Capítulo 44

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Nunca pensei que dobrar roupas podesse ser tão cansativo, é meu quarto dia trabalhando em uma lojinha que fica em um ponto comercial bastante movimentado mesmo em dias de semana. Até que estou me saindo bem, julgando que a última vez que a última vez que trabalhei em uma loja dessas foi à cinco anos atrás. Levo as pilhas de roupas bem dobrados até suas devidas seções, algumas na feminina, outras na infantil e só três camisetas de cores básicas na parte masculina.  Olho o relógio pendurado no alto atrás do balcão de mais ou manos seis metros que é usado como caixa, 16:36, só faltam vinte minutos para o expediente acabar. 

– Manu, você pode passar as comprar da moça para eu ver se eu acho alguma blusa vermelha para para Eliza? - Clara aponta para o computador com um banquinho alto na frente com o dedão.

– Claro, pode ficar tranquila. - com passos largos me dirijo para o lugar  e me apoio de leve contra o assento enquanto pego o amontoado já meio amassado de roupas que estão entre duas placas cheias de brincos e alguns batons infantis com sombras  no formato de borboleta- Boa tarde, acharam o que queriam?- minha voz soa calma enquanto uso uma maquininha para ler o código de barras das peças.

– Ah, sim, achei bastante roupas para mim e para ela! - olha de relance para filha que aparenta ter uns seis anos que está entretida demais com a sombra quase sem pigmentação para olhá-la de volta- Agora já fico mais tranquila com as roupas para as férias e com a bendita festa junina da escola.- solta uma risada. Passo uma camiseta xadrez rosa e branca com linhas pretas e entendo o que a mulher quis dizer.

– Ah, essas festinhas são sempre um caos para achar as roupas. - coloco uma mecha do cabelo atrás da orelha- Qual é o seu nome linda? - termino de passar as roupas e olho para garota. 

– Alice. - se esconde atrás da mãe com vergonha, deixando só seus cachos curtos presos com um elástico rosa neon aparecendo.

– Bom, Alice, boa sorte na sua festa junina, vou deixar um pirulito dentro da sacola para você.- sorrio e ela afirma com a cabeça sorrindo também. - coloco o doce em formato de coração dentro da sacola de plástico branco cheia de roupas. - Deu, 74,80.

– Crédito, por favor.- tiro o cartão cinza da carteira enquanto eu programo a maquininha- Obrigada! - diz quando coloco o papel para troca dentro da sacola e a entrego. - Agradece a moça filha.- a vozinha fina fez o que ela pede e em seguida elas saem da loja de mãos dadas. Guardo o recibo da compra na gaveta, prendendo tudo com um clips e saio de trás do caixa. 


Só mais uma cliente entrou na loja antes de encerrarmos o expediente. Agora estou no ponto de ônibus me segurando para não comer os docinhos que comprei para sobremesa de hoje e com minha bolsa pesando contra meu ombro. Sinto minha barriga roncar mais forte quando o vento trás o cheiro do churrasco típico de sextas-feira que o moço do barzinho que fica alguns metros daqui está fazendo. Dou graças a Deus quando meu ônibus chega, não posso ficar gastando muito se quero ter dinheiro para arranjar uma casinha para mim e para o Samuca morarmos. Daqui até o ponto final. Cloco meus fones de ouvido, encosto a cabeça no vidro sem me importar se se está sujo ou não, observo as ruas e as pessoas do lá de fora e nem percebo o tempo passar.  Me apoio na barra de metal para descer os degraus e dar um pulinho para chegar na calçada, ajeito a bolsa e começo a andar a quadra até a casa da Dona Luiza. É muito bom se sentir em casa quando está com alguém. O fato dela morar tão perto do morro e de sempre dar para ouvir o som das músicas não é uma das coisas mais reconfortantes, mas mesmo assim, tendo ela comigo tudo se torna melhor. Quando chego em frente o portão, tiro a chave no bolso da calça e abro o cadeado. 

– Cheguei!- falo ao passar pelo jardim bem organizado e florido.

Ao passar pela porta vejo a televisão ligada tocando a música que alerta o começo da novela das seis. 

Salvos pelo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora