Capitulo 02

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— Tá de boa? Pega aqui. — ele pega a toalhinha envolvida no seu pescoço e passa no meu rosto em uma tentativa de me secar.
— Quem é o otario que tá de gracinha?. — ele pergunta afastando o microfone da boca, e se aproximando do meu rosto.
— É meu ex, mas tá de boa juro, to acostumada com as idiotices dele, não precisava disso! Desculpa atrapalhar o show - digo morrendo de vergonha.

Vejo ele levar o microfone em direção a sua boca.

— Iee pode ralar os 3 otario daqui, que porra é essa caralho? Tá tilt ? Vira homem pau no cu, vai agredir mina nenhuma aqui não, vou nem te dizer o que que a gente faz com muleque que não respeita as mina por aqui. — ele diz com o maxilar travado.

Vejo os seguranças puxando o Rodrigo e os dois amigos dele pra fora do galpão, e escuto várias pessoas xingando e empurrando eles.
O olhar do moreno percorre dos meus pés ao meu rosto, ele da uma piscadinha e sorri, fazendo com que eu sinta um trilhão de sentimentos diferentes por segundos.

— E tu vai assistir o resto dos shows aqui de cima comigo, a loirinha ali tá contigo?. — ele diz acenando para Isabela que me levou ate o palco.
— Sim. — sorrio sem graça ainda.
— Pode trazer aquela ali aqui pra cima também por favor?. — ele pede pra um segurança.

A plateia grita e começa a bater palmas pela a atitude, o som volta e ele continua cantando.

— Caralho meu pai vai me matar. — digo mostrando a tela do meu celular com 7 chamadas perdidas.
— Vai ali e pede pra ir ao banheiro pra terminar de se secar, liga pra ele e pede pra dormir lá em casa.
— Você sabe que isso vai dar merda.
— Não custa nada tentar, qual a outra oportunidade que vamos ter de ver todos os shows aqui do palco e conhecer todos eles aqui de pertinho? — ela me olha seria.
—Caralho Isabela, tu só me influencia a fazer merda. — ela abre um sorriso.
— Só não aceito que ele te trate como uma criança e você deixe de viver sua vida, você tem 21 anos Cathe. — a mesma revira os olhos.

Me levanto e vou para a lateral do palco onde tinha uma escada e uma galera da produção.

—Posso ir ao banheiro? Só pra terminar de me secar, rapidinho. — pergunto pra uma mulher ruiva que está com uma blusa escrito "produção"
— Já é, vem cá, vou pegar outra toalha pra você, que muleque sem noção ein. — ela diz simpática, descendo as escadas.

Ela me leva até uma porta que tem um papel grudado escrito em uma folha de A4 "Xamã", ao entrar dou de cara com umas bebidas e algumas frutas em uma bancada, e diversas coisas pessoais dele espalhadas por um mini sofá.

— Ali o banheiro, vou esperar você aqui do lado de fora. — ela sorri e aponta a porta do banheiro.

Entro, sento na tampa do vaso sanitário, junto minhas pernas e apoio meus cotovelos nelas, eu tento ligar para o meu pai, mas cai na caixa postal, resolvo mandar uma mensagem.

Pai

Me: Oie pai, tava tomando banho e o celular tava carregando no quarto da Bebel!!

Bloqueio o celular e levanto, olho no pequeno espelho quadrado grudado na parede em cima da pia, suspiro preocupada, escuto uma movimentação do lado de fora, e resolvo sair do banheiro.

O moreno está rindo de algo com um amigo, passo os dedos rapidamente debaixo dos meus olhos tentando limpar a maquiagem que derreteu, antes que ele perceba minha presença ali.

— Olha quem tá aqui. — ele esfrega suas mãos uma na outra. — Eai gatinha? Tá mais tranquila?. — sinto meu rosto corar de vergonha com ele se aproximando.
—Sim...sim, tô sim. — digo nervosa. — E me desculpa a invasão aqui, eu precisava me secar, uma moça que me trouxe aqui. — sorrio sem graça.
— Tá suave, não se preocupa. — ele se aproxima.
— Já acabou seu show?.
— Sim, hoje eu só vim abrir o show mesmo.— ele olha no fundo dos meus olhos, sinto que está vendo até a minha alma.

Sinto meu corpo se esquentar, olho pro chão rapidamente tentando fugir dos olhos dele, coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Acabaram de chamar a gente pra um pós, você e tua amiga não estão afim de ir não?.- ele sorri ao notar o nervosismo que ele causou em mim.
— Claro. — Isabela diz na porta do camarim.
— Acho que não. — respondo ao mesmo tempo.
— Claro ou não?. — ele tira o braço dali e ri confuso e eu e Bela nos entre olhamos.
— Claro que queremos.- ela arregala os olhos pra mim.
— É que eu tô encharcada e grudando, não sei se é uma boa ideia e também tem vários shows ainda, acho que vamos ficar por aqui mesmo. — digo tentando inventar uma desculpa descente.
— Vocês quem sabem, no banheiro tem um ducha, posso te emprestar uma camiseta minha, se você não se importar de desfazer seu "lokinho" é claro.  — ele me olha, sorri inclinando a cabeça. —Mas não quero atrapalhar vocês, podem ficar para os shows, porém te garanto que vocês vão curtir muito mais com a gente.- Bela acena a cabeça afirmando com o que ele tá falando.
— Ela vai sim, vamo no banheiro lavar esse cabelo cheio de cachaça. — ela me arrasta pra dentro do banheiro.
— Tá maluca caralho, meu pai vai me matar.- digo assim que ela fecha a porta do banheiro, fazendo bico e sentando no vazo.
— Já disse, fala que vai dormir lá em casa, porque eu tô muito mal pelo divórcio dos meus pais. — ela me puxa me levantando do vaso.
— Caralho fudeu ele tá me ligando. — meu coração gela e eu paraliso.
— Alô?. — escuto a voz grave e cansada dele.
— Oi pai
— Cadê você Catherine? Já tá na hora de vim pra casa. — ele parece já estar estressado.
— Pai é que a bebel tá muito mal, pensei em dormir aqui com ela, esse negócio do divórcio tá sendo bem difícil pra ela. — digo com a voz meiga e calma pra parecer estar deitada já.
— Não inventa Catherine, você sabe que a gente tem compromisso amanhã de manhã.
— Pai você sabe que a bebel é uma irmã pra mim, e eu não quero deixar ela aqui assim sozinha. — Isabela começa a fazer som de choro atrás e eu arregalo os olhos numa tentativa de fazer ela parar.
— Tá Catherine, mas quero você amanhã 7:00 em casa, ouviu?.- ele cede mas continua com a voz seria e dando sermão como sempre.
— Tudo bem.

Ele desliga, sem nem se despedir.

Bela pula em cima de mim, e começa a fazer uma espécie de dancinha de comemoração, me tirando um sorriso do rosto, que estava claramente sério e de saco cheio de ter que ficar passando por esse tipo de situação.

— Vamos para um after com o cantor gatinho, e ele tá todo gamadinho em você lalalala.— ela cantarola baixinho.
— Que gamadinho o que, para de ser louca.
— Não sei como você ainda aguenta isso com seu pai, Cathe ele só é assim com você, seu irmão faz o que quer quando quer. — ela revira os olhos.
— Você sabe que não é tão simples assim, aguentar eu não aguento não, mas fazer o que né.- dou de ombros.

Alguém bate na porta e a gente da um pulinho se assustando, Isabela começa a rir e eu vou até a porta do banheiro.

— Aqui pega, uma toalha pra se secar — ele diz tirando as coisas de uma bolsa que aparentemente parecia ser dele.
— Obrigada. — digo tímida.
— E aqui uma blusa e um casaco. — ele sorri e dá uma piscadinha, que me desmonta em diversos pedacinhos.
—Obrigada mesmo, e novamente me desculpa o incômodo. — fecho a porta e grudo minhas costas nela, com um sorriso bobo no rosto.

Me seco e visto a camiseta que ele me emprestou, arrumo ela colocando as pontas pra dentro do sutiã transformando ela em um cropped, saímos do banheiro e encontramos os três sentados no sofazinho conversando. Eles se levantam e saímos por uma grade por trás do palco.

Vejo os três se aproximando de umas motos, o moreno pega um capacete e estende o mesmo pra mim, meu coração falta sair pela boca.

Moto? Jura?

Eu tenho um medo tão grande de moto que não sei nem descrever, nunca nem cheguei perto de uma, sinto minhas pernas tremerem, o arrependimento já bateu, ele balança o capacete novamente na minha direção e eu seguro o mesmo. Olho pro lado pra procurar os olhares da Isabela, mas a maluca já estava na garupa do amigo dele.

— Já andou de moto né?. — ele ri percebendo que estou travada na mesma posição.
— Sim...sim, claro. — digo nervosa.
— Sobe aí então. — ele diz montando na moto.

Sorrio sem graça, me aproximo e subo na moto meio desengonçada.
— Segura aqui. — ele aponta se referindo ao seu abdômen. — Segura firme. — ele ri.

Ele acelera e me assunto com o barulho, fazendo com o que eu o abrace seu abdômen com mais força.

Era uma vez // Xamã Onde histórias criam vida. Descubra agora