O sol começava a nascer. Pela janela do seu quarto Oliver observou os primeiros movimentos matinais da cidade de Theodosia. Era como se as ruas começassem a ganhar vida. Lentamente tomadas por trabalhadores das mais distintas origens e nacionalidades.
Ele já havia presenciado a beleza e opulência da capital da província, mas era a primeira vez que observava tudo do alto e de uma vista tão privilegiada tudo ficava ainda mais espetacular. Enquanto se perdia em seus próprios pensamentos, ao seu lado, algumas senhoras desconhecidas cuidavam da sua bagagem, embora tivesse insistido, o barão havia se recusado a deixá-lo fazer as malas sozinho.
Oliver respirou fundo buscando armazenar no profundo da sua consciência cada toque sensorial daquele magnífico lugar. Era como está sonhando, na verdade era bem melhor que qualquer sonho que já havia tido. Havia sombras em sua nova vida, mas elas eram de alguma forma ocultadas pelas novas companhias.
Apesar de tudo isso, nada tirava de sua cabeça que haviam coisas que seu pai escondia dele. Era como se o cenário ao seu redor não fosse exatamente real, como um palco montado para parecer minimamente habitável. Ele não havia comentado nada com ninguém, mas tinha pesquisado sobre Kiev na internet, procurando por respostas para perguntas que temia fazer aos mais próximos.
Havia encontrado pouca informação, alguns incêndios e brigas de grupos criminosos com dezenas de mortos justamente nos dias que ele e seu pai haviam visitado a capital da Ucrânia. Embora uma parte dele tivesse medo e um pouco de vergonha, a outra agradecia por ao menos ter tido a oportunidade de proteger alguém próximo.
Será que sentiriam sua falta? Será que ele sentiria falta de todos eles? Será que seu pai o esqueceria depois de tudo?
— Vendo essa cena, percebo que a melhor coisa que aconteceu foi você ter sido criado por mim. Longe de tudo isso — comentou Dona Rute entrando no quarto.
— Por que? — perguntou Oliver, deixando de lado seus devaneios.
— Porque na ânsia por te dar uma vida de príncipe, seu pai poderia acabar criando um pobre soberbo, que tudo que teria seria dinheiro — disse Dona Rute.
As palavras da avó pegaram Oliver de surpresa. Eram duras, mas carregavam um fundo de verdade.
— E você meu neto? Como está se sentindo?
— Bem.
— Apenas bem?
— Sim.
— Não está feliz de voltar para casa depois de tanto tempo? Rever seus amigos?
— Nunca tive muitos amigos para sentir falta... — sussurrou Oliver voltando a olhar para a janela.
Dona Rute enrolou o xale florido ao redor do pescoço e tocou o ombro do neto. Preferia não comentar, o garoto já parecia estar sofrendo bastante.
— Sei que vai ser difícil deixar tudo isso para trás... Sei que você está confuso... Mas vai ser apenas por um tempo.
Oliver virou para a avó e acenou com a cabeça pedindo permissão para sair. O jovem caminhou pelo corredor, desceu as escadas e finalmente encontrou a cozinha. Maryna estava sentada com os cotovelos apoiados na mesa, a neta da governanta que revisava alguns cadernos enquanto mexia o cereal como se não quisesse comer. Seu rosto era triste e Oliver sabia que em boa parte a culpa disso era dele.
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O Filho do Barão [COMPLETO]
General FictionOliver sempre soube muito pouco sobre o pai, sua única informação se resumia ao fato dele ser um estrangeiro que engravidou sua mãe e desapareceu sem deixar rastros. Após anos desaparecido seu pai ressurge de maneira inesperada e em um momento de g...