rosto e olho no relógio pela milésima vez.
— Não aguento mais... — a loira olha para os lados, demonstrando aflição também. — Mas já esperamos tudo isso mesmo, olha lá a galera já tá começando a entrar. — nossos olhares percorrem a fila chegando no início dela e vendo algumas pessoas entrando.
— Eu gosto é das patrícia desse jeitinho, toda madame...— um moreno alto que aparentava ter uns 19 a 20 anos fala enquanto passa com seu grupo de amigos por nós.Reviro os olhos e vejo Isabela rir da minha cara.
Depois de uns 20 minutos finalmente entramos, o lugar era bem grande até, mas ao mesmo tempo parecia extremamente pequeno quando eu pensava em toda aquela galera lá fora que ainda ia entrar . Tinham 2 andares, era extremamente abafado, as luzes piscando com a fumaça no ar me impossibilitavam de enxergar muita coisa. Em poucos minutos já estava lotado.
Vamos nos espremendo e se enfiando para tentar se aproximar do palco.
O copo de plástico que estava na minha mão, era uma caipirinha, há umas meia hora atrás porque agora só tinham alguns pedaços de limão flutuando na agua do gelo que derreteu.
— Bela eu vou embora. — digo olhando o relógio mais uma vez, e já se passaram 1 hora desde que entramos.
— Pode parar Cathe, quase 1 hora dentro do uber pra vir nessa festa e você quer ir embora antes de começar? Não vou deixar. — ela franze a sobrancelha e cruza os braços numa tentativa de fazer uma cara de brava.— Você sabe que eu preciso tá em casa 00:00 em ponto.— suspiro e confiro se não tem nenhuma mensagem ou alguma ligada perdida no meu celular.
— Olha lá vai começar. — Isabela diz empolgada vendo as luzes do palco se acenderem.
— Ainda vai abrir o show, alguém que a gente não faz nem ideia de quem seja, você sabe que pelo andar da carruagem o show mesmo vai começar umas 2:00 da manhã. — digo descrente olhando o relógio que já marcavam 23:20.Um moreno entra pulando no palco, assim que tiro meus olhos do relógio eles se fixam no mesmo que está com uma calça branca acompanhando uma regata preta e um tênis.
O som ao meu redor some e só consigo focar no sorriso do moreno que está com o microfone na mão.
E que sorriso viu.
Assim que a musica termina ele se desculpa pelo atraso e diz que foi por conta do espaço, não da produção de nenhum dos artistas de hoje.Ele se apresenta como Mc Xamã, gravo o nome instantaneamente pra ir atrás do instagram dele assim que eu chegasse em casa.
— Pra quem tava reclamando agorinha, você tá interessada até demais.— Isabela ri dando um empurrãozinho no meu ombro percebendo meu sorriso.
Depois de algumas músicas, ele tira sua blusa que estava colando em seu corpo de suor, deixando suas tatuagens amostra, seu abdômen chega a brilhar, as entradas estão evidentes, mostrando um escorpião em uma delas, sua calça está bem pra baixo apontando o cos da cueca.
Ele começa a cantar uma música e eu rapidamente olho pra Bela, e ela arregala os olhos aprovando com um sorriso.
— É aquela músicaaaaa, que a gente ouviu hoje que tu se amarrou.— ela diz surtando comigo.
— Mano impossível. — digo desacreditada.Volto pra realidade rapidamente vendo uma chamada perdida na tela do meu celular.
— Amiga preciso ir lá fora, meu pai me ligou. — digo preocupada.
— Quer que eu vá contigo?. — ela segura no meu braço.
— Não, não precisa bela pode curtir o show, eu já volto.- me viro rapidamente dando de cara com alguém.
— Tá de sacanagem? Olha pra frente porra, me molhou. — o menino diz puto passando a mão na blusa.
— Desculpa. — digo rapidamente ao perceber que era a uma das piores pessoa que poderia encontrar ali naquele momento.Tento virar meu rosto e passar o mais rápido possível.
— Calma ai, não é possível. — sinto ele segurar no meu braço, fecho os olhos e suspiro já sabendo o que aconteceria.
— Cathe? Eu não boto fé nisso não. — ele diz em um tom debochado, e solta um sorriso cínico.
— Que lindo ein, teu pai vai amar saber que você tá nesse tipo de festa, pra escutar esses faveladinhos! — ele umedece os lábios e começa a rir percebendo que está me desestabilizando.
— E quem vai contar? Você? Que também tá aqui na festinha na lapa ouvindo esses "faveladinhos". Logo você Rodrigo... O que tu ta fazendo aqui? — levanto a sobrancelha e deito a cabeça pra um lado. — Pelo o que eu conheço você jamais frequentaria este "tipo de festinha", vai acabar é apanhando por aqui. — digo tentando não demonstrar o meu nervosismo por ver ele ali, sinto os dedos dele afundarem um por um na minha pele.Me assusto com algo gelado ser jogado contra o meu rosto, ate perceber que era a bebida que estava no copo dele. As pessoas ao redor começam a olhar e reclamar por espirrar nelas. Ele só olha de cima a baixo, balança a cabeça negativamente e solta um sorriso sínico.
— Você é patética Catherine!! Se tu continuar nessa quem vai apanhar é tu, vim aqui a trabalho e você sabe muito bem. — ele me empurra, soltando meu braço, chamando ainda mais atenção das pessoas em volta.
— Que porra é essa Rodrigo, tá maluco caralho, vai bater em mulher agora é? Não que me surpreenda vindo de você, sai fora. — Isabela percebe a movimentação, vê que sou eu, e chega gritando.
Continuo paralisada tentando entender o que tinha acontecido, minha boca estava entre aberta e sentia escorrer algumas gotas do líquido até meu queixo e pingarem no meu top.
— Qual foi familia? O que que tá rolando ai embaixo?.— o moreno que está se apresentando percebe a movimentação e para a música.
Uma roda já se formava em volta de nos dois, e quando parou o som consegui escutar os burburinhos vindo de todos os lados.
— Que isso? Jogaram um copo de bebida na menina? Que porra é essa?. — vejo ele espremendo os olhos tentando enxergar da ponta do palco.
— Homem covarde do caralho aqui batendo em mulher. — uma menina que esta do nosso lado grita revoltada.
— Como é que é? Tá maluco brother? Ei morena sobe aqui! — ele diz com um tom serio.
As pessoas começam a abrir um corredor para que eu passasse e eu ainda tava tentando entender que a morena era eu. Sentia meu sangue quente percorrendo minhas veias, também conseguia sentir meu rosto arder de vergonha, Bela começa a me empurrar pra frente.
Vejo uma mão se estender em minha direção, tinha um 44 tatuado nela. Olho para cima e vejo o rosto dele mais de perto, dou a mão e o mesmo me puxa para cima do palco.
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Era uma vez // Xamã
Fanfiction"Expulsa de casa porque não cumpria a regra Viu a Lua te falar Que o amor bem dado não se nega Era melô do camelô em Copacabana Que namorava uma bandida de Ipanema"