capítulo 9

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                                                                          * Manu on * 

     Acordo sentindo o Sol aquecendo meu rosto, abro meus olhos mas a claridade faz com que eu os feche novamente de uma forma abrupta. Com uma certa dificuldade, eu lentamente me levanto. Assim que eu fico totalmente em pé, começo a sentir uma dor de cabeça terrível e sento na cama novamente. Penso em chamar alguém para me ajudar, mas pelo pouco que me lembro da noite anterior, me recordo que foi o Gustavo que cuidou de mim, então o chamo.

Eu- Gustavo.- me surpreendo pela forma baixa e rouca que minha voz sai.

Espero um pouco e ao ver que ele não aparece, penso na possibilidade de eu estar sozinha na casa. Tento me levantar novamente, mas dessa vez mais devagar. Sinto uma leve tontura ao levantar, mas consigo andar na direção do banheiro me apoiando nas paredes e móveis. Escovo meus dentes e saio do quarto, indo ainda meio cambaleante, em direção às escadas. Quando chego na escada, vejo Gustavo na cozinha concentrado fazendo algo. Por conta de minha grande curiosidade de saber o que ele está fazendo, começo a descer as escadas com pressa, fazendo com que Gustavo note a minha presença rapidamente. Ele começa a vir em minha direção, mas eu não paro de descer os degraus. Ao chegar no último degrau, percebo que devia ter os descido mais lentamente, pois tropeço em meus próprios pés. Quando estou quase chegando ao chão, sinto Gustavo pegando firmemente em minha cintura e ajudando a me equilibrar. 

Gustavo- Você tá bem? 

Eu- Sim, só estou com dor de cabeça.

Ele afirma com a cabeça e em seguida diz:

Gustavo- Vem, vamos tomar café. Você precisa comer.- diz e me puxa em direção à mesa.

Chegando perto da mesa de café, observo e fico pasma com a quantidade de comida que tem. Me sento em uma das cadeiras e me acomodo. Estendo minha mão direita e pego uma torrada, uma coloco em meu prato e corto uma fatia de queijo branco, colocando-o em cima da torrada. Gustavo senta na cadeira em frente a minha e me entrega um comprimido juntamente de uma xícara que contém café preto. Apanho ambas as coisas, coloco o comprimido na minha boca e o engulo com um grande gole de café. Após tomar o remédio, eu pego a torrada. Enquanto a direciono para minha boca, a porta de entrada é aberta em um estrondo, assustando a mim e ao Gustavo, que rapidamente põe a mão atrás das costas, como se ele estiver pegando algo, mas ao ver que as pessoas que abriram a porta são todos do grupo volta a sua posição inicial.

Eu- Bom dia.- digo com um sorriso gentil.

Todos- Bom dia.

Estranho a forma com que eles falam e me atrevo a perguntar:

Eu- Vocês estão bem?

Eles se entre olham e Rafa diz:

Rafa- Bom, nós queremos conversar com você.

Eu- Claro, sobre o que? Se for sobre a festa, olha eu acho que eu ir pra lá ontem não foi uma das melhores ideias do mundo.

Rafa- Não, não é sobre a festa. É sobre umas coisas que queremos te perguntar desde que você chegou aqui.

O meu sangue gela.

Eu- E o-oque seriam essas coisas?

Gustavo- Rafa, para.- ele a repreende.

Gustavo vem andando em minha direção e quando ficamos frente a frente ele pergunta:

Gustavo- Não sei se você lembra de ontem a noite, mas você me fez prometer que eu te levaria pra sorveteria hoje.  Julgando pela sua dor de cabeça, eu acho que você não vai querer sair agora, né?

Concordo com a cabeça e ele ri.

Gustavo- Você quer que eu vá na loja e compre uns sorvetes pra você? - ele pergunta. 

Eu dou um sorriso tímido e ele ri novamente.

Gustavo- Já entendi o recado-ele diz rindo.

Ele se vira vai em direção à entrada da casa, pega a chave do carro e a carteira no balcão que tem perto da porta. Assim que ele sai, penso que me livrei do interrogatório que estava prestes a acontecer, mas percebo que estou errada quando ouço Rafa falar.

Rafa-Bom, continuando, nós queremos saber umas coisas, que são ... O por que de você estar aqui, porque você apareceu aqui do nada, e principalmente, o porque de você sempre dar uma desculpa ou fugir sempre que te perguntamos algo.

Ao ouvir as perguntas, eu involuntariamente prendo minha respiração.

Eu- E-eu ... eu- tento responde-la mas não consigo dizer nada.

Guilherme- Você o que?

Eu- N-não sei se consigo falar sobre isso- digo baixinho.

Lucas- Tá vendo? Lá vai ela fugir das respostas de novo!

Sinto meus olhos encherem de lágrimas.

Rafa- Vai Manu, se você responder vai ficar tudo mais fácil.

Eu- Eu não consigo- digo quase em um sussurro. 

Lucas- Vai! Desembucha logo menina! - grita.

Me assusto ao ouvir o grito e sinto lágrimas rebeldes rolando pelo meu rosto. Começo a chorar incontrolavelmente, fico em posição fetal e grito. 

Eu- Eu não consigo!

Me endireito, olho para todos na minha frente e me deparo com afeições assustadas. Sussurro um "desculpa" e saio correndo em direção da escada, subindo os degraus rapidamente.

Rafa- Manu! Volta aqui!

A ignoro. Chego no meu quarto, bato a porta com força e a tranco. Estou desesperada andando de um lado para o outro, eu estou realmente me esforçando para não fazer nada, mas isso se torna mais difícil a cada pensamento que tenho. "Você não é um peso na vida de todo o mundo!";  "Deveria estar morta! Na verdade, você não deveria nem ter nascido." ; "Faça logo o que dever
! ". Sinto uma dor no peito quando eu realmente me dou conta do que eu vou fazer, mas ao mesmo tempo um certo alívio, pois não serei mais um peso na vida de ninguém, não terei que ouvir que não sou suficiente, nunca mais essa sentir dor que sinto todos os dias em meu coração, a dor de uma pessoa que somente deseja ser feliz e não sentir mais dor. 

     Abro a gaveta e pego a navalha que havia escondido ali desde a última vez que me cortei. Como se minhas pernas não aguentassem mais me sustentar, eu caio agachada no chão e sinto uma forte dor em meus joelhos. Não demoro em fazer o primeiro corte, é um corte fundo, com isso sai bastante sangue. Me lembro de um momento da minha vida a cada corte dado, como a maioria dos momentos que me lembro são tristes ou ruins, isso só colabora com que eu me corte ainda mais. Já estou gritando de dor enquanto choro, sinto uma um tontura muito forte e por impulso que eu faço mais um corte fundo. Sinto como se meu corpo não conseguisse me sustentar mais e caio deitada no chão. Ouço Gustavo bater fortemente na minha porta e gritar meu nome, tento o responder mas não tenho efeito, a única que eu consigo fazer é chorar. Durante uns dois minutos, um grande silêncio ocorre no quarto, eu começo a prestar atenção nas minhas lágrimas se misturando com a poça de sangue que está no chão, sinto minha visão ficar escura. A última coisa que eu ouço é um grande estrondo na porta, mas a última coisa que penso são aqueles olhos verdes esmeralda e aquele sorriso. 

Salvos pelo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora