- Dez; Fantasmas -

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Adrien e Nino não ficaram surpresos quando Chloé os arrastou para uma das mais badaladas boates de Paris, Le Dandy.

A música alta que preenchia o ar do ambiente amplo com sofás e mesas no melhor estilo retrô, lotado por pessoas bem vestidas, sofisticadas e a luz baixa em tons vermelhos e alaranjados fizeram o Agreste respirar fundo. Tudo o que menos queria era a agitação da noite parisiense.

- Tem certeza de que eu posso tocar aqui? Parece tão chique. - Nino a olhou receoso enquanto os três passavam pela multidão.

- É claro, minha irmã mais nova trabalha aqui. Sempre tem um DJ diferente por noite.

Adrien observou o lugar distraído, encontrou um lounge atrás de uma porta de correr transparente um pouco mais vazio e aparentemente mais quieto.

O rapaz cutucou os amigos mais a frente.

- Podem ir, eu vou ficar por aqui. - falou alto e gesticulou tentando ser entendido já que a música alta atrapalhava sua comunicação.

Os dois apenas acenaram com a cabeça e seguiram em frente. O Agreste desviou do caminho inicial cortando a multidão. Deslizou a porta, encarando o ambiente espaçoso com algumas pessoas conversando e bebendo sentadas em um sofá em um dos cantos. Ele se direcionou para um outro sofá um pouco menor e se acomodou, pedindo uma bebida qualquer para o garçom.

[...]

Marinette quase deu meia volta para fora do local quando entrou na boate lotada. Alya a arrastou novamente para dentro.

- Vamos, Mari. Não seja tão temperamental. Pelo menos uma vez nesses dois anos faz alguma coisa que eu te peço, tipo, tentar se divertir. - juntou as duas mãos como se implorasse pela colaboração da amiga. - Além disso, o Nino deve tá tocando aqui.

- Vai lá, pode procurar por ele e vou achar um canto por aqui e prometo tentar me divertir. - ela sorriu fraco numa tentativa de convencê-la que ficaria bem.

- Sério?! - a Dupain-Cheng sorriu balançando a cabeça. - Vai, Aly. Vai falar com ele. Riu do jeito animado da amiga que partiu para o meio da multidão à procura do namorado.

Marinette olhou ao redor tentando se familiarizar com o lugar barulhento demais para ela. Reparou num ambiente mais afastado, um lounge.

Deslizou a porta que dividia aquele lugar do resto da boate. Reparou em algumas pessoas rindo em um canto e um rapaz loiro, tomando alguma bebida, sentado num sofá mais afastado, mexendo no celular, que a mestiça pensou reconhecer, mas a luz baixa do ambiente impediu que ela tivesse certeza. Viu mais à frente uma escada iluminada. Provavelmente, havia mais da boate no andar de cima.

Ela se aproximou da figura, talvez conhecida por ela. E quando chegou mais perto teve certeza de quem ele era.

- Adrien? - ela o chamou, vendo o quanto ele parecia lindo com uma camisa preta e uma jaqueta da mesma cor. Os cabelos loiros levemente bagunçados, o deixavam mais atraente.

Ele virou quando ouviu uma voz lhe chamar sem saber de quem era pelo som do local, até encarar Marinette ao seu lado em pé, num lindo vestido vermelho de alça, um pouco acima dos joelhos. No braço direito ela apoiava um sobretudo bege. Os longos cabelos soltos cobriam os seios.

E Adrien já sabia que ela era linda, mas ele teve certeza, naquele momento, que nunca tinha visto nenhuma outra pessoa mais bonita do que ela.

Não se surpreendeu por ela estar ali. Obviamente, Alya a teria arrastado para aquele lugar.

Coçou a nuca, envergonhado.

- Ah, oi, Marinette. - falou distraidamente.

-Eu posso? - ela indicou o sofá.

- Pode. - balançou a cabeça despretensiosamente.

Voltou o olhar para o celular novamente.

- Hum, você não vai dançar? - comprimiu os lábios, nervosa. Claro, que ele não iria dançar. Ele nem gostava daquele tipo de ambiente.

Ele a encarou curioso.

- Eu já vivo pra dançar, Marinette. E você sabe que eu não gosto muito dessa agitação toda. Ou pelo menos sabia. - desviou o olhar.

A última frase saiu baixa, porém foi o suficiente para que a Dupain-Cheng entendesse.

- Não faz isso, Adrien. - talvez ela estivesse pronta para encará-lo ou apenas precisasse.

-Não fazer o que? - ele bebericou a bebida.

- Para por favor. Você quer realmente fingir que nada tá acontecendo?

- Sério? - a encarou um tanto irritado. - Você quer mesmo falar sobre isso aqui?

- Acho que a gente precisa falar sobre isso. - o tom de voz firme fez o rapaz suspirar.

Novamente ele desviou o olhar e respirou fundo.

- Vem comigo. - se levantou num impulso surpreendendo Marinette. Segurou com uma força contida o pulso dela a puxando em direção a escada.

Eles chegaram ao topo. Um terraço bem iluminado, e que surpreendentemente estava vazio. Podiam ouvir a música que tocava no andar debaixo, agora, abafada.

- Isso é tão bonito... - ela se distraiu com o ambiente, cheio de plantinhas e lâmpadas penduradas.

Adrien não deu muita atenção ao comentário. Ele reparou que ela ainda não tinha vestido o sobretudo.

- É melhor você vestir isso. - ele apontou para o casaco no braço dela. - Tá frio, você vai ficar doente assim.

A Dupain-Cheng arregalou os olhos, percebendo que ele tinha razão. Vestiu o agasalho.

- Ah, obrigada. - ela esfregou a roupa se aquecendo.

Se aproximou dele encostando na grade, observando o céu estrelado e o pouco de neve que caia.

Ela se pôs a falar.

- Eu sei que eu comecei isso. Mas por favor, será que você pode parar de me olhar assim?!

- Assim como? - ele a encarou confuso.

- Como se eu fosse um fantasma. Como se eu fosse alguém que você não reconhece mais.

- Mas essa é a verdade, você é um fantasma do meu passado que ficou anos perturbando minha cabeça e agora eu preciso lidar. - ele encarou os olhos dela, nervoso. - Porque eu tentei e eu ainda tento entender o porquê você me afastou. O porquê você não me deu nenhuma explicação. - olhou para frente, esfregando os fios dourados. - E por muito tempo eu pensei que tivesse feito algo de errado, que tivesse te machucado, mas eu não consegui pensar no que estava errado e todo mundo me dizia que eu tinha feito o possível por você. Mas se você me pedisse Marinette, eu faria mais do que isso, eu faria o impossível por você. - gesticulou claramente agitado voltando o olhar para ela. - Porque eu te amava, porque a única coisa que eu queria era estar com você, proteger você e fazer de tudo pra impedir que você se machucasse de novo. - Apontou para si. O tom de voz pareceu amenizar e se tornar levemente sonhador.

E Marinette viu todo ressentimento que ele
ainda carregava, só olhando para os olhos dele. Ela não sabia se tinha coragem de continuar aquela conversa.

- Você ainda pode voltar a me amar? - perguntou em um tom baixo e temeroso.

- Não dá pra voltar a te amar, Marinette. - com os olhos caídos, ele olhou para baixo encarando as ruas de Paris. A voz soou tremendamente triste.

- E-eu entendo. - a voz saiu fraca e um tanto chorosa.

Adrien a olhou, mas ela já tinha se virado o impedindo de saber com clareza se ela estava prestes a chorar ou não.

"Não dá pra voltar a te amar, Marinette, porque, por mais que eu deteste admitir, eu nunca deixei de amar você. E eu tenho medo disso." - pensou, seguindo com o olhar a Dupain-Cheng descendo as escadas.

Pelo menos, naquele momento, em seus pensamentos, ele sabia que havia sido sincero como Nino havia pedido.

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