11. Favor

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Paro o carro em frente ao parque em que eu costumava me encontrar com Miles e o procuro com os olhos antes de descer. O encontro sentado no banco em frente ao lago com uma expressão tristonha. Tiro o cinto e desço do carro trancando as portas, caminho com calma em direção a ele que não parece notar minha presença até que eu esteja ao seu lado, ele me olha e abre um sorriso genuíno, que eu faço questão de retribuir.

- Você está bonita. - Ele comenta enquanto me sento ao lado dele.

- Obrigada, mas discordo. - Digo analisando os detalhes de seu rosto. - E então... - Estímulo ele a falar.

- Meus pais estão na cidade. - Ele comenta desviando o olhar para o lago. - E você sabe o quão difícil eles são. - Aceno com a cabeça me lembrando de todas as vezes que a mãe de Miles fez comentários duros contra o filho. - Então queria pedir para ficar no seu alojamento, pelo menos enquanto eles estiverem em casa. Não quero ter que lidar com eles agora que às semifinais estão chegando. - Franzo as sobrancelhas, impressionada com o pedido dele. - Eu posso dormir no sofá, prometo não incomodar. - Ele diz ansioso com medo de uma possível rejeição.

- É óbvio que você dormiria no sofá. - Respondo sorrindo. - Mas não posso te dar uma resposta sem falar com a Sam antes. Eu não moro sozinha. - Ele balança a cabeça concordando. - Mas vou fazer o meu melhor para que a resposta seja positiva, ok?

- Obrigada Jules. - Eu o abraço com força e ele se aconchega em mim com carinho.

- O QUE? - Ela berra e eu me vejo obrigada a tapar os ouvidos.

- Vão ser só por alguns dias. - Insisto e ela sorri sarcástica.

- Você sabe muito bem que eu não me dou bem com o Miles, é uma péssima ideia. - Ela responde enquanto prepara o pedido de um dos clientes do café.

- Mas ele já ficou lá em casa antes. - Digo bebendo meu café.

- Sim, no seu quarto, não na sala onde eu vou ser obrigada a dar de cara com ele de manhã. - Reviro os olhos em irritação.

- Ele acorda mais cedo do que a gente para o treino de futebol e só volta tarde, porque as aulas dele são a noite. Por favor Sam, eu sei o quão fodida é a relação dele com os pais. - Faço olhos piedosos e ela bufa em derrota.

- Ok, mas ele vai ter que deixar nosso café da manhã preparado todos os dias. Essa é minha condição. - Dou um salto no banco em comemoração e abraço ela através do balcão. - Ok... menos princesa. - Ela comenta me empurrando de volta para o meu lugar.

- Vou dar a boa notícia para ele então. - Digo puxando meu celular e digitando o número de Miles na tela.

Em alguns segundos ele atende.

- Ela deixou! - Dou a notícia empolgada.

- UHUL! Muito obrigada Jules, você é um anjo. - Ele comemora do outro lado da linha.

- Tudo para ver você bem Miles. - Respondo e ouço ele suspirar do outro lado da linha. - Te vejo amanhã.

- Até amanhã Jules. - Ele desliga o telefone.

Quando me viro para encarar Sam ela já está atendendo outra pessoa, dou um último gole no meu suco de abacaxi com hortelã e me levanto para ir embora.

- Te vejo mais tarde gostosa. - Me despeço de Sam. - E não esquece de trancar a porta do quarto quando for levar alguém em casa, sua bunda é linda, mas não quero ter que ver ela sendo tocada por outra. - Comento dando risada e a Sam cora instantaneamente.

Saio do café sentindo a brisa fria de Dakota contra meu rosto e então caminho até o meu carro, dou partida nele e dirijo cantando uma música aleatória que toca na rádio. Passo em frente a um dos bares mais movimentados do campus e o carro de Nate está parado na porta, diminuo a velocidade no intuito de conseguir vê-lo.

Sei que isso me faz ser  uma completa idiota, ele demonstrou que o interesse dele por mim morreu depois que ele teve o que queria, mas meu coração ainda deseja ele e não consigo me impedir de chorar quando meus olhos encontram ele atracado com uma das garotas da torcida do time de futebol, ela tem um rosto conhecido, é Miranda, a garota com quem Miles me fazia ciúmes às vezes, ela é morena, alta, tem um corpo de invejar e um rosto de modelo de capa da Vogue. Acelero quando ele vê meu carro e limpo minhas bochechas que estão molhadas pelo choro.

Quando estaciono o carro, desço como um jato, subo as escadas para não ter que esperar o elevador e quando alcanço meu apartamento entro e me jogo na cama, derrotada e abatida, querendo morrer com a ideia de encontrar ele pessoalmente nas próximas semanas durante os treinos. Quero me bater por ter me colocado nessa situação desagradável.

Choro por mais algumas horas até que o sono me acerta em uma pancada.

Atrás da câmeraOnde histórias criam vida. Descubra agora