20 Jude

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— Namorado.

Testo a palavra em minha boca. E me imagino num diálogo, apresentando Cardan como meu namorado:

— Este é Cardan, o meu namorado.

Na minha cabeça alguns cenários se desenrolam com o término dessa frase, e tenho boas respostas para essas situações, como:

— Sim, sim, este é o meu namorado supergato. Você pode, por favor, parar de babar por ele?

Ou também:

— Sim, pode acreditar? Ele é o meu namorado. Você pode, por favor, tirar essa expressão de confusão do rosto?

Minha mente vaga para outros diálogos imaginários enquanto me arrumo para o colégio.

— Não, Vivi, nós não transamos aquele dia no sofá — isso não foi nada convincente, tento de novo — Em primeiro lugar, foi você quem deixou ele entrar e o convidou para dormir aqui, então me desculpe se você ouviu uns barulhos esquisitos aquela noite, mas foi puramente sua culpa — acho que vou tirar o "puramente" dessa frase — Totalmente sua culpa — me corrijo.

Será que eu uso o lip tint rosa ou vermelho hoje? Me olhando no espelho da minha cômoda, coloco os dois batons na minha bochecha e decido que o vermelho realça mais a minha cor de pele.

Passo rapidamente, pois o meu namorado, provavelmente, já está na porta esperando.

Eu deveria agradecer Oak por me poupar de anunciar a minha família que estou namorando Cardan, mas como ele informou a todos ontem no jantar, e foi muito constrangedor, não tive a oportunidade.

Pego minha mochila e desço as escadas em direção a porta da frente. Abro a cortina que esconde as pequenas vidraças ao lado da porta e olho para a varanda. Como eu esperava, um Cardan preguiçoso como um gato descansa em uma das cadeiras da varanda. Suas pernas longas estão esticadas na sua frente, cruzadas nos tornozelos. Uma mão pousada no colo e a outra apoiada no braço da cadeira, o nó de seu dedo indicador brincando deliciosamente com sua boca cheia. Enquanto me perdia na naquele movimento, os olhos de Cardan encontram os meus, negros e marcantes. Sua mão abaixou, revelando o seu sorriso de canto, que mais parece um sorriso "tira calcinha".

Engolindo em seco, solto a cortina e abro a porta da frente, para revelar Cardan, já parado a minha frente. Nossos olhares se encontram por um momento intenso, antes de vacilarem e descerem para o restante de nós. Não sei exatamente quem começou a traçar o outro com o olhar primeiro, mas eu não podia reclamar do toque que seus olhos tinham sobre mim, ou sobre como eu amava olha-lo. Sua camisa preta destacava seus cabelos e olhos, o deixando com a aparência de um anjo traiçoeiro. Ela também delineava seus músculos magros, a curva de seu pescoço exposto até seus ombros largos, seu peito agarrando levemente a camisa. Quando meus olhos alcançaram a pulseira que controla seu pulso claro, volto meu olhar para sua boca e dou dois passos, um para trás e outro para o lado, em um convite silêncio para ele entrar, o qual ele aceita.

Seus passos ecoam pelo chão de madeira da minha casa, quando fecho a porta atrás dele. Assim que volto a encara-lo, ele está mais perto do que eu me lembrava, meu corpo instintivamente alcança a porta atrás de mim, antes de eu me lembrar que está tudo bem encontrar seu corpo no meu. Esse simples pensamento me faz ir até ele, sua boca já próxima da minha não hesitar em me receber em um beijo quente, mas contido. Nossos corpos se unem num abraço, seus braços ao redor de minha cintura e os meus em seus ombros. Lentamente, Cardan afasta nossas bocas, e eu apoio meu rosto da curva de seu pescoço, abraçando o e sentido a tensão em seu corpo. Eu entendia o que essa tensão significava, porquê eu também sentia, ele estava de contendo. Nunca senti que minha casa era tão cheia como agora, com pelo menos duas pessoas no andar de cima e outras duas na cozinha, meu pai, provavelmente, já saiu para a delegacia.

Estúpido CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora