𝓓𝓮𝓳𝓪 𝓿𝓾 | 𝒫𝒶𝓇𝓀 𝒥𝒾𝓂𝒾𝓃

Estaca zero

São 8h da manhã, o telefone de Clara toca.

Era sua melhor amiga no telefone.

Clara: - Oi, Greta

Greta: - Clara. Eu tenho uma ótima notícia, há algum tempo eu mandei um email para uma analista francesa especialista em sonhos, e ela agora retornou meu email dizendo que tem um horário para você semana que vem.

Clara: - Mas como assim? Eu terei que ir até a França na semana que vem para me consultar com ela? Eu não falo francês, Greta!

Greta: - Claro que não sua boba, ele fala inglês então para você será tranquilo, já que é fluente. E não, você não precisa ir até a França ainda, ela te atenderá via chamada de vídeo, mas futuramente você precisará se consultar com ela pessoalmente.

Clara: - Então está bem, me mande os dados para que eu acerte os detalhes com ela.

Como Clara estava ocupada com a ilustração de um livro infantil, a semana passou correndo. Porém, isso não a isentou dos sonhos.

Na penúltima noite, ela estava novamente em frente a ponte, suas vestimentas eram modernas, mas simples, um tênis branco, calça jeans azul escura e uma camiseta branca sem estampas, seu cabelo estava preso em um coque. O rapaz, como sempre, estava do outro lado da ponte a sua espera, sua vestimenta também era moderna, porém, o oposto de Clara, tênis preto, calça jeans azul clara e uma camiseta preta, e desta vez, o rapaz estava ruivo. A história se repete, ele acena e sorri para ela, mas ela não vê seu rosto. Assim que Clara dá o primeiro passo, a ponte começa a se desfazer, e em questão de segundos, a ponte some completamente, e ela acorda.

Na última noite, ela estava em frente a ponte, usando um vestido preto com rendas nas mangas, seu cabelo estava solto e ela tinha algumas flores nas mãos. O rapaz estava de terno azul marinho, e cabelos pretos. Ele novamente acena e sorri para ela. Desta vez, uma criança vai até ele, sussura algo em seu ouvido, e ele sai correndo desesperadamente. Clara tenta atravessar a ponte e segui-lo, porém, ela não consegue se mexer como se estivesse amarrada com cordas invisíveis.

Os sonhos a perseguiram durante toda a semana, desde aquele fátidico dia, não há uma noite em que Clara não sonha com o rapaz do outro lado da ponte.

Enfim chegou o dia da consulta com a especialista.

As duas conversaram um pouco sobre o cotidiano, apenas para quebrar o gelo, e então começaram a tocar no assunto.

Dra. Louise: - Conte-me um dos seus sonhos mais recentes, Clara.

Clara contou sobre seus dois últimos sonhos em seus mínimos detalhes.

Dra. Louise: - Muito interessante! É raro entre meus pacientes alguém que lembre tão nitidamente de seus sonhos.

Clara: - Eu sinto como se não fosse um sonho. É como se eu de fato estivesse vivendo aquilo. Eu acordo ainda sentindo as emoções que tive em sonho, eu consigo sentir a brisa em meu rosto, quando chove eu sinto frio, posso sentir o cheiro do rapaz misterioso mesmo nunca tendo chegado tão perto dele.

Dra. Louise: - Você começou a ter esses sonhos depois de um acidente de carro, não foi? Foi uma experiência muito traumatizante para você? Me conte como foi?

Clara: - Era véspera de ano novo, eu e uma prima estávamos indo para a cidade vizinha buscar algumas mesas e cadeiras para a festa de fim de ano. Começou a chover, e ela acabou perdendo o controle da direção, e batemos em uma árvore. Minha prima teve apenas alguns arranhões, mas eu bati forte a cabeça, e passei três meses em coma no hospital, e foi durante o coma que tive meu primeiro sonho.

Dra. Louise: - Foi algo muito intenso, esse trauma despertou essas "memórias" do seu subconsciente. O fato de você sonhar com uma ponte simboliza o seu desejo de superar um obstáculo, você quer atravessar a ponte e passar a viver uma nova vida, deixando aquela que vivia do outro lado. Sonhar com o mesmo lugar, é bastante comum, o que não é comum é você sonhar sempre com a mesma pessoa te esperando. E vocês parecem ter uma conexão bastante forte. Alguns amigos estudiosos praticantes da terapia de regressão, já me relataram casos em que é possível regressar até vidas passadas, acho que deveria tentar, a existência desse rapaz em seus sonhos não representa um elemento que eu possa analisar. Vou lhe passar um contato de um colega, marque um horário com ele.

Clara: - Obrigada Dra. Louise, agradeço pelo seu tempo.

Clara ficou frustrada que a consulta não lhe trouxe nenhuma explicação plausível sobre o que acontece com ela. Mas, esperançosa de que esse colega da Dra. Louise vá lhe ajudar.