O sangue cinza nos teus lábios empoeirados.

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               Há algo me devorando, sinto os dentes no meu pescoço, tolhendo-me toda vitalidade fugaz de minha débil carne.

               A fraqueza parece tomar conta, até meus dedos estão fadigados, tudo pesa, tudo esta cinza. A visão está embaçada, não dá para ver o horizonte a minha frente, será que estou perdido?

               Parece mentira, uma ilusão, um sonho ou uma brincadeira de mal gosto que não quer acabar. Como se estivesse vivendo uma memória antiga e já distorcida pela sazonalidade das ondas temporais. Sabe aquele sentimento de já ter vivido esse mesmo dia 500 vezes? então...

               Antigamente eu costumava estar sempre carregado de palavras para falar, cheio de ideias, mas não somente isso. O que tinha valor era a vontade de compartilhar minhas ideias, tempo e palavras, porém isso se perdeu.

               Tanto tempo em silencio te faz esquecer as palavras, te faz perder a dicção, as palavras ficam velhas e sem sentido, por isso tu se refugia no silencio. Embora a vida humana te obrigue a falar, não são palavras significativas, apenas corriqueiras e sem valor, não expressam nada.

               Tua verdadeira essência esta na partilha, não apenas do pão, mas da fantasia, da imaginação, das ideias e da paixão, porém a corrente esta contra ti, e no começo você luta contra, entretanto, conforme fica cansado acaba sendo levado um pouco para traz até recuperar o folego, então você volta a persistir em ser você mesmo, nem que seja dois passos a frente, são os teus passos e não deles.

               Estranhamente com sono, o tempo todo, isso é realmente estranho, é como se fosse uma força além da carne te puxando, te prendendo, como uma mosca no chiclete. Então ele toma conta das tuas ações, tudo acaba ligado a isso, pois você está cansado demais para tudo, e deixa seguir por essa nevoa que te cega, e quando toma ciência, já está deitado a milênios, todos se foram e tudo passou, enquanto você se acovardou, perdeu a batalha para si mesmo.

               Você se pergunta, se te ouço enquanto durmo, você chora roucamente. Ninguém escuta, ninguém vê, deita-te e dorme também, em algum outro dia você vera que foi apenas devaneios noturnos, é somente o desespero de tua alma tentando interagir com a lua.

               Os conflitos começam quando percebe que está isolado, as pessoas te fazem parecer radical, pois teus gostos não se limitam ao que a grande maioria se agarra. Então, sozinho, você e suas quinquilharias, percebe que não precisa abrir mão, porém não faz tanta diferença deixar tuas coisas para traz, pois veja, você já deixou muita coisa e nem percebeu, então da pra seguir em frente.

               Você já passou pelo passo mais difícil, que é reconhecer a tua verdade, tua natureza melancólica e solitária, e aprendeu também a hora certa de renegar um pouco de ti. Daqui para a frente tu tem que se acostumar com a ideia de que tudo pode ficar pior, e ir se preparando, sempre tenha cartas na manga, sempre tenha um argumento cunhado na razão, esta é tua maneira de estar à frente.

Devaneios Obscuros e Outras ReflexõesOnde histórias criam vida. Descubra agora