Uma perfeita obra de arte

Volta para mim?

Respiro fundo, me sento e então conto tudo, conto da reunião que tive com minha equipe naquela manhã, digo que tinha decidido abrir nossa relação para todo mundo, conto sobre todas as coisas que pensei e que quis afastar dela para sua própria proteção, conto da cláusula do contrato e de tudo mais que me disseram na reunião, todos os motivos da lista que nos impedem de sermos nós em público.

-E aí você achou que o melhor a fazer era terminar comigo? Meu Deus do céu, eu disse tantas vezes que não me importo com nada disso, eu nunca pedi para você me assumir, não me importo com o que vão pensar ou deixar de pensar nem com se vão saber ou deixar de saber.

-Eu sei...

-E eu não preciso ser protegida, você acha que sou tão frágil assim? Eu sei que não vivi a metade do que você viveu, mas sou mais forte do que pareço, Michael, ou não estaria mais aqui depois desses meses infernais que passei.

-Eu sei, me desculpe. É que só eu sei tudo que passei e nem no meu pior pesadelo eu poderia deixar você passar por um décimo de tudo isso.

-Mas quem decide pelo que vou passar ou não, sou eu, você não pode decidir isso por mim.

-Eu sei...

-Para de dizer "eu sei", que coisa... ela fala irritada e tenho que rir com seu jeito.

-Desculpe, minha linda...

-Mas e então depois de todo esse tempo longe você resolveu começar a me dar sinais para que eu procurasse você? Por que você não me procurou?

Ela fala se levantando e anda até a sacada. O vento bate e traz seu cheiro, deixando mais difícil eu não correr até ela e a envolver nos meus braços.

-Não, não foi isso. Eu não vim aqui planejando voltar com você, vim porque recebi seu presente e fiquei completamente perdido, a camiseta tinha seu cheiro e foi algo que você escolheu com carinho para mim, foi como se estivesse comigo, mas não estava.

Digo me levantando também e indo até ela.

-Isso terminou de me partir por dentro. Eu precisava ver você, mesmo que de longe. Vi você na galeria, mas não consegui ir embora depois de saber que você estava ali tão perto. Fiquei alguns dias indo lá, passava o dia todo dentro do carro esperando o momento de você passar e eu poder matar pelo menos um pedacinho da saudade.

-Comprei os quadros porque queria acompanhar seu trabalho, tenho muito orgulho de você. Eu pedi anonimato à galeria, não sei como você descobriu. E eu estava quase indo embora hoje quando você entrou no carro e no segundo que vi você, ali, tão perto de mim, eu entendi a burrada que tinha feito.

-Eu passei a acompanhar as revistas de fofoca, e saiu uma foto sua saindo da galeria ontem.

Ela fala e aponta para uma pilha de revistas na mesa de centro da sala.

-Foi assim que viu que usei a camiseta?

-Foi.

-Mas você não lia essas revistas antes...

-Claro que não, são um lixo. Mas era a única forma de eu poder saber alguma coisa de você, ver alguma foto ou descobrir se estava bem.

-Então também se importou comigo nesse tempo em que ficamos afastados? Você poderia ter me ligado...

-Quis ligar muitas vezes... mas eu estava convencida de que não me queria, não tinha porque fazer papel de idiota indo atrás de você.

-Minha linda, me perdoa, volta para mim? Eu prometo não tomar mais nenhuma decisão por você e tudo que fiz foi apenas pensando em você, em proteger...