Capitulo 03

1.1K 92 2
                                    

- Nunca andou né?. - ele sorri. - Só segura firme, qualquer coisa me grita que eu paro.

Os primeiros minutos senti que eu ia morrer, ele estava a quase 150km por hora, seguro seu corpo tão firme contra o meu, que sinto minha mão adormecer.

Meus olhos que estavam fechados na esperança de que chegássemos mais rápido, abro os mesmo e começo a sentir o vento bater no resto do meu cabelo que estavam pra fora do capacete, a adrenalina bateu e eu comecei a gostar da sensação.

Até que começamos a subir um morro, nunca tinha entrado numa comunidade, sinto meu estômago embrulhar, minhas mãos suarem, eu estava com medo de onde estava me metendo, o pavor da moto tinha até passado mas agora eu tava entrando numa favela, com um cara que eu tinha conhecido a menos de 2 horas atrás.

A velocidade vai diminuindo, até que ele para em frente a uma casa, descemos e ele ri olhando pra jaqueta dele que tinha a marca dos meus braços afundados.

- Ela não parece ter curtido muito o rolê contigo nenê. - ele diz dando um leve tapinha na sua moto.
- Quem curte um rolê em cima de uma moto a 200km?. - digo arrumando meu cabelo.
- Ela parece ter gostado. - ele diz apontando para Isabela que está sorrindo e batendo na mão do amigo dele.

Olho na direção dos dois analisando e conversando sobre a moto, e volto meu olhar pra ele, espremo meus lábios e dou um sorriso falso com a boca fechada.

- Coe? Bora?. - o moreno pergunta.
- Bora. - os três respondem juntos e se aproximam.

Andamos até a faixada da casa, eles vão andando na frente e eu me aproximo da Loira.

- Bela você tem noção que estamos numa favela quase 1:00 da manhã, com 3 caras que a gente não sabe nem o nome - cochicho.
- O nome dele é RD, o que tava cantando é o Xamã, e o outro é um tal de Chris- ela me dá uma piscadinha.
- Xamã e RD, jura que acha que esse é o nome deles? Se qualquer coisa acontecer é isso q vc pretende falar pra polícia?- digo empurrando meu ombro contra ela.
-Para de neurose maluca, não vai acontecer nada.
- Se a gente morrer a culpa é sua, e nem se quer assistimos o show do Don Juan, que fomos lá só pra isso. - eu começo a rir.
- A vida é uma só né, esse rolê tá mais emocionante, vamo aproveitar o vale night do teu pai né.
- Meninas esses são Orochi, Knust e Ret. - Xamã dá um passo pro lado.
- Prazer. - sorrio.
- E que prazer viu. - Isabela brinca e os três sorriem.

Entramos de fato na casa e tem umas 30 pessoas, uma grande parte são meninas, algumas andam pelo pequeno espaço de sutiã e calcinha, algumas estão deitadas em sofás ou conversando com alguém. A música está bem alta, tem uma neblina de fumaça na sala, que se você ficar mais de 5 minutos lá, você fica chapado de tabela. Em cima de uma grande mesa de madeira tem algumas garrafas whisky, vodka, tequila espalhadas junto com copos e latas de energético, na laje encontro uma churrasqueira pequena acesa.

- Vou buscar algo pra a gente beber. - O moreno diz indo em direção a cozinha com as mãos no bolso.
- Shot de tequila pra todo mundo. - RD volta com o Xamã segurando alguns shots.
- Uhuuuuu. - Bela comemora pegando o copinho dela.

Penso seriamente em me controlar e não aceitar a tequila, estar bebada longe de casa e com uns desconhecidos não era o melhor plano, mas quer saber, foda-se, eu tô cansada de ser controlada, tô cansada de não poder viver minha vida do jeitinho que eu quero.
Pego o shot e viro, ele desce queimando e me arrependo na mesma hora.

Depois desse, foram mais um, dois, três, quatro, até perdi a conta. Comecei a me soltar, estava bebendo whisky com água de coco que Xamã tinha trago e alternando com vários shots de tequila.

- Veio com quem?. - uma menina seminua pergunta.
- Xamã. - respondo seca ao ver a cara de deboche dela.
- Tá trampando pra eles desde quando?.- ela pergunta mascando um chiclete.
- Como assim? "Trampando"? - faço aspas com os dedos.
- Tu não é garota de programa?. - aquilo me choca de uma forma que estou prestes a ter uma crise de riso, mas me seguro.
- Não. - sorrio sem graça.

Saio na desculpa de buscar uma bebida e me sento em uma escadinha que tinha uma das vistas mais lindas que eu já tinha visto, ou talvez é porque eu estivesse muito louca.

-É nova aqui? - um loirinho pergunta sentando do meu lado.
- Eu não sou garota de programa não. - digo já traumatizada .
- Vestida desse jeito, a última coisa q eu pensei foi que você fosse garota de programa, pergunto se é nova aqui porque nunca te vi por aqui. - ele me olha e ri.
- Vim com o Xamã. - digo meio arrastado.
- Ah sim, aceita? - ele estende um copo de água.
- Nossa sim, muito obrigado. - pego o copo da sua mão e viro de uma vez.
- Era só um gole. - ele faz uma pausa dramática e ri.
- Desculpa meu Deus, mas tava precisando. - digo olhando pro copo vazio.
- Qual seu nome?
- Catherine, e o seu?
- Pedro, mas pode me chamar de PK. - ele umedece os lábios e sorri.

Caralhooo que gato...

- O que faz da vida Pk?
- Eu canto também, tento né, mas até que tem dado certo. - ele apoia os cotovelos em seus joelhos e olha pra vista. - E você?
- Depende de quem pergunta. - sorrio arquivando a sobrancelha.
- Como assim? - ele ri.
- Quer saber? Deixa quieto, tenho certeza que a gente tem coisas mais legais pra conversar.- sorrio sem graça.
- Certeza? Não quer falar sobre?. - ele se mostra interessado.
- Tô tranquila.- digo abaixando a cabeça e olhando pro chão, chutando umas pedrinhas que estavam no degrau de baixo.
- Ie

Ele diz se levantando, e eu me viro novamente pra ele.

- Oie. - sorrio sem graça
- Vou ali acender um, quer me fazer companhia?
- Claro. - me levanto e bato no short pra tirar a sujeira.

Passamos pela Isabela que tava beijando um menino, eu diria mais engolindo. Entramos em um corredor e ele me puxa pra um quarto, me fazendo engolir seco, ele vai até a janela do quarto e pega um isqueiro no bolso e acende o beck.

- Aceita?
- Não não, obrigada

Ele dá um trago, e se aproxima, meu coração acelera.
Caralho, ele vai me beijar meu Deus, respira!
Sinto ele pegar na minha cintura

- Pk - alguém entra o chamando.

Olho em direção a voz e vejo o moreno com o maxilar travado, parado na porta do quarto.

- Fala mano, pode ser daqui a pouco não? - Pk olha pra Xamã e aponta com os olhos pra mim.
- Orochi tá te chamando mano, ele disse que era sério. - ele diz sério.
- Já volto tá Cathe, desculpa
- Tudo bem, fica tranquilo. - sorrio e ele sai do quarto.

Xamã continua me encarando da porta e eu começo a me sentir intimidada, me viro para o outro lado, olhando para a janela que dava pra ver toda a comunidade, tentando descontrair.

- Cathe, esse é seu nome? - escuto a voz rouca dele se aproximando.
- Uhum...Catherine. - vou ficando nervosa ao sentir ele chegando mais perto.
- Xamã né? Interessante, curti seu som. - digo tentando quebrar o silêncio que se formou.

Ele apoia na janela e eu viro pra ele, sinto ele olhar dentro da minha alma, os olhos dele nem piscam direito, qual o problema dele em olhar tão fixamente assim?

- Curtiu o som ou o cantor? - ele diz umedecendo o lábio inferior e logo em seguida abre um um sorriso malicioso.

Fico sem reação, não tava esperando por isso, nesse momento sinto que todos os meus sentidos explodiram, não saia nada, não conseguia pensar, nem falar, travei.

Ele sabe que eu tô nervosa, e tá brincando com isso, vamo Cathe reage, meu coração parece que vai sair pela boca, ele me causa algo inexplicável, ou é só a bebida e seus efeitos.

- Pelo seu sorriso curtiu o cantor tanto quanto o som.

Que confiança ein, me faz querer tirar essa bola toda que ele tá achando que tem, pena que eu não posso dizer o contrário.

- Talvez. - subo meu olhar que estava no chão para seus olhos.

Olho no fundo dos seus olhos puxados, era um castanho tão escuro, que me lembravam duas jabuticabazinhas.
O silêncio se instala entre nós dois.

Ele se aproxima ainda mais do meu corpo e sinto o cheiro do seu perfume amadeirado, que logo se mistura com o cheiro do whisky e de hortelã, sua boca está a centímetros da minha.

Era uma vez // Xamã Onde histórias criam vida. Descubra agora