Caía.
Apenas caía.
Caía pelo infinito, estrelas vermelhas de sangue passando furiosamente ao seu redor, rastros de pequenas gotas vermelhas espirrando nela.
Tentou fechar os olhos, mas não conseguiu. Eles permaneceram abertos como que devido a uma estranha força.
E então, sentiu-se bater contra a superfície instável e líquida de algo, afundando lentamente. Primeiro, pensou que era água, mas ao olhar ao redor, viu-se no meio de um lago de sangue que a tragava cada vez mais para si. As estrelas de sangue que revoavam ao seu redor saíam dali, pulando para o alto e perdendo-se no vazio avermelhado que era o infinito.
Tentou mexer-se, mas não conseguiu. Sentia o sangue infiltrando-se cada vez mais e mais em suas roupas, seu cheiro enjoativo, a ameaça silenciosa do que quer que fosse.
Seus braços e pernas pareciam chumbo. E continuava sendo tragada, cada vez mais afundando em escuridão. Por um instante, esperou que Adrien ou Ruby aparecessem para salvá-la, mas ninguém apareceu, e continuou afundando cada vez mais.
Já sentia o sangue alcançando sua boca e as narinas. Puxou o máximo de ar que conseguia sem puxar sangue junto, e então prendeu a respiração. Logo só lhe restava a testa acima, e continuou afundando mais e mais, o longo cabelo movendo-se ao redor de seu rosto e ombros numa lentidão que a lembrava de algas no fundo do rio.
Algumas bolhas de ar escaparam, e conforme a agonia aumentava, a velocidade com que tais bolhas escapavam também aumentava. Odiava a sensação de que cada vez mais se afastava da superfície.
De repente, o sangue ao seu redor sumiu, e começou a cair rapidamente, afastando-se do céu de sangue cada vez mais rápido, suas roupas ainda ensopadas dele.
Caiu em algo duro, sentindo seu corpo dolorido e o concreto rachar abaixo de si. Sentiu alívio por ver que conseguia mover-se. Mas quando sentou-se, quem estava diante dela, com um sorriso insuportável e idiota, era Louis, e não qualquer pessoa que ela esperava encontrar.
Ele começou a andar em sua direção, e Arely começou a recuar, sem levantar-se, arrastando-se pelo concreto rachado. Louis pareceu achar graça, sorrindo de forma ainda mais insuportável e maliciosa. Arely só parou de recuar quando sentiu uma parede barrar-lhe o caminho. Franziu as sobrancelhas para o rapaz, cujo sorriso apenas aumentou.
— Olá, queridinha. Sentiu minha falta? – Louis abaixou-se à sua frente, estendendo uma das mãos para tirar uma mexa molhada de cabelo de seu rosto, mas recuou-a quando Arely desviou de seu toque.
— Nunca sentiria sua falta, Louis. Você é um dos seres mais desprezíveis que passou pela minha vida. – semicerrou os olhos, querendo mais do que nunca socar Louis, mas era óbvio que estava em desvantagem ali. Não era ela que controlava aquele sonho. Era ele, tinha certeza. – O que quer comigo?
Louis piscou, parecendo surpreso por um instante, sem o enorme sorriso de dentes brancos e caninos pontudos à vista. Mas então o sorriso voltou, e era ainda pior, porque a garota tinha certeza de que os dentes estavam manchados de sangue.
— Ah, nada demais, Lyzinha... – Arely quase fechou os olhos de tanto que os semicerrou com o apelido. –Só... Digamos que você tenha... Hmmm... “Poderes” que deveriam surgir quando você fizesse dezesseis anos... – Louis aproximou-se um pouco. Arely começou a sentir como se milhares de agulhas estivessem sendo fincadas em seu corpo: pés, pernas, braços, tudo. Tudo começou a doer e latejar de repente, como quando ele mexera em sua memória. Como reflexo, tentou socar Louis, certa de que ele era o motivo daquilo, mas antes que seu punho fechado encontrasse seu rosto, o Vampiro segurou-o e o apertou, até que os olhos da garota lacrimejaram com a dor que foi acrescentada ao resto. – E digamos que esses “poderes” estejam despertando antes da hora... E que o que vamos fazer com você vai apagar de sua memória boa parte de tudo que aconteceu antes disso... Preciso saber com o que você sonhou e se ouviu algo como... Vozes ao pé do ouvido... – Louis sorriu apenas de leve em sua direção.
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Arely A Mensageira - The War I
Werewolf"Você enfrentaria seus piores medos, se esse fosse o preço de sua sanidade?" Há milênios, a Guerra é travada. Uma Guerra que visa impedir que outro Inferno surja, devastando a vida e toda a criação. Por vezes, peças fundamentais à Guerra nascem entr...