26. Familia

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Observo May pelo canto dos olhos enquanto dirijo em direção a minha casa, ela está chorando descontroladamente enquanto encara a estrada escura a nossa frente.

- Você quer me contar o que aconteceu? - Pergunto focada na estrada. May suspira e limpa os olhos antes de começar a falar.

- É complicado. - Abro um sorriso amigável de canto.

- Se tem uma coisa que eu entendo é sobre coisas complicadas. - Respondo me ajeitando no banco. - Me fala, tem alguma coisa haver com coração partido? - Consigo ver pelo reflexo May sacudir a cabeça positivamente. - E é relacionado a alguém ruivo chamado Duncan? - Mais uma vez ela acena positivamente. - Ok me fala a merda que ele fez e eu dou meia volta agora e meto o tapa na cabeça dele. - Ela solta uma risada melancólica e se ajeita no banco.

- O problema é esse, ele não fez nada, pelo menos não intencionalmente. - May reflete por alguns segundos antes de continuar. - A questão é que eu tenho uma paixonite nele desde o ensino médio, todas as vezes que ele ia em casa, para jogar com meu irmão, eu aproveitava para ficar babando nele. - Ela suspira. - Quando descobri que viria para a universidade de Dakota eu fiquei super empolgada com a possibilidade de reencontra-lo e viver um romance dos sonhos. Que idiota eu sou, não é mesmo? - Ela balança a cabeça reprovando a si mesma enquanto limpa as lágrimas que caíram sem que ela percebesse.

- Não, nem um pouco. Achei o ápice do romantismo. - Digo me compadecendo com ela. Em matéria de paixonite não correspondida eu gabaritei durante um bom tempo. - Mas ainda não entendi o motivo do coração partido. - Ela da um sorriso triste de canto.

- Acontece que por ironia ou não do destino, hoje eu descobri que Duncan está saindo com a minha colega de quarto e eles estão no ápice da paixão. A pior parte é que eu não sou nem capaz de odiar ela por estar com o homem que eu sou apaixonada porque ela é uma pessoa incrível. - Porra, eu definitivamente não gostaria de estar no lugar da May agora. Nem imagino como ficaria mal se algo assim acontecesse comigo. - Eu estou tão triste, que nem consigo reagir, só consigo chorar e pensar sobre essa merda de destino ruim. - May soluça, entrando em outra crise de choro.

Estaciono o carro no acostamento, apenas para consola-la com um abraço, nós ficamos abraçadas por um tempo até May se recuperar, ofereço á ela uma estadia confortável e segura na minha casa essa noite, May aceita e então sigo para meu alojamento.

POV NATE

- Então vocês transaram no beco atrás do bar e tudo se resolveu? -Adam me encara desacreditado na cadeira da sala de aula. Dou de ombros impaciente. Adam simplesmente engoliu um papagaio no café da manhã e agora não fecha a boca por nem um segundo se quer. - Caralho, o que você tem no pau? Mel? - Dou risada e o professor nos repreende, me obrigando a dar uma cotovelada em Adam.

- Nós ainda vamos conversar e sei lá decidir como vai ser daqui para frente. - Sussurro para Adam.

- Entendi, mas e quanto ao lance com seu pai? Você já falou com ele? - Sinto um calafrio percorrer minha espinha me deixando tenso.

- Não. - Respondo seco.

- Então você ainda está noivo? - Adam me encara boquiaberto.

- Sim. - Ele dá um soco no meu braço e eu reviro os olhos. - Calma, vou conversar com ele hoje, antes de encontrar a Jules. - Digo simples, mas meu coração está acelerado com a ideia de ter que enfrentar meu pai.

- Nesse caso, boa sorte e espero que você não estrague as coisas com a Jules de novo. - Adam semicerra os olhos.

Queria saber quando foi que eles ficaram tão próximos da Jules, deve ter sido na roda de fofoca que eles armavam todo fim de treino. Aparentemente fofocar une as pessoas.

(...)

Me sento na poltrona de couro do escritório escuro do meu pai, as venezianas estão fechadas e a única fonte de iluminação natural vem de uma fresta por baixo da porta, encaro o quadro no topo da parede principal atrás da cadeira dele, uma bela pintura de nossa família - meu pai está sentado numa poltrona de couro vermelha, vestindo seu paletó preto básico e caro com um charuto preso aos dedos, minha mãe está a sua esquerda, ela usa um vestido preto que emoldura seu corpo curvilíneo, em seu pescoço repousa um colar capaz de tirar a população de um pais inteiro da miséria e a direita com um semblante triste e uma camiseta branca sem nenhum vinco, estou eu, aos meus quinze anos de idade.

- Espero que você tenha um bom motivo para me tirar de uma reunião importante como a que eu estava tendo. - Meu pai entra na sala e se senta na cadeira do outro lado da mesa, ele não olha para mim, apenas abre a gaveta e puxa uma caixinha de cigarros, leva um aos lábios e acende se recostando na cadeira de uma forma despojada. Seus olhos verdes estão me encarando com desprezo.

- Não vou me casar com Nataly. - Digo com o tom de voz firme, ele começa a dar risada e revira os olhos.

- Espera, você está falando sério? - Ele fica sério novamente quando percebe que não estou brincando.

- Estou, não vou me casar com Nataly e até mesmo a senhora Schump já está sabendo. - Ele se levanta, consigo ver a raiva subindo aos seus olhos.

- Que merda você fez Nate? Hm? QUE PORRA VOCÊ FEZ? - Ele dá um tapa no meu rosto com força, ignoro a dor e continuo o encarando sério e com um semblante impassível. - Porra eu sabia que você ainda ia fazer uma merda como essa. - Ele passa a mão entre os fios de cabelo estressado e leva o cigarro de volta aos lábios. - Isso é por aquela garota qualquer, que Nataly me falou? - Seus olhos me fitam com ódio.

- Sim! Eu amo ela e eu nunca fui capaz de sentir isso antes, nem mesmo por você que é a porra do meu pai. - Me levanto o encarando.

- Isso é patético. - Ele murmura dando uma risada sarcástica. - Amor não põe dinheiro na nossa conta seu imbecil. Pensei que te colocar naquela merda de esporte norte-americano fosse ser o suficiente para te distrair, mas devia imaginar que alguma vagabunda poderia burlar isso. - Ele ajeita o terno impaciente. - Certo, se quer deixar um contrato milionário por uma buceta, que deixe, mas não vou ser conivente com isso. Acabou, sem aluguel para a casa, sem dinheiro e sem apoio. Vamos ver por quanto tempo esse seu amor dura. - Não respondo, continuo estático. - Agora sai daqui, tenho mais o que fazer. - Ele diz acenando com a mão, pedindo para que eu vá embora.

Eu o acato e saio do escritório, não esperava por isso, não sei como vou me manter agora, não tenho tempo para trabalhar e continuar jogando hóquei. Coço a nuca pensando enquanto caminho em direção ao elevador. Não posso abandonar o hóquei, é uma das únicas coisas que me fazem sentir vivo, mas também não posso simplesmente viver do resto de dinheiro da minha conta, talvez eu me garanta por alguns meses, mas e depois? Me olho no espelho e aparentemente o tapa de meu pai foi mais forte do que eu imaginava, meu nariz está sangrando e tenho um roxo perto do olho, limpo o sangue com a manga da blusa e levo meus dedos até a região, merda, aquele arrombado realmente me acertou.

Atrás da câmeraOnde histórias criam vida. Descubra agora