27. Gelo

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Faz três horas que estou lendo um artigo sobre arte construtivista*, minha mente se encontra em formato de mingau nesse exato momento, queimei todos os meu neurônios traduzindo as palavras complicadas que colocaram no texto. A biblioteca já está praticamente vazia, as mesas dispostas ao meu lado dão um ar fantasmagórico ao ambiente.

- Se quer saber mais sobre o construtivismo, estou a disposição. Nada melhor do que um meio russo para te ensinar sobre uma arte que surgiu na Rússia. - Sorrio com as mãos de Nate envolvendo meu pescoço, seu cheiro familiar trás borboletas ao meu estomago.

- Pensei que ia me encontrar na sua casa. - Me viro apenas para constatar o quão lindo ele está, com uma camiseta cinza, uma jaqueta do time verde escura, seu cabelo bagunçado e rosto pefeit... PUTA MERDA ELE ESTÁ MACHUCADO. Me levanto automaticamente, preocupada, sem nem pensar levo meus dedos ao hematoma roxo perto de seus olhos, o sangue seco no nariz me deixa ansiosa. - Nate! O que aconteceu? - Ele afasta minha mão de seu machucado e balança a cabeça dando pouca importância ao hematoma.

- Ah, não aguentei esperar, então vim te ver e fazer um convite. - Ele sorri de canto e acaricia minha bochecha. - Não se preocupe com isso querida, estou bem. - Algo me diz ao contrário. Fecho a cara e cruzo os braços, como alguém que espera por uma resposta de verdade. - Ok, eu te conto o que aconteceu quando você aceitar meu convite. - Reviro os olhos e suspiro.

- E qual seria esse convite? - Pergunto guardando meu notebook e o caderno de anotações.

- O convite envolve comer o melhor frango a kiev* que já existiu e terminar o assunto da noite passada. - Ele responde enquanto me lanço em seus braços me aconchegando em seu corpo quentinho.

- Frango a kiev? - Pergunto franzindo o cenho receosa.

- Exatamente. Te garanto que vai ser uma das melhores coisas que você já comeu. - Dou de ombros e então ele me puxa, nos guiando até a saída da biblioteca. Nós entramos na caminhonete e Nate dá partida.

- Você fica extremamente sexy dirigindo. - Confesso admirando o braço tatuado de Nate estendido enquanto ele gira o volante fazendo uma curva fechada. Ele me lança um olhar de esguelha, dando um charme ao sorriso de canto que decora seus lábios avermelhados.

- Chegamos. - Nate anuncia estacionando o carro em frente ao estádio dos treinos e jogos de sempre. Encaro ele surpresa.

- O estádio não está fechado essa hora? - Pergunto confusa e ele dá risada de uma forma despojada.

- Eu sou a porra do capitão Jules. NADA está fechado para mim. - Reviro os olhos com o comentário narcisista e sorrio.

Nós descemos do carro e Nate puxa uma cesta com vinho do banco de trás. Ele passa o braço pelos meus ombros e nós caminhamos sentido a saída de emergência. Fico boquiaberta quando ele retira um molho de chaves do bolso e abre a porta a nossa frente.

Passamos por um corredor escuro repleto de vassouras e coisas de limpeza até chegarmos ao corredor que antecede o gelo. É lindo, o estádio está todo apagado, não há uma luz se quer, enquanto o gelo brilha com os refletores de chão, tenho certeza que meus olhos estão brilhando nesse momento, porque Nate me encara sorridente com uma expressão de apaixonado.

- Gostou? - Ele pergunta empolgado.

- É incrível, não imaginava que esse lugar poderia ser assim tão mágico. - Respondo abrindo um sorriso para ele.

- Você já patinou antes? - Ele pergunta colocando a cesta no banco da arquibancada ao nosso lado.

- Não, sempre tive muito medo. - Respondo sincera.

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