Interlúdio: PACTO

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“Pray to the gods I have sold in this game of live and let die

Pray for my soul in this world to deliver me from my sins

Pray...”

 

“Reze aos deuses que eu vendi neste jogo de viver e deixar morrer

Reze por minha alma neste mundo para entregar-me aos meus pecados

Reze...”

 (Blood on My Hands, Xandria)

 

Suspirou de modo quase aliviado ao ver o irmão correr. Acabara de ver o pai morrer pelas mãos – ou dentes – daquelas aberrações, não suportaria ver também o irmão e a mãe destroçados daquele jeito. Podia ter se jogado para a morte, mas levaria muitos daqueles monstros com ele.

Sentiu dentes afiados se encravarem em seu ombro. Uivou de dor, dando uma cotovelada no monstro que se aproximara pela retaguarda. Sentiu um pedaço de carne ir junto quando os dentes o abandonaram. Com um grito de guerra, virou-se, o machado fazendo um corte “limpo” ao arrancar a cabeça do corpo.

Cinzas começaram a acumular-se aos seus pés, mas mais rápido ainda os monstros se acumulavam ao seu redor. Eram muitos. E ele era apenas um rapaz humano.

Praticamente não sentiu quando vários alcançaram seus braços, sugando cada vez mais de si, puxando-o para baixo e o subjugando. Um deles, que parecia ser o mais velho do bando, aproximou-se. Pouco sangue manchava-o, apenas respingos. Havia algo nele que dizia a Adrien que era alguém muito mais velho do que sua mísera aparência de vinte e poucos anos dizia. O cabelo preto estava cuidadosamente arrumado como se ele fosse da realeza. Até suas roupas diziam isso. E Adrien engoliu uma respiração afiada quando os olhos cinzentos tornaram-se vermelhos como vinho-tinto. Sorria de modo satisfeito, caninos pontudos aparecendo.

O rapaz sentiu quando os monstros pararam de sugar seu sangue, à um sinal de mão do homem. O homem acenou a mão de novo, e uma mulher ensanguentada com os olhos vermelhos furiosos aproximou-se, puxando alguém pela gola da blusa. Adrien sentiu pavor ao ver o irmão gêmeo, com o rosto apavorado como se tivesse voltado a ter oito anos de idade e tido um pesadelo. Tentou erguer-se, mas apesar de os monstros não estarem mais alimentando-se de seu sangue, ainda o seguravam e tinham apertos de aço em suas mãos. E estar tão malditamente exausto não ajudava.

O homem olhou para Louis e então para ele, parecendo satisfeito. E então, parou o olhar no rapaz ensanguentado.

— Então, meu rapaz... Você tem futuro... – chutou as cinzas aos pés de Adrien. – Preciso de rapazes fortes como você no meu exército... Estaria disposto a unir-se à mim? – a resposta de Adrien foi cuspir o sangue em sua boca na mão estendida do homem. Ele pareceu não ligar, balançando a mão para a mistura de sangue e saliva sair. Balançou a cabeça de modo desapontado. – Uma pena. – virou-se e começou a andar, a mulher que segurava Louis o seguindo junto com outros monstros. – Acabem com ele! – falou quando estava a certa distância. Adrien pode ouvir a voz do irmão, tão parecida com a dele, gritando.

— NÃO! VOCÊ PROMETEU POUPÁ-LO SE EU FOSSE COM VOCÊ! ADRIEEEEEN!!!! – a forma abrupta como a voz de Louis parou indicou ao gêmeo que provavelmente tinham batido em sua cabeça para ficar quieto e agora o rapaz estava desmaiado.

Adrien riu.

Riu de um modo como apenas alguém que sabe que está diante da morte pode rir.

Arely A Mensageira - The War IOnde histórias criam vida. Descubra agora