Capítulo 41

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                                                                                 *Manu on*

Estava em meio de um sonho sem sentido quando sou acordada com desespero por Gabi. Ela quase gritava meu nome enquanto se movia histericamente. Ainda só se ouviam tiros distantes, o que mesmo assim já me trazia uma sensação de aperto do peito. Preocupação. Em meio a meus movimentos rápidos para descer as escadas e sair de casa, a coisa da qual eu mais pensava era Gustavo. Como sempre minha mente estava a pensar somente naquele maldito garoto que pouco tempo atrás quebrara ainda mais meu coração. Somente deu tempo para que eu colocasse um pouco de ração e água aos potes rosados de Laila antes de sair correndo pela porta sem ao menos trancá-la. Entrei em uma van preta e grande que já está de prontidão parada rente a calçada. Me sento em um banco próximo a janela de emergência como de costume. Sempre fora acostumada a fazer isso. Todos estão nervosos. Tem pessoas correndo de um lado para o outro sem parar, a maioria homens armados carregados de um olhar frio. Segundos se passam até que a voz de Gustavo chegue a meus ouvidos:

- Já estão levando eles para lá?- seu tom está mais firme do que da última vez que o ouvira falar. Também está um tanto rouco. Ao ouvi-lo, não consigo evitar de sentir um arrepio na nuca. 

Aproveito os poucos segundos em que ele está ocupado falando no radinho para observá-lo de canto de olho. Seu cabelo castanho cai um pouco sobre os olhos e está bagunçado, seus olhos estão mais escuros que o de costume e suas pupilas estão tão diminuídas que são até difíceis de serem vistas a distância. Céus, eu ainda o amo muito. Me pergunto se algum dia vou conseguir esquecê-lo. Queria sentir ódio dele. Tentei mesmo ter raiva. Por um momento até cheguei a sentir, mas por mais que doa, não consigo odiá-lo. Sei que em algum lugar, atrás daquele olhar frio, ainda existe amor. Mas acho que já tenho resposta para isso. Volto meu olhar para o chão enquanto faço uma prece silenciosa. Quase imploro para que isso tudo acabe. Levo um susto quando a porta do carro é fechada com força e o mesmo dá partida. Aqui é possível somente ouvir o burburinho que algumas pessoas fazem ou os murmúrios de súplica aos céus de outros. Entramos em uma estrada de terra um tanto esburacada, que faz com que balancemos de um lado para o outro, sem nem conseguir controlar nossos corpos de fazer tal movimento. Tento achar um momento para listar algo que tenha esquecido de pegar em casa. Laila não tem como sair de lá, o que me deixa mais tranquila. Bem, acho que está tudo em ordem por lá. Volto a olhar a vista das árvores e plantas que estão do lado de fora da janela meio escurecida. Em uma curtíssima parte da mata, vejo uma pequena leva de agapantos azuis que estão no topo de seu azul turquesa. Devem ter florescido a menos de uma semana. Lembro que tem uma parte perto da piscina que tem um canteiro cheio destas mesmas flores, só que as de lá estão um tanto menores. Ainda pensando no jardim, tento me distrair pensando sobre o portão pequenino que tem no corredor ao lado de casa. Ele é como se fosse um corta caminho para quem não quer sair pela porta principal, já que dá direto na entrada externa da casa. Precisava redecorar aquela parte de fora, a tinta branca da portinha já está meio desgastada, deixando o tom cinzento metálico do mesmo começar a ficar a mostra. Mas agora vou me mudar ficará mais difícil.

Meu Deus!

O ar fica preso em meus pulmões e um frio toma conta de meu estômago. Ontem acabei deixando o portão aberto. Droga! Como pude ser tão irresponsável? Laila com certeza deve estar assustada com o barulho incessante dos tiros. E se ela fugir? E se algo acontecer com ela? Eu nunca me perdoaria. 

Como pude não pensar nisso antes de sair de casa? Ela é como uma filha para mim, e eu não vou sossegar até ela esteja totalmente segura.

Eu- Ei! Moço!- o homem que está no banco de passageiro olha para mim, assim como todos as outras pessoas que estão na van. Um tanto desconfortável, admito- Vocês tem de parar! A minha cachorra! Ela pode morrer!

Salvos pelo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora