17 Cardan

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Escuto os batuques dos dedos de Barata no volante enquanto ele dirige até a minha casa. Na noite passada decidi que precisava voltar para casa, já que não poderia morar o restante do último ano letivo com Barata.

- Não precisa entrar comigo, eu sei me cuidar.

Digo voltando a discussão de ontem. Barata se ofereceu para me dar uma carona até em casa, mas insistiu em entrar comigo para ver como as coisas estão depois da briga com meu irmão. Eu nunca contei a ele sobre o temperamento de Balekin, mas ele, como alguns dos meu amigos, já se encontrou com meu irmão, o qual não vê necessidade de pelo menos fingir alguma gentileza.

- Eu posso ver pelo seu rosto.

O hematoma na maçã do meu rosto está ainda mais roxo do que no dia seguinte a briga, contrastando com minha pele pálida.

- É porquê você não viu o meu irmão - penso na última vez que vi o rosto de Balekin, com sangue escorrendo de seu nariz e de sua boca.

- Só acredito vendo.

Ele apertou forte o volante e as árvores e casas ao redor passaram mais rápido. Passamos em frente ao Colégio Elfhame, o estacionamento está vazio e o portão fechado, e pela rua que leva em direção a casa de Jude, fazendo meu coração tropeçar.

Quanto mais próximos da minha casa, mas rápida minha respiração ficava, porém eu tentei controla-la ao máximo para que Barata não percebesse. Minha casa finalmente entrou no meu campo de visão e Barata diminuiu a velocidade do carro. Procurei pelo carro de Balekin em frente a minha casa, ou estacionado no meio fio da rua, mas não o encontrei. Uma onda de alívio me atingiu, pois talvez a estadia de Balekin tenha chegado ao fim e eu não terei de vê-lo.

Barata estacionou o carro em frente a minha casa.

- O carro do meu irmão não está, ele deve ter voltado para a casa dele. - Barata deixou de olhar a rua pela janela e volto o olhar para mim- Só estará o meu pai. Eu posso lidar sozinho com ele. Na verdade, será melhor conversarmos a sós.

- Você tem certeza? - Barata disse após um momento pensando - E se seu irmão estiver lá dentro?

Olhei para a janela da minha sala de estar, as cortinas estavam fechadas e nenhum vulto passava atrás.

- Eu vou ficar bem - aperto seu ombro - Te mando uma mensagem se as coisas ficarem fora de controle.

Antes que ele possa responder ou insistir em entrar, abro a porta e saio do carro.

- Boa sorte, Cardan - Barata me deseja depois que contorno seu carro.

- Eu vou precisar - murmuro enquanto o vejo dar partida no carro e se afastar.

Depois que seu carro desapareceu, respiro fundo e me viro para a porta. Caminho lentamente até ela, a aljava em forma de rosto me encara por alguns segundos antes de eu ter coragem para abrir a porta, com a chave que peguei da mochila em minhas costas.

Entro em casa e sou recebido pelo familiar som baixo da tv. Fecho a porta com cuidado e caminho pela casa, mas não preciso ir muito longe para encontrar uma figura, sentada na poltrona da sala.

- Pai - meu maxilar endurece quando o chamo, seus olhos deslizando lentamente da partida de futebol que passa na TV para mim.

- Balekin foi embora - suas mãos se fecham em punhos em cima dos braços da poltrona - Você quebrou seu nariz.

Reprimo um sorriso de satisfação, percebendo sua irritação pelo tom de voz.

- Ele ficará bem.

As narinas dele se dilatam quando ele inspiração forte, claramente tentando se controlar.

Estúpido CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora