Giro a câmera, seguindo o disco que desliza pelo gelo em direção ao gol. Ele passa entre as pernas do goleiro, marcando mais um ponto para o time da casa. A arquibancada atrás de mim explode em comemoração enquanto o árbitro encerra o jogo. Mais uma vitória para a Universidade de Dakota do Norte.
Meus olhos ficam fixos no autor do gol decisivo, Nate Davis Kuznetsov, o capitão do time de hóquei. Filho de pais multimilionários, dono de um ego insuportável e de uma beleza arrebatadora. Ele salta em seus patins, retirando o capacete e revelando um rosto esculpido como o de um deus grego, com fios de cabelo preto grudados à pele suada. Seus olhos verdes são profundos e intensos, sua boca tem um formato irresistivelmente beijável, com lábios vermelhos e a pele pálida, ligeiramente corada. Meu estômago dá cambalhotas de excitação, e meus dedos formigam. Ele é tão lindo que me sinto indigna de admirá-lo.
— Ok, estão todos liberados. Exceto você, Jules. Tenho mais uma pequena tarefa para você. — Mike, meu chefe, para ao meu lado, me encarando com seus olhos inquisitivos.
— E qual seria essa pequena tarefa? — pergunto, desligando a câmera e retirando meus fones.
— A reitoria quer realizar um documentário sobre os Fighting Hawks, então preciso que você grave algumas entrevistas com os garotos hoje, depois que saírem do vestiário. Tudo bem para você? — Meus olhos se arregalam, e quase engasgo com minha própria saliva ao imaginar entrevistar o garoto por quem sou apaixonada desde o primeiro dia de faculdade, quando esbarrei nele e ele me notou por míseros três segundos. — E então? Posso te dar essa função? — Mike estala os dedos na minha frente, trazendo-me de volta à realidade.
— Ah... Sim, claro. Por que não? — respondo, tentando esconder o nervosismo na voz. Ele puxa uma câmera de dentro de sua bolsa e a entrega para mim.
— Ok, preciso dos vídeos ainda hoje. — Mike se vira e caminha para o outro lado da arquibancada, puxando os fios das câmeras com ele.
Respiro profundamente, ansiosa com a ideia de trocar palavras com Nate. Sento-me no banco de madeira atrás de mim, hiperventilando, e rapidamente pego meu celular para mandar uma mensagem para Samantha, minha melhor amiga.
JULES: Eu preciso da sua ajuda! Agora!
JULES: Onde você está?
SAM: Perto do campus. Está no trabalho?
JULES: Sim, vem!
JULES: Rápido. Por favor.Em minutos, Sam aparece. Ela corre na minha direção e me segura pelos ombros, analisando meu rosto com um olhar furioso.
— O que aconteceu? — pergunta, impaciente.
— Não me mata, mas tem a ver com Nate e uma entrevista com todos os garotos do time. — digo, mostrando a câmera que Mike me entregou. — Eu não vou conseguir nem respirar perto deles, muito menos elaborar perguntas. Pensei que talvez você pudesse ser uma ótima entrevistadora, enquanto eu serei uma ótima camerawoman. — Ela me encara, o semblante fechado. — Por favor! Eu fico te devendo uma. — Faço biquinho, torcendo para que funcione.
— Ok, mas você vai ficar me devendo uma MESMO. — Pulo em cima dela em um abraço apertado, e ela retribui.
— Então precisamos ir agora. Eles já devem estar saindo. — digo, puxando-a pelo braço em direção aos vestiários. Sam caminha relutante, mas caminha, e é isso que importa.
O primeiro a participar da entrevista é Duncan Morn, o goleiro do time. Ele é carismático, com uma beleza "fofa", sardas nas bochechas e cabelo ruivo encaracolado. Depois dele, é a vez de Adam Kole. Ele é sedutor e sério, flertando descaradamente com Sam, que apenas o ignora. Adam é de tirar o fôlego; depois de Nate, ele é o mais bonito do time, com seus olhos azuis, músculos bem definidos, mandíbula marcada e cabelo loiro. Ele é capaz de arrancar suspiros de qualquer um, inclusive de mim, que estremeço quando ele pisca para mim antes de sair.
Seguimos entrevistando os garotos do time, e tudo corre bem até que ele entra. Cabelo ainda úmido do banho, sem camiseta, com tatuagens decorando seus músculos esguios e perfeitos, o rosto sério e sombrio que conquistou meu coração desde o primeiro momento. Suas mãos têm veias marcadas e pequenos cortes, e ele está segurando uma camiseta preta. Nate se senta de frente para mim, para a câmera, e me observa antes de pousar seus olhos em Sam. Meu corpo inteiro treme, como se estivesse nua no meio do inverno russo. Tento focar no que preciso fazer, mas é difícil, como se eu não soubesse mais como ligar uma câmera.
— E então? — Sam me encara, buscando minha autorização para iniciar a entrevista.
— Só um segundo. — digo rapidamente, com meu peito subindo e descendo tão rápido que nem meu coração consegue acompanhar.
Nate me observa, seus olhos intensos e calmos, como se eu fosse uma presa interessante e boba. Ele apoia os cotovelos nos joelhos, me dando uma visão perfeita de seu rosto através da câmera. Minha garganta se fecha; estou a ponto de desmaiar quando a câmera finalmente liga, por um milagre.
Sam inicia as perguntas, e Nate as responde com uma voz grave e forte que me deixa fraca. Ele não encara Sam enquanto responde; ele me encara, sem desviar os olhos por um segundo. Ele sabe que estou nervosa por sua causa. Mas por que ele presta atenção nisso? Será que gosta de me deixar assim? Por que ele gostaria de desestabilizar uma garota a esse nível? Uma garota que ele nem sabe quem é?
Ao fim da entrevista, ele coloca a camiseta e se levanta. Sem se despedir de Sam, ele caminha em minha direção com a calma de um lince, parando a poucos centímetros de mim. Empurra a câmera para o lado, me deixando frente a frente com ele. Não sei descrever o que sinto nesse momento; é um misto de ansiedade, delírio e desejo. Embora nada demais esteja acontecendo, é como se meu mundo estivesse sendo destruído e reconstruído em segundos.
— Vai ter uma festa hoje, para comemorar a vitória. Você deveria vir. — Ele segura minha mão, que está suada de nervosismo. — Com sua licença. — Ele pega uma caneta do bolso e escreve o endereço no meu pulso, a ponta da caneta fazendo cócegas. Engulo em seco, tentando conter a saliva que insiste em se acumular na minha garganta. — Te espero lá. — E então ele sai.
Meu corpo todo relaxa na cadeira, e Sam me encara com um sorriso nos lábios. Não sou capaz de dizer nada, apenas fico boquiaberta, ainda desestabilizada pelo que acabou de acontecer.
— Puta merda, o que foi isso? Ele te encarava como se você fosse o troféu mais cobiçado do hóquei. — Sam bate palmas, e eu dou risada. — Por alguns segundos, até esqueci que você namora.
— Eu nem consegui assimilar nada ainda. — respondo, observando o endereço anotado no meu pulso.
— Miles não ia gostar nada disso. — Sam ri. — Eu adoraria que ele estivesse aqui. Assim, ele entenderia o potencial da deusa que ele tem e trata como se não fosse nada.
— Eu definitivamente não quero falar sobre Miles agora. — Bufo impaciente, lembrando da última conversa que tive com meu namorado, estrela do futebol. Ele me tratou como um cachorro na frente dos amigos, e meu sangue ferve ao lembrar dele dizendo que eu era louca por sentir ciúmes da garçonete do restaurante, cuja bunda ele fez questão de checar várias vezes.
— Nem eu. Estou mais interessada em saber o look que nós vamos usar nessa festa. — Dou risada.
— Você não está pensando que eu vou, está? — Sam se levanta, colocando as mãos na cintura, como uma mãe prestes a dar uma bronca no filho.
— VOCÊ VAI SIM! Depois de toda aquela palhaçada com Miles e de passar anos babando nesse homem como uma stalker maluca? — Ela estala os dedos. — Você precisa aproveitar. Quem sabe botar um par de chifres merecidos naquela cabeça raspada do Miles. — Eu a encaro, séria.
— Eu jamais faria isso. Miles foi um babaca, mas ele é meu namorado, e eu respeito isso. Foi só uma briga. — Ela revira os olhos.
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Atrás da câmera
RomansaJules é estudante de artes visuais na universidade de Dakota do Norte, durante o inicio do ano ela conseguiu um estágio como fotografa do time de Hóquei. E foi ai que a vida dela mudou completamente. Com um relacionamento em crise e tão próxima de...