JURAR

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E assim passou-se uma semana.

Os pais de Arely quiseram ver as supostas queimaduras, mas, felizmente, Ruby tinha ficado até mais tarde e pensou rápido, livrando seu pescoço, alegando que era melhor expor os ferimentos apenas para trocar os curativos – e, de fato, era melhor fazê-lo apenas nesse momento.

Ruby estava ali todos os dias, trocando os curativos, acompanhando a humana desde o colégio: almoçava, lanchava e jantava na casa dela, fazendo juntas as tarefas e trabalhos, trocando ideias e conversando sobre jogos. Arely admitia que sentia falta daquela cumplicidade que ambas vinham compartilhando. E o fato de Louis ter parado de ir ao colégio melhorou seu humor de forma visível.

No entanto, a Lycan notou algumas coisas incomuns em relação aos cortes, principalmente por se tratar de uma humana, quando a semana chegou ao fim. Apesar da profundidade, da grossura e do comprimento dos cortes, em momento algum sangraram como deveriam, especialmente com a ausência de pontos. Tinha percebido isso quando eles surgiram, mas não tinha dado importância. Mas agora, vendo ela movimentar os braços – desde o cotovelo até a ponta dos dedos – como se estivesse tudo bem, sem sentir dor alguma, e o fato de que os cortes pareciam precisar de apenas mais uma semana, no máximo duas, para cicatrizarem completamente, fez Ruby ter certeza completa de que havia algo mais em Arely. Aquele ritmo era rápido demais para um humano, em se tratando de cortes tão fundos.

Mas não comentou nada. Tinha certeza que acabaria assustando a garota, e já bastava a preocupação que ela demonstrava consigo ao perceber como Ruby estava tensa: ela ainda não tivera a oportunidade de falar com seu irmão. Durante o dia estava ao lado de Arely, e à noite era ele que liderava o grupo que a vigiava. Mas saber que durante o fim de semana a vigia seria liderada por Matheus fez com que parte daquela tensão se esvaísse. Allan estaria tranquilamente em casa, descansando e recuperando as energias gastas.

E, mesmo com a cabeça já cheia de coisas, ela percebeu as olheiras que sutilmente começavam a se destacar no rosto da humana.

Perguntou se estava tudo bem, e ela sorriu, dizendo que eram apenas surtos criativos – a garota gostava de desenhar, sabia disso, e os poucos desenhos que conseguira ver, eram lindos, mesmo no estágio de esboço.

Arely não contou sobre os pesadelos que a mantiveram acordada e desenhando apenas para passar o tempo. Não eram como os que tinham lhe atormentado até segunda de manhã: absolutamente nenhuma relação com o episódio da infância que quase a matou. Eram... Diferentes. Diferentes e, de alguma forma, mil vezes mais assustadores.

Todos traziam aquela mulher de cabelos negros e olhos azul-claro. Aquele olhar azul que lhe dava arrepios... Eram como um lago de aparência suave e rasa, mas que bastava você se distrair para tragá-lo para suas profundezas mais obscuras. A assombrava mais que o olhar de Louis.

Nem sempre aquela mulher falava. Mas sempre aparecia. Uma presença constante, com seus olhos postos sobre sua figura, um sorriso irônico, sarcástico, maldoso e satisfeito dançando nos lábios tão vermelhos em contraste com a pele pálida.

E em todos, por alguém ou apenas uma voz ecoante, ela era chamada de Amaldiçoada e Corvo-Branco da Tempestade. Várias vezes, era aquela mulher que dizia aquelas palavras.

Ela não sabia o que mais a assustava: não ter ideia do que aquelas coisas significavam, ou o fato de que vinham se repetindo quatro dias à fio, lhe arrancando o precioso sono. Definitivamente, um sonho que vem se repetindo não é algo bom. E não era o seu lado racional que gritava isso, era o seu lado espiritual, ainda mais por lembrar-se dos sonhos da semana anterior à mudar-se para Goiânia. O que complicava ainda mais as coisas.

Além disso, durante aquela semana, sentia aqueles estranhos “dons” que lhe falavam sobre verdade e mentiras, sobre futuro, intenções e todo o mais, se intensificaram. Sentia-os mais fortes, e com isso, sentiu a sensação de que seus pais iam se separar mais forte ainda, além da confiança por Ruby aumentar – embora tudo em si gritasse para não falar sobre os pesadelos.

Arely A Mensageira - The War IOnde histórias criam vida. Descubra agora