SENTIR

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Ruby fuzilou Adrien com os olhos cinzentos, ao que o Lycan apenas ergueu uma sobrancelha. Uma filhote querendo lhe fazer frente?

— Eu já te vi. No quadro do escritório do pai. – franziu as sobrancelhas, olhando-o, desconfiada. Então, ela era filha de Alexei? Provavelmente, a caçula. Longe de ser a Beta e nem sonhando em saber seu nome. – Por que quer se aproximar de Arely?

Foi a vez dele franzir as sobrancelhas, observando-a atentamente, como que procurando algo no fundo de seus olhos.

Como ela sabia? Nenhum Lycan, ainda mais um filhote, conseguiria adivinhar suas intenções com apenas uma ação. Ah, tinha mais dentro daquela cabeça ruiva, tinha certeza.

— Como você sabe? – a voz estava calma, baixa e rouca, os olhos brilhando perigosamente. Ruby sentiu um arrepio, enquanto pensava que ele nada fizera para ocultar suas intenções: não negara que tentava se aproximar de Arely nem nada assim. Apenas perguntara como ela sabia.

De algum jeito, tinha certeza de que ele não lhe faria mal, mas ainda assim, sentiu medo do que ele era capaz. Estava na frequência de seu espírito que ele era velho. Muito velho. Lycans não viviam tanto. Vampiros, Bruxos e Drachens, sim... Mas Lycans, não.

— Eu... Eu... Senti, assim como senti que devia me aproximar dela. – murmurou, recuando um passo. Os olhos de bronze líquido relampejaram com algo... Esperança, foi isso que ela viu?

Sentiu? Sentiu? Ela estava falando de sexto sentido. E Lycans não possuíam sexto sentido, algo diferente de puro instinto para eles. Sexto sentido era quase inútil para aqueles predadores perfeitos. E ela sabia disso. Sabia que não era uma Lycan comum, ou não falaria com tanta relutância.

Sexto sentido fazia parte do dom. Do dom que a Catedral dava aos seus escolhidos.

E há quarenta anos que um Lycan com o dom não surgia.

— Você tem o dom, não é? – abaixou um pouco, para olhá-la nos olhos, sussurrando, vendo-a arregalar os olhos.

— Do que você está falando? – perguntou, recuando mais um passo.

— Sexto sentido. Você sente que algo vai acontecer... Que alguém vai falar algo, geralmente. E já invadiu a mente de alguém, quando estava dormindo. Não foi intencional, provavelmente, mas invadiu. Os cheiros ao seu redor parecem cinco vezes mais fortes, e à noite as cores ficam mais brilhantes do que jamais estiveram. Se controlar com Vampiros e Bruxos por perto é dez vezes mais difícil. Você sente uma vontade quase irresistível de rasgar suas gargantas e se embebedar com seu sangue. A lua parece chamá-la com maior frequência e facilidade, e mesmo durante a lua nova é como se fosse lua cheia, porque a força da lua percorre cada célula de seu ser e a enche com seu poder. Fica muito mais forte do que jamais foi na lua cheia. Você sente o plano espiritual em suas veias, estremece quando percebe que um espírito atormentado passa por perto, sente quando alguém tenta invadir sua mente e o expulsa. – ele sabia que era verdade. Via pelo assombro de seus olhos a cada nova informação.

Aquele Lycan sabia por que ela era diferente. Lycans não podiam sentir o plano espiritual. Era algo desgastante, sabia pelos médiuns que conhecera – eles costumavam pedir abrigo aos clãs em troca de garantir que os Lycans mortos fizessem uma boa travessia. A lua nova diminuía a força dos Lycans. E Lycans nunca, jamais, invadiam a mente de outros, apesar de serem capazes, se treinassem. Consideravam uma enorme ofensa. E ela entrara, diversas vezes, acidentalmente, na mente do irmão quando irritada, e não tinha ideia de como, pois nunca fora treinada para tal. Ruby nunca se arriscara a falar com os pais, sequer com o irmão, em quem confiava mais que todos, sobre tudo aquilo, e discretamente pesquisara nos antigos manuscritos que seu clã possuía, atrás da razão para ela ser daquele jeito, mas suas buscas tinham sido infrutíferas. Sabia que era diferente, mas não demonstrava – muito. E agora, aquele Lycan que com certeza era mais velho do que seu bisavô jamais fora, sabia o que exatamente ela era.

Arely A Mensageira - The War IOnde histórias criam vida. Descubra agora