Antes de seguir para o próprio quarto, Ruby parou na cozinha, onde sua mãe e sua tia lavavam a louça do jantar.
— Noite, mãe; noite, tia. – Aldina virou-se para ela, sorrindo de leve e enxugando as mãos no avental.
— Noite, filha. – beijou a testa de Ruby, e então passou a olhá-la de forma atenta e séria. – Ruby, você sabe que não devia se aproximar tanto da humana. Vão achar que está tentando influenciar as decisões dela, e por consequência vão culpar o nosso clã, que devia limitar-se a protegê-la. – Ruby girou os olhos. Devia imaginar que sua mãe diria algo assim. E Allan também diria, seu pai e todo o clã.
— Acredite, mãe, se eu não estivesse com ela, você já estariam vigiando um cadáver. – Aldina abriu a boca para falar, mas a garota ruiva não esperou nenhuma resposta, saindo da cozinha e seguindo para seu quarto.
Assim que abriu a porta, sentiu um imenso sorriso desenhar-se em seus lábios ao encontrar o irmão, deitado em sua cama e folheando um livro. Deixou a mochila e a blusa no canto, antes de se aconchegar ao lado de Allan, cujo cabelo estava molhado, caindo em pequenos e rebeldes cachos, nada do cabelo espetado por gel que ele costumava usar.
— O que está lendo? – Allan passou o braço por seus ombros, fechando o livro. Ruby fez uma carranca ao ver a capa de "Crepúsculo". – Você sabe que isso é lixo. Tenho certeza de que desde que esse livro saiu, os Sanguessugas estão se alimentando melhor do que na Idade Média... – Allan riu de leve, concordando.
— Além disso, a escritora não tem ideia de que tudo que eles querem é o fim dessa Terra como a conhecemos, e que nós, Drachens e alguns outros, somos os únicos em seu caminho... – ele murmurou, jogando o livro para debaixo da cama da irmã.
— Se algum Vampiro aparecer debaixo da minha cama por causa desse livro, eu acabo com você. – a Lycan replicou, franzindo a sobrancelha com as palavras de Allan. – O que você quer dizer com isso? – ergueu o rosto para poder observar o irmão, vendo seus olhos brilharem azuis por um instante. Seu rosto ficou ainda mais sério. Allan não demonstrava estar perto de se transformar tão facilmente. Tinha um autocontrole dos infernos nessa questão. – Allan...
Por fim, o rapaz respirou profundamente, parecendo em conflito consigo mesmo se devia ou não falar.
— Olha, mana... O que eu vou contar, você não devia saber, porque não vai ser a próxima Beta... Papa tinha me deixado bem claro pra não te contar, mas eu não suporto não contar algo pra você... Afinal, você é a minha voz da razão às vezes; mas, por favor... Não deixe ninguém saber que te contei o que vou contar. – Ruby mordeu o lábio inferior enquanto observava a expressão séria nos olhos verde-musgo do irmão mais velho. Semicerrou os olhos cinzentos, prevendo que a conversa que queria ter com ele teria que esperar.
— Pode começar. – suspirou, balançando a cabeça uma vez antes de voltar a se aconchegar no abraço de Allan, preferindo não olhar para seu rosto enquanto ele dissesse o que tinha de falar.
O Lycan sugou o ar profundamente antes de começar, lembrando de todas as vezes que vira os olhos da irmã faiscarem dourados. Devia ter falado para Alexei. Sabia que devia. O pai saberia como lidar com aquilo. Mas queria que fosse ele a falar aquilo que mudaria para sempre a vida da irmã. Porque sabia que a vida dela já tinha mudado demais quando um médium declarou que ela jamais poderia ser a próxima Beta, como devia ter sido.
— Houve um tempo em que Bruxos existiam apenas nos sonhos dos homens, e Vampiros, Lycans e Drachens lutavam lado a lado em um lugar chamado de Catedral. Esse lugar é uma dimensão à parte, mas não uma dimensão qualquer. É nela que todas as dimensões se encontram. É o ponto de Início e Fim de tudo, cada um de seus lugares destinado aos habitantes de uma determinada dimensão; ninguém sabe realmente o seu tamanho, quantas dimensões existem, quantas formas de vida... Alguns acreditam que lá é o lugar chamado outrora de Jardim do Éden... Lá, todos lutavam contra os Demônios que queriam abrir as Portas do Inferno para libertar seu senhor, para que ele pudesse destruir essa dimensão. Acreditamos que existam Portas em cada dimensão levando ao Inferno, e que cada uma é protegida por habitantes dessa dimensão, também escolhidos pela Catedral... Talvez algumas já tenham sido destruídas, talvez outras lutem ainda mais frequentemente que nós. Mas não havia apenas os soldados normais, que nós chamamos de Adeptos. Haviam os Velhos Líderes e Guerreiros. E os Observadores, nascidos entre Lycans, Drachens e Vampiros, que deviam encontrar esses Velhos Líderes e Guerreiros, nascidos entre os humanos aqui na Terra.
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Arely A Mensageira - The War I
Kurt Adam"Você enfrentaria seus piores medos, se esse fosse o preço de sua sanidade?" Há milênios, a Guerra é travada. Uma Guerra que visa impedir que outro Inferno surja, devastando a vida e toda a criação. Por vezes, peças fundamentais à Guerra nascem entr...