Estou aqui

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-Nat, espera... me desculpa, não pensei na hora, não era para ter falado com ele daquele jeito!

Ari vem correndo atrás de mim e senta ao meu lado em um dos bancos perto da mureta de proteção do terraço.

-Porra, você acha? Pisou feio na bola! Agora ele tá achando que eu tô me sentindo abandonada aqui e que sou infeliz por culpa dele.

-Desculpa, amiga...

-Tá, esquece isso, agora já tá feito... vou ficar tentando ligar pra explicar que você bebeu demais e falou besteira.

-O que eu posso fazer para tentar ajudar?

-Não falar mais nada disso pra ele, e me trazer uma cerveja.

Ela levanta e passa entre as pessoas, a mesa com as bebidas está do outro lado, perto da entrada. Olho em volta, as pessoas se divertindo, pelo menos tá sendo legal pra eles.
Não é muito grande aqui, mas às vezes usamos pra fazer alguma reuniãozinha com amigos, geralmente os mesmos que estão aqui agora. Jo, Gary, Pierce, Antony, Max e Rick.
Todos são da faculdade, exceto Rick que é lá do bar e depois daquela confusão do beijo ele me pediu desculpas 100 vezes e acabamos ficando um pouco mais próximos porque ele demonstrou interesse na Ari quando ela esteve lá em uma noite antes das minhas férias e ela o convidou para vir passar o ano novo com a gente.

A decoração é simples, mas aconchegante, tem uns bancos de pallet que eu e Ari fizemos um tempo atrás e sempre ficam aqui espalhados para quando resolvemos subir e fumar um cigarro ou beber uma cerveja, já que os vizinhos quase nunca sobem aqui. Não fumo sempre, mas ela sim e de vez em quando vou na dela e dou umas tragadas.

Pra hoje trocamos as almofadas pretas por verdes, porque ela leu em algum lugar que verde é a cor do ano, não acredito nessas coisas, mas era mais fácil fazer a vontade dela do que a convencer de que uma cor é só uma cor, e também uma superstiçãozinha não faz mal a ninguém.
Ao redor da mureta de proteção colocamos cordões com lâmpadas menores que as tradicionais, o mesmo na parede do outro lado e estendemos alguns fios dessas lâmpadas fora a fora aqui na parte de cima, até que ficou bonito.
Trouxemos umas plantas lá do nosso apto, umas folhagens e coisas assim, e colocamos aqui e ali e foi essa a decoração que deu pra montar sem muito trabalho ou gasto. Meio improvisado tudo, mas todo mundo elogiou. E também se não elogiassem eles iriam se encrencar, sabem disso. Eu gosto de fazer essas coisas, eles já sabem que ano novo é uma das minhas ocasiões preferidas.

-Demorou, hein!

Ari volta com duas long necks e me alcança uma. Começa a conversar sobre Rick e me pergunta algumas coisas dele, ele está lá adiante dançando com a Jo.
Divido a atenção entre o que ela diz e meu celular, mas as chamadas seguem caindo direto na caixa postal.
Largo o aparelho em cima de uma mesinha de centro de pallet que está quase na nossa frente e vejo a tela se ascender em seguida, alguém está ligando.
Pego o celular como se fosse minha vida e vejo que o número é desconhecido. Quem estaria me ligando hoje a essa hora?

-Alô? Atendo desconfiada.

-Minha linda, estou aqui na frente.

-Michael? Que número é esse? Está na frente de onde?

-É ele, amiga?

Ari me pergunta se levantando e parando em minha frente e sacudo a cabeça afirmando que é.

-Estou na frente do seu prédio, posso subir? Explico tudo pessoalmente...

-Meu Deus, você tá aqui? Claro, sobe!

Desligo e olho incrédula pra Ari que está sem entender nada que nem um poste na minha frente.

-Amiga, ele tá aqui! Vou lá falar com ele, fica aqui com todo mundo, não deixa ninguém ir lá em casa!

Uma perfeita obra de arteOnde histórias criam vida. Descubra agora