Capítulo 1

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Abro meus olhos lentamente e uma claridade que minha vista ainda não está acostumada invade meu compo de visão. Meus ouvidos começam a zunir, mas ainda consigo ouvir algumas vozes. De repente, um turbilhão de coisas invadem minha mente, e começo a me recordar das últimas coisas que ouvi e vi.

Flashback on

Eu-Não por favor, não me deixa aqui!

Minha tia- Cala boca garota! Vai, sai do carro.

Saio do carro com lágrimas nos olhos que aumentam cada vez mais a cada tiro que eu ouço. Vejo dois homens parados e armados no portão, seus olhares pesam sobre nos, os deixando mais amedrontadores ainda. Quando dou meu primeiro passo e fecho a porta do carro, sinto alguém pegando fortemente em meu braço e me puxando para cada vez mais perto do portão de entrada do morro, me viro e vejo que quem está segurando meu braço é meu tio.

Eu- Por favor, não me deixa aqui.- digo olhando com súplica para ele.

Meu tio- Não peça algo que sabe que de qualquer forma vai acontecer.- diz me olhando friamente.

Quando chegamos no portão, os homens que estavam lá parados abrem o mesmo e meu tio sem mostrar remorso algum me joga para dentro do morro juntamente de uma mochila que fiz as pressas achando que íamos para casa onde trabalho de babá todas as sextas-feiras. Trancam  a porta novamente, com um certo desespero,  me levanto e tento abrir o portão o balançando histericamente, mas fui puxada com força por um dos caras que acabou de chegar em uma moto.

Minha tia- Aproveita que está tendo um tiroteio e faça o que você já tentou fazer, entre no meio dos tiros e faça um favor tanto a você quanto para nós- diz com uma certa rouquidão e frieza. 

Dou uma última olhada para ela, mas ela já está dentro do carro colocando um óculos de sol no rosto. 

Meu tio se vira e começa a andar em direção ao carro, enquanto eu ainda estou paralisada na mesma posição. Fico os observando chocada e magoada por minha tia ter tocado em um assunto tão delicado para mim. Ele entra no carro e poucos segundos vão embora. Me viro ainda assustada com o barulho dos tiros e começo a andar em uma direção qualquer com pressa de me afastar daqueles homens. Entro em umas ruas e subo cada vez mais em esperança de achar um lugar um pouco mais calmo pra conseguir pensar sobre o que eu vou fazer agora, mas quando estou no meio da subida, aparece um monte de homens com coletes e grandes armas  e facas mão. Eles atiram cada vez mais a cada segundo que se passa, eu saio correndo e tropeçando em busca de algum lugar mais seguro, por mais que isso seja praticamente impossível. Chego até perto de uma grande casa branca com um jardim bonito e dois bancos de madeira encostados na  parede de frente da casa,  quando olho melhor para ela vejo que ela é bem bonita. Como forma desesperada de procurar alguma ajuda começo a andar em direção desta casa com passos rápidos, mas a cada passo dado a minha visão vai ficando cada vez mais escura e minhas  pernas mais pesadas. Alguns segundo depois eu somente sinto o baque forte contra o chão e algum dizendo:  " Leva ela pra casa do Gu" e apago.

Flashback off

Ao abrir totalmente os olhos eu me deparo com pelo menos umas dez pessoas na minha frente e todos estão me observando, o que me deixa um pouco assustada e um tanto desconfortável. Olho em volta e não reconheço o lugar onde estou mas se parece com uma sala de estar, é bem bonita e com tons de cinza chumbo e branco, juntamente de alguns enfeites da mesa central e nos armários. Até tento me levantar, mas me sinto um pouco zonza e volto a me sentar no sofá em que estava deitada. Fecho os olhos, mas logo em seguida os abro quando sinto um toque leve no meu ombro. 

- Toma um pouco de água - disse a menina me estendendo um copo de vidro cheio de água até a metade.

Eu- Ah, obrigada.- disse pegando o copo e o direcionando com cuidado em direção de minha boca

Ela sorri e diz:

- Eu sou Rafaela, mas pode me chamar de Rafa- ela diz com um sorriso simpático.

Eu- Eu sou Manuela- digo sorrindo timidamente e me levantando sentindo minhas um tanto bambas.

Rafa- Vou te apresentar o pessoal!- ela diz me puxando em direção do grupo de pessoas que estão paradas no meio da sala nos observando.

Rafa- Bom, esses são Matheus, Leonardo, Guilherme, Gabriel, Luisa, Larissa, Gabriela e Bruno.- diz apontado para cada pessoa ao falar seus respectivos nomes.

Eu- Oi.- digo acenando timidamente.

Guilherme-Como você veio parar aqui?- diz me olhando sério.

Eu- E-eu...eu f..-quando vou dizer sou cortada por uma voz feminina que diz:

Larissa- Cala boca, ela acabou de acordar! Deixa isso pra depois.- ela diz dando um leve tapa no braço do garoto.

-Na verdade vamos deixar isso pra agora.- diz um garoto bonito entrando pela porta principal da casa.

Ele tem os braços e mãos tatuados, um piercing prateado na sobrancelha e olhos verdes tão intensos que são capazes de ver a distância. Ele carrega uma arma em cada mão, mas ao chegar mais perto ele as deixa em cima do balcão da cozinha.   

Gabriela-Meu Deus! Que bom que você tá bem!- diz a garota enquanto corre em direção do garoto e o abraça.

Após se abraçarem eles vem em nossa direção. O olhar frio que seus olhos verdes carregam me causam arrepios na espinha e um desconforto, fazendo minhas mão suarem e me deixando inquieta. 

-Vamos fazer as coisas certas.- sua voz grossa está um pouco rouca e não tão alta- Meu nome é Gustavo, eu sou o dono desse morro, e eu quero saber agora como você veio parar aqui.- ele diz enquanto olha tão fundo de meus olhos que parece até ler minha alma.

Respiro fundo, começo a me lembrar dos tiros, das palavras e forma que meu tios me trataram. Um bolo de palavras se forma em minha boca, chega até a ser sufocante. Sou tirada de meus pensamentos por alguém a me chamando.

Gustavo- Se você não me dizer nós não vamos conseguir te ajudar.- sua voz agora já está mais suave, mas seus olhos continuam atentos. 

Eu até tento, realmente tento falar o que aconteceu, mas as palavras não saem de minha boca.

Eu- Eu... eu não posso.- digo me sentando no sofá- Desculpa.

Ele olha para cima respirando fundo e então me diz:

Gustavo- Você não pode nem ao menos me dar uma dica?- diz dessa vez me olhando com um certo carinho?

Eu- Bom, digamos que eu sou um problema.- digo dando de ombros.

Ele balança a cabeça e me diz:

Gustavo- Olha você pode ficar aqui até as coisas se resolverem tá?- diz tocando no meu ombro e sai do local com passos largos. 

Assinto e murmuro um "Obrigada".


Salvos pelo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora