Capitulo 14

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—Yasmin? Estuda na UFRJ? O que? Artes? Cênicas ou Visuais?Que pega busão?.—ele ri irônico e balança a cabeça negativamente.
—Vei é uma longa história, deixa eu explicar .—Digo segurando no braço dele.
—Mermao alguma coisa que você me disse é verdade?.—ele diz com uma cara de decepção.
—Tudo, tudo que eu te disse é real, só tem algumas coisas que são mais complicadas do que parece.—ele coloca a mochilas nas costas novamente.
—Yas tá tudo bem?.—Bianca sai da sala ao ver que eu tô demorando muito pra pegar uma comida.
—Sim Bia, pega, já já eu entro, pode almoçar.—digo entregando a comida pra ela.
—Eu tenho que ir.—ele diz e ela entra.
—Xamã por favor, espera, deixa eu te explicar direito, já almoçou? Almoça comigo, e eu te explico.—digo mais uma vez segurando seu braço.
—Tenho que trabalhar, outro dia você me explica.—esse outro dia me quebrou, significava que nossos planos pra hoje tinham ido por água baixo.
—Sério, a gente almoça rapidinho, e você volta a trabalhar, é o tempo que te falar tudo.—peço de novo.
—Pega suas coisas então, to esperando lá na entrada, tenho 15 min.—ele diz seco e sai.

Depois de pegar minhas coisas e ir até lá, subi na moto e o caminho inteiro se passa num eterno silêncio, até que chegamos no prédio, que clima de merda, nem parecia que tínhamos acordado no maior love possível.

—O que você quer comer?.—digo quebrando o silêncio indo até a cozinha.
—Não vou almoçar, só fala logo.—ele diz seco.
—Por que você tá me tratando mal? Cara nada é mentira, eu só não faço medicina, isso é tão importante pra você? Caralho, não sabia que precisava ser estudante de medicina pra estar no seu perfil.— digo brava me aproximando dele.
—Pra que mentir então porra? Teu nome é Catherine ou Yasmin? Como que eu vou me envolver com alguém que não sei nem a porra do nome direito.—ele responde a altura apoiando os braços na cadeira a sua frente.
—Cara tudo que eu te falei é real, e quando digo que meu pai é um merda, ele consegue ser ainda pior, eu não tenho a escolha de falar a verdade, se ele souber que eu vou me formar em artes cênicas na UFRJ ele literalmente me deserda de vergonha, passei 3 anos mentindo minha vida inteira pra aquelas pessoas, você acha que eu gosto disso? Ou que eu queria passar por isso?

Um silêncio se instala e ele desvia o olhar pra parede.

—Ninguém sabe disso, ninguém nunca viu um trabalho meu, eu nunca participei de nada na  faculdade que fosse público, a única vez que eu fiz, a imprensa pegou, sabe como meu pai não descobriu? Porque a Bela pagou pra apagarem as fotos, se não eu tava fudida, ele acha que eu faço teatro por hobbie, essa foi minha desculpa pra todas as vezes que ele viu algum rastro meu.
—Eu não consigo acreditar nisso do quão surreal é, como é possível você não poder fazer o que você ama sendo que você tem todo o dinheiro do mundo? A galera das costas do Cristo tem que fazer o que odeia, trabalhar com o que mais odeia, mas é pra pegar as conta tá ligado? Agora se eles tivesse o dinheiro que vocês tem, eles tava era fazendo arte, jogando bola, abrindo seu próprio negócio, indo atrás do sonho de verdade.—ele olha de volta nos meus olhos.
—O dinheiro não trás várias coisas.—dou um sorriso fechado.—Como assim galera das costas do Cristo?
—Onde a gente mora, de onde a gente veio, zona oeste, é onde fica longe aqui desses cartão postal, lá onde os turista não vê, lá é as costa do Cristo, a gente tem que rezar mais alto pra ele ouvir, porque tudo lá é mais difícil.
—Tu deve me achar a maior escrota né, por tá aqui reclamando da vida com o "bucho" cheio.—sento e coloco a mão na cabeça.
—Quem sou eu pra julgar a tua realidade? Cada um passa por uma batalha, e eu não sei a sua, eu não vivo ela, então nunca vou julgar tá ligado? Já te disse, as pessoas não são um pote de maionese pra nois fica rotulando.—ele vem até mim.
—Desculpa real por "mentir"— faço aspas com os dedos.—Mas é que é um bagulho que ninguém sabe mesmo, só a bela, e eu na verdade só tô te contando porque você descobriu.
—Coe eu fiz mo dramao, mas é que eu odeio mentira, papo reto! Tá tranquilo, vem cá.—ele diz em pé do meu lado.

Eu levanto e abraço ele.

—E esse rango?.—ele diz ainda me abraçando e eu começo a rir.
—Não foi tu que disse que não ia almoçar?.—continuo rindo.
—Ah eu tava bravo que tu tava me enganando.—ele passa a mão na nuca olhando pro chão.
—O que você quer comer então?.—digo sorrindo e indo até ele pra dar um beijinho.

Ele me olha malicioso de cima a baixo e da um sorrisinho.

—Idiota.—dou um tapinha em seu braço.
—Qualquer coisa tá ótimo, eu não ia nem almoçar hoje.—ele senta na mesa.
—Tá maluco, tem que comer, tu fica trabalhando nesse sol aí, vai passar mal.—digo preocupada.
—Tô economizando, esse mês tá foda.—ele olha pra baixo.
—Então todo dia pode passar lá na faculdade que a gente vai almoçar juntos, ouviu? Não é pra ficar sem comer.—eu vou em direção a cozinha.
—Tá maluca, claro que não né.—ele ri sem graça.

Era uma vez // Xamã Onde histórias criam vida. Descubra agora