Capítulo 10

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Tirei a blusa e olhei minhas costas pelo espelho. Eu sempre odiei aquela cicatriz, eu sentia que todo meu rancor e infelicidade se reunia ali, mesmo parecendo loucura. Respirei fundo, me vesti de novo e sai de casa para encontrar com a Andrade, eu acho que já passou da hora de encarar aquilo.

Assim que cheguei no restaurante, Anne acenou para mim e eu fui em direção a mesa. Eu a conheço desde que eu tinha dezoito anos, há seis anos atrás ela descobriu o endereço da casa da minha tia e começou a investigar novamente o caso. Na época, o sequestro da Rebeca se tornou um caso muito famoso e minha família era perseguida constantemente por repórteres, por isso nos mudamos uma vez. Depois houve o incêndio e eu fui morar na casa da minha tia.

-Fico feliz que aceitou conversar comigo – ela disse após eu me sentar na mesa e eu assenti – Eu já pedi um suco de laranja para você, espero que não se importe.

-Tudo bem – eu suspirei e me ajeitei na cadeira – Eu acho que não há nada do que você tenha para me dizer que eu já não saiba.

-A polícia não quis revelar nada para mim sobre os restos mortais... Eles entraram em contato com você? – ela questionou.

-... – eu balancei a cabeça negando – Ela sumiu há quatorze anos, por que alguma coisa iria surgir agora?

-Tudo pode acontecer – ela disse e eu bebi um gole do suco, um pouco desconfortável – Na verdade, há outra coisa que eu quero falar com você.

-O que? – eu a olhei.

-O detetive que estava investigando o caso da sua irmã na época se matou e foi um choque para as pessoas que o conheciam – ela fez uma pausa – Todos ficaram tão sentidos na época que o foco do caso mudou.

-Onde quer chegar? – eu perguntei.

-Eu conversei novamente com a esposa e alguns colegas de trabalho dele e eles nunca acreditaram nisso de suicídio – ela falou séria – A esposa disse que ele estava perto de achar uma pista, que ele estava muito obstinado para achar a sua irmã, era impossível ele ter simplesmente se matado de um dia para o outro.

-Anne... – eu comecei a falar.

-É sério, pensa comigo – ela gesticulou – Ele estava planejando um aniversário surpresa para a filha dele, isso é atitude de alguém suicida?

-Então está dizendo que quem levou minha irmã matou o detetive? – eu perguntei quase incrédula.

-Isso! – ela estalou os dedos – Toda a história da sua irmã é estranha, que tipo de sequestro é esse? Sem ligações, pedidos de resgate ou até mesmo um corpo.

-Okay, eu preciso de um tempo – eu disse tentando colocar minha cabeça no lugar.

-Agora não é hora de ser emocional, é hora de usar a razão, Agnes – ela disse e eu a encarei.

-Como eu posso manter a razão se eu a matei? – eu disse e meus olhos começaram a marejar – Eu a levei de casa escondido naquele dia, mesmo com nossa mãe nos dizendo para nunca sairmos sozinhas.

-Você só tinha dez anos – ela disse me consolando – Não é sua culpa!

-... – eu coloquei a mão na boca e olhei para cima, para evitar das lágrimas caírem.

-Olha, se você me der uma chance e acreditar em mim, vamos pegar o desgraçado que levou sua irmã – ela tocou na minha mão e eu concordei – Você precisa ser mais racional, okay?

-Okay... – eu puxei minha mão e balancei a cabeça – O que mais você pensa?

-Você disse que viu uma tatuagem naquele dia, não foi? – ela perguntou – Como era essa tatuagem?

-Eu não sei – eu respondi forçando minha memória – Eu não consigo lembrar do desenho, mas eu tenho certeza que ele tinha uma tatuagem.

-Tenta se concentrar nisso, okay? – ela disse – Saber o desenho seria muito importante para identificarmos a pessoa.

-Vou tentar, eu só preciso me esforçar mais – eu disse e ela assentiu.

[...]

-Não, tudo bem, eu pago a conta – eu levantei da cadeira e fui em direção ao caixa.

Quando cheguei na fila, uma pessoa parou do meu lado e quando eu olhei era o Yan, acabei tomando um pequeno susto.

-Yan? – eu exclamei e ele sorriu. Até seu sorriso era perturbador.

-Hoje é o dia que irei lhe agradecer – ele disse e eu o encarei.

-Eu já disse que não precisa – eu disse seca e ele assentiu.

-Você vai gostar, não se preocupe – ele deu um tapinha nas minhas costas e sorriu, indo embora.

O olhei sair, mas não dei muita importância, paguei a conta, peguei minhas coisas da mesa e me despedi brevemente da Anne. Sai pela rua reflexiva sobre o que ela me disse, será que ela estava muito doida? Mas no fundo, sua loucura tinha um pouco de sentido. Ouvi meu celular tocar e o atendi.

-É o número da senhorita Agnes? – o desconhecido perguntou.

-Sim, quem fala? – eu respondi.

-Eu sou o detetive Potter, por favor, compareça na delegacia o mais rápido possível – ele disse e eu senti um pequeno baque.

Continua...

De frente ao desconhecido (Fanfic Hoseok)Onde histórias criam vida. Descubra agora