Como dizer a ela?

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-Porra, não pode ser!

Respiro fundo e arrastado e contra todas as nossas vontades nos levantamos correndo da cama, vestimos um roupão cada um e saímos para a área das poltronas.

Vou na frente segurando a mão de Natalie e com a outra mão vou tapando o volume que marca a frente do meu roupão, não tive tempo de me recompor.

Nos sentamos e afivelamos os cintos e poucos instantes depois atingimos a zona de instabilidade que o piloto estava prevendo no radar. Foi uma das piores turbulências que já presenciei, e olha que já viajei muito de avião.

-Calma, já vai passar!

Digo ao olhar para o lado e ver o pavor no rosto de Natalie que aperta minha mão com força e segura o braço da poltrona com a outra.

Depois de alguns minutos de tensão, finalmente tudo passa e o voo volta à tranquilidade de antes. Ficamos sentamos mais um tempo para garantir que tudo havia normalizado e para que o sangue voltasse a bombear normalmente na cabeça de Natalie que ficou mais branca do que já era, a boca nem tinha cor, tadinha. Voar também não é minha coisa preferida.

-Não sabia que tinha medo de voar, minha linda.

-Não chego a ter medo, mas voei poucas vezes e nunca aconteceu uma coisa dessas, jurei que era a nossa hora. E como uma coisa desse tamanho pode voar? Não faz o menor sentido! Tá, eu sei como é, mas não faz sentido!

-É, confesso que também acho um absurdo uma coisa voar assim...

Respondo e noto que ela ficou quieta olhando pela janela por alguns instantes.

-O que foi, meu amor? Já passou, estamos todos bem, não precisa se preocupar.

-Só pensei em você e no que a gente ainda nem tinha vivido...

Fala com os olhos marejados e uma culpa toma conta de mim no mesmo instante. Por mais que ela não diga, sei que ficou chateada pelo Natal.

Entre os últimos dias foi natal e como ninguém sabe do nosso relacionamento, não pudemos passar juntos. Estive com ela durante a tarde e inicio da noite da véspera, mas no dia de natal acordamos cada um em suas casas, em seus quartos, ela com sua amiga e eu com minha família.

Queria ter visto o brilho em seus olhos na manhã de natal, o acordar com o rosto ainda sonolento e a excitação ao lembrar que embaixo da árvore de natal os presentes estavam esperando para serem abertos.

Esse ritual significa tanto, principalmente com as pessoas que amamos, o natal tem algo que exala amor, é um momento em que todos queremos estar com quem amamos. Aprendi a entender e gostar disso depois de adulto, por muitos anos não comemorei essa data, porque assim fui criado.

Porém, desde vários anos para cá, o natal se tornou
um momento especial. E para Natalie também é, na tarde que passamos juntos ela me contou sobre alguns natais que teve com sua mãe, falou de lembranças que gostaria de reviver e que esse período do ano parece que traz algo mais vivo de sua mãe.

Nos falamos pessoalmente somente no dia 26 e pude ver em seu semblante que, apesar de ela dizer o contrário, foi difícil para ela, assim como foi para mim. Eu sabia que o segredo seria difícil em certos momentos, e eles estão chegando cada vez mais.

-Oh, minha linda! A gente ainda vai viver muitas coisas juntos, vamos formar lembranças lindas, não vai ser um avião que vai nos separar!

Digo tentando a animar e não entrar diretamente no assunto que tenho quase certeza que surgiu na mente dela.

Ela sorri de volta e escora a mão em meu rosto, a seguro e beijo com carinho enquanto trocamos sorrisos.

-Amo você.

Uma perfeita obra de arteOnde histórias criam vida. Descubra agora