Devaneios Obscuros

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Tua carne em decomposição, junto ao mundo sombrio, 

Este mundo já corrompido, onde a esperança é vazia. 

Resta apenas decadência, covardia e ignorância, Em poças d'água suja, reflete-se tua perturbada fragrância.


Pessoas cegas, narcisismo na poça a se espelhar, 

Beleza escapa, a ciência não pode desvendar. 

No ar, o odor de sangue e urina, cena sombria, 

Mendigos celebram um banquete de ratos, agonia fria.


O céu negro, maravilhoso, traz memórias do passado, 

Teu sorriso sórdido e macabro, a sombra do malvado. 

Teus olhos brilham como fogo, bruxuleante e sinistro, 

Queimaste minha débil carne, foste o artista sinistro.


Teus lábios rubros, dádiva das musas da loucura, 

Seduzem homens, envolvem em amargura. 

Eu, tolo, me entreguei ao teu calor enfeitiçante, 

Ceifaste minha alma, num ato perturbante.


Fui de encontro aos teus braços, em paixão me afoguei, 

Tu levaste minha identidade, deixando-me desprovido. 

Não sei o que levaste, até esqueci o que eu era, 

Apenas uma ideia de mim, ou era eu de verdade?


Não posso odiar, não posso maldizer, 

A ti, que levaste meu coração, não posso esquecer. 

Não posso chorar, nem rir, olhar para trás, é verdade, 

Cansado demais para reclamar, só resta a saudade.


Somos uma mistura de carne, vida e mente, 

A carne apodrece, a vida se apaga, mas a mente está presente. 

O vazio é nossa natureza, aceitação é a chave, 

Na singularidade da mente, a verdade se gravará.


O que te levou a fumar um cigarro pela primeira vez? 

Era morena de olhos afiados, cabelos lisos como fez. 

Nicotina em seus lábios, sedução em sua voz, 

Tua memória é agora a mistura de mel e algo atroz.


Na solidão, na volta ao ser primordial de mim mesmo, 

Adoro a lua sozinho, nas ruas escuras, o sopro do abismo. 

As lobas vêm, mas já não sou o mesmo lobo de outrora, 

Apenas um velho, ferido, com pedras para devorar agora.


É culpa minha, não nego, mesmo assim não abdicarei,

Minha moral resoluta, meu peito sólido, frieza que herdei. 

Teu calor deixou apenas cinzas, aceso por um tempo, 

Agora, minha essência é somente o carvão que o tempo.


História triste, o gosto do proibido é meu segredo, 

Desafio, luta, conquista, o prazer que tenho medo. 

Quanto mais frio e duro, melhor, a paixão inumana, 

Risada vil do vilão, encerra-se a cena insana.


Assim é a crueldade da realidade que nos envolve, 

O destino, a maldade, a vida que devolve. 

Neste mundo sombrio, sob a lua inóspita e fria, 

Devaneios obscuros, uma dança de agonia.

Devaneios Obscuros e Outras ReflexõesOnde histórias criam vida. Descubra agora