- Prólogo -

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Adrien bufou novamente, sentou-se no chão da sala de ensaio encostando-se na parede, irritado por ter errado mais uma vez o mesmo passo.

- Adrien, você sabe que isso é importante. Como consegue errar um balloné* que você costuma fazer com tanta facilidade?!

Chloé Bourgeois sentou ao lado dele, a melhor amiga de infância e atual parceira no ballet, não precisava realmente de uma resposta, ela sabia bem o nome e sobrenome do porquê Adrien parecia tão desconcentrado e desleixado, não apenas naquele ensaio, mas nos últimos dois anos, desde o fatídico dia em que perdeu sua última parceira de dança.

E ele não a respondeu, como sempre fazia, sempre calado e quieto. Chloé não lembrava da última vez que teve uma conversa decente com o rapaz. Na verdade, ela se lembrava bem de como ele costumava ser, antes do mundo ruir à sua volta, quando ele era feliz, sorridente e alegre. Quando ele, acima de tudo, tinha paixão por dançar. Mas ela tinha noção de que não era parte de seu destino mudar aquilo, a única pessoa que poderia ajudá-lo não estava disposta a tal ato.

Adrien encostou a cabeça na parede olhando para frente, visualizando seus colegas bailarinos em seus próprios mundos, ensaiando incansavelmente visando a perfeição e leveza de seus passos. Os olhos verdes do rapaz não mais brilhavam por aquilo, ele já não via mais sentido naquilo que fazia. Mas ele precisava continuar, precisava seguir em frente, a companhia precisava que ele se concentrasse ou se não fecharia as portas. Levando os sonhos e os sorrisos daqueles que ali estavam para longe, assim como os seus haviam sido levados há anos.

O jovem se imaginou por um segundo em seus tempos áureos. Preso em suas lembranças, as pessoas em sua volta sumiram e ele pôde visualizar a si, quando ainda era apaixonado pelo que fazia.

A grande sala de ensaio, bem iluminada pela luz que vinha de fora naquele entardecer, delimitava o corpo do rapaz loiro dois anos mais novo. Ele treinava perseverante em seus movimentos, sabia que se continuasse poderia ser perfeito.

O garoto parou, pôs as mãos no joelho, cansado e ofegante. Ele elevou a cabeça na mesma posição, encarando o grande espelho em sua frente. E pingando suor, ele apenas sorriu.

O Agreste viu o jovem loiro que costumava ser lhe encarar. O garoto não parecia entender o porquê um dia se tornaria tão apático. Adrien nada disse, ele sabia o que viria a seguir, a resposta para a dúvida do mais novo, o motivo de sua mudança.

As duas versões olharam para a porta, que era levemente aberta pela sua parceira de dança, não Chloé Bourgeois, mas Marinette Dupain-Cheng, a melhor bailarina da Companhia Miraculous Ballet de Paris, sorriu para o garoto se aproximando. Ela se sentou no chão ao lado do mais velho, e Adrien a observou abrir a bolsa que levava, tirando dela as usuais sapatilhas de ponta rosas. Ele se lembrava bem do que sua versão mais jovem estava pensando naquele momento, se apaixonando novamente por ela, pelas simples coisas, como jeito delicado de amarrar uma sapatilha. Se apaixonando por cada sorriso, cada passo que ela dava, por cada olhar.

Os dois observaram a Dupain-Cheng se levantar e se alongar, a garota estendeu a mão para Adrien mais jovem. Ele rapidamente pois a música que dançava para reproduzir. Segurando a mão dela em resposta, eles dançaram juntos. E o Agreste mais velho se lembrou com clareza o porquê amava tanto dançar, porque ela estaria ao seu lado. Ela estaria dançando junto a ele não importasse o que fosse.

Mas ela já não estava mais ali. O sorriso alegre, os passos perfeitos, os olhos azuis encantadoramente brilhantes, as bochechas ruborizadas, a felicidade que sentia com cada beijo que trocavam, não estavam mais ali e nunca mais estariam, pois Adrien sabia, por mais que ela estivesse viva, a Marinette que ele conhecia já havia morrido, assim como ele há dois anos atrás.

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