Fim

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Um mês depois

POV NATE 

A arena está lotada. É o meu primeiro jogo oficial na liga de hóquei profissional. A adrenalina corre nas minhas veias, mas, ao mesmo tempo, há um vazio dentro de mim que nem a maior vitória poderia preencher. O estádio inteiro vibra com energia, mas, assim como durante os treinos, tudo parece distante. Já faz um mês desde que meu pai faleceu.

Deslizo pelo gelo como se fosse parte dele. O disco percorre o campo, e tudo ao meu redor é uma mistura de som abafado e movimentos rápidos. Essa é a minha fuga, o único momento em que consigo calar o caos dentro de mim.

De repente, ouço o apito. Um dos meus companheiros se aproxima, me puxando para uma reunião rápida de equipe. Estamos no último período do jogo, e estamos na liderança, mas a vitória já não significa mais o mesmo para mim. O olheiro que me trouxe até aqui deve estar orgulhoso. Eu deveria estar também. Mas a vitória no gelo não apaga a derrota que sinto na vida real.

A partida termina com uma vitória apertada, e os meus colegas celebram, jogando luvas e tacos no ar. Recebo parabéns, tapinhas nas costas e olhares de admiração, mas por dentro, nada. Não há mais brilho, apenas uma satisfação fria e vazia.

De volta ao vestiário, olho para o espelho e mal reconheço o reflexo. Tudo o que vejo é uma sombra do homem que fui. Minha mente ainda está com Jules, imaginando onde ela poderia estar e por que me abandonou. O silêncio que ela deixou é insuportável.

Ao sair do vestiário, meus pensamentos são interrompidos por um murmúrio no corredor. A multidão de torcedores do lado de fora começa a dispersar, mas há uma figura familiar encostada na parede, no canto. Meus olhos encontram os dela, e tudo ao meu redor desaparece.

É Jules.

O estádio ainda ressoa com o eco da torcida, mas tudo isso desaparece quando meus olhos encontram os dela. Jules. Ela está ali, em carne e osso, depois de um mês, depois de tanto tempo sem qualquer explicação, sem respostas. Minha mente tenta acompanhar o turbilhão de emoções que vem à tona: raiva, dor, saudade. Não há como esconder o impacto que sua presença provoca. Meu corpo congela por um momento, o coração bate acelerado, e de repente, o mundo ao nosso redor não existe mais.

Caminho lentamente em sua direção, sentindo cada passo como se fosse uma luta. Minhas mãos tremem, e, ao mesmo tempo, uma sensação de vazio preenche o espaço entre nós. O que você faz quando a pessoa que mais te machucou aparece sem aviso, sem promessas, sem desculpas?

— Nate… — A voz dela é suave, hesitante, como se estivesse testando as águas.

Ouvi-la de novo, depois de tanto tempo, é quase sufocante. Toda a dor que reprimi, toda a frustração que tentei enterrar, volta à superfície com uma força esmagadora. Eu devia virar as costas, deixá-la ali. Mas, em vez disso, dou mais um passo em sua direção, incapaz de me afastar.

— Por quê? — As palavras saem antes que eu possa controlá-las, carregadas com tudo o que não disse durante esse mês, tudo o que ficou preso no meu peito.

Ela baixa a cabeça, os olhos marejados. Parece tão vulnerável, tão diferente da Jules que eu conhecia, mas ao mesmo tempo, é a mesma mulher que destruiu meu mundo quando partiu.

— Eu... eu pensei que estava fazendo o certo — ela diz, a voz fraca, quase um sussurro. — Pensei que, se eu fosse embora, você poderia se concentrar no que ama, no seu futuro. Achei que estava te libertando, Nate.

Libertando? A palavra faz meu sangue ferver. Me libertar? Ela realmente acreditava que sumir da minha vida sem explicações era algum tipo de ato nobre?

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