Ode ao Luar.

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Dois séculos de banhos prateados sob o luar, 

Transformaram teu sangue em mercúrio, a dançar. 

Tua lágrima, agora tóxica, não mais desce, 

Será por não haver mais motivo, ou é uma nova prece?


Tua pele, outrora viva, agora é pálida e fria, 

E tua vida, teus passos, vagos na agonia, 

Teu sorriso, outrora brilhante como a aurora, 

Agora é apenas uma sombra, uma tristeza sonora.


Às vezes, alguém estranho te indaga, curioso, 

Como suportas a solidão, com ar misterioso. 

Tu explicas, não há solidão, somente solitude, 

Não sou eu que perco sabor, é o mundo, sem virtude.


Sob o silêncio do luar, teu companheiro noturno, 

O abismo, uma sinfonia, é um antigo taciturno. 

No passado, tu fugias, tentavas mentir em vão, 

Mas ele nunca partiu, só ignoraste sua canção.


Compreende agora que esse vazio é tua essência, 

Inalterável, não subjugável, é tua existência.

Não mais uma prole, aceitas a verdade crua, 

A dor da canção, a dança, na melancolia nua.


Tarde ou cedo, o abismo te devora ou te eleva, 

Negar tua natureza só torna a dor mais breve. 

Aceita, pois no vazio também há beleza a encantar, 

Num dueto com o abismo, tua alma a dançar.


O abismo, ora tempestade, ora calmaria, 

E tu, em tua jornada, encontras tua via. 

Aceita, pois é na aceitação que a paz aflora, 

No abraço ao vazio, tua alma se restaura.

Devaneios Obscuros e Outras ReflexõesOnde histórias criam vida. Descubra agora