EXIGIR

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Uma brisa balançou seus cabelos, trazendo o cheiro do sangue humano em suas mãos direto para seu nariz, mais intenso e fazendo a sede se revolver em seu interior. Uma careta contorceu o rosto de Louis, os olhos brilhando no meio da noite densa no Bosque dos Buritis. Alguns metros à sua esquerda, uma jovem morta, a terra bebendo do sangue que escorria de seu pescoço e ombros e que ele desprezara.

Logo depois do que ocorrera com seu espírito, tanto a sede como a vontade de caçar tinham retorcido suas entranhas, exigindo obediência. Bastara ouvir as novas dos Bruxos, de que Arely fora vista em São Paulo, e a confirmação do que ele já sabia, que seus dons tinham despertado, para sair da casa, deixando a bagunça para o trio, alegando que o desmaio fora falta de sangue decente, direto da fonte.

E ali estava ele. A sede não saciada, mas com um corpo ainda quente próximo, a pele dilacerada por seus dentes e garras.

Virou os olhos azul-leitoso para a jovem, contemplando os cabelos castanho-chocolate, sem viço e quebradiços, a pele pálida cobrindo um corpo quase esquelético e os olhos castanhos arregalados numa expressão de puro terror. Marcas de agulhas acenaram de seus braços descobertos.

A sede era tanta que ignorou quando seu nariz lhe falou sobre o sangue contaminado, avançando em cima da garota de forma quase descuidada. E só depois que passou a cuspir o líquido com um sabor insosso de drogas que reparou nos traços da mulher.

Se colocasse mais carne nas bochechas e cor nos lábios, seria uma cópia quase perfeita de Arely.

Esfregou as mãos juntas num tique nervoso quando a imagem da garota lhe oferecendo o pulso invadiu a mente, sentindo uma súbita vontade de gritar de frustração e de derrubar todas as árvores do parque, especialmente quando ouviu um risinho identificado como de Elizabeth.

Apoiou a testa nas mãos, os olhos encarando a terra entre seus joelhos.

Não era burro. Sabia que não era o primeiro Vampiro a passar por algo do tipo, fosse uma maldição — a aliança entre Vampiros e Bruxos era tênue, e facilmente os que se alimentavam de almas amaldiçoavam os que necessitavam de sangue — ou algo natural — embora fosse extremamente raro e costumasse terminar num banho de sangue de pessoas similares e próximas ao alvo humano.

Não era "amor", como aqueles romancezinhos adolescentes de hoje em dia falavam. Era obsessão, doentia, do tipo "Se não posso ter, então, ninguém mais tem"; geralmente, tal sentimento era recíproco: o humano que atraía tal atenção costumava ter algo obscuro o bastante para torna-lo um excelente candidato a sobreviver a transformação, além de quase naturalmente procurar tal fato. Era algo destinado a acontecer, pode-se dizer. Mesmo nos casos de maldições.

Mas, Inferno, sentia pelas mariposas revoando em seu estômago que não era apenas uma espécie de chamamento por alguém cujo espírito era tão obscuro quanto o próprio. Com isso ele podia lidar. Isso não surpreenderia o trio de Bruxos que o esperava na mansão, não enfraqueceria sua liderança.

Elizabeth não lhe amaldiçoara com obsessão. Amaldiçoara com amor, algo que imaginou que nunca mais sentiria depois de sua transformação. Havia a obsessão, mas o outro sentimento também estava ali. Por vezes, a Bruxa infiltrava pensamentos e imagens sobre Arely em sua mente, muitos docemente obscenos, mas os que mais o atormentavam eram as que eles estavam lado a lado como um "casal feliz", governando uma Terra dominada por demônios a mando do Senhor do Inferno, os olhos dela de um tom puro de azul como o céu, mas com o característico brilho maléfico dos Bruxos. Os sorrisos que ela dava nessas imagens ao ver o sofrimento alheio fazia Louis querer entrar em definitivo nessas visões e beijar a Mensageira — uma Bruxa na visão — até deixá-la sem fôlego.

"Nunca a terá... Sabe disso..."

Ergueu a cabeça, os dentes rangendo, ao ouvir a voz de Elizabeth.

Arely A Mensageira - The War IOnde histórias criam vida. Descubra agora