- Quinze; Insegurança -

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O final do mês havia chegado. O último dia do prazo em que Marinette deveria estar fisicamente pronta para começar a ensaiar a coreografia da peça, que eles ainda não sabiam qual era.

E para Adrien ela estava em perfeita forma para voltar a ensaiar grandes espetáculos. Mesmo pensando que aquilo era praticamente impossível de ser conquistado em tão pouco tempo, ele sabia que a Dupain-Cheng se esforçava e dava tudo de si nos exercícios que ele ajudava a executar.

Ela tinha nascido para dançar.

Aquelas últimas semanas passaram tranquilas.
O clima estranho entre Adrien e Marinette parecia ter amenizado. Em contrapartida, nenhum dos dois deu um passo a mais para resolver realmente a situação entre eles, focando apenas no ambiente amistoso de ensaio e na melhora da franco-chinesa.

E naquele momento, sentados no chão da sala de ballet da mansão, Marinette desatava o nó da sapatilha de ponta, sentia que os pés poderiam falecer de tão doloridos que estavam; a parte da vida nem tão glamurosa de uma bailarina, da qual a mestiça menos gostava. E um tanto perdida em seus pensamentos, ela observou Adrien ao seu lado, massageando os próprios pés, também doloridos. Ele se virou para ela oferecendo uma compressa de gelo.

- Obrigada. - sorriu agradecida.

Suspirou quando sentiu a sensação gelada e relaxante da compressa em seus pés.

- Ainda dói? - os olhos verdes se direcionaram para as pernas da parceira, um tanto preocupado.

- Só um pouco. Nada com que eu não consiga lidar. - deu de ombros. - Bem normal pra nós, você sabe. Na verdade, eu fico feliz por sentir essa dor de novo, porque ela só vem quando eu estou dançando. - sorriu verdadeiramente feliz.

Adrien a entendeu perfeitamente. Ser uma bailarina não era um mar de rosas, mas era o que ela amava ser, e se para dançar novamente ela ainda precisasse passar por uma dorzinha ou outra, então valeria a pena.

Por um momento o sorriso dela vacilou, e o loiro se perguntou o que se passava na mente dela.

Como uma resposta ao questionamento interno dele, ela o perguntou:

- Adrien, você acha que vou dar conta quando Plagg voltar? - ela desviou o olhar, apreensiva.

Então era isso que tanto a perturbava. Ela estava com medo de fracassar, novamente. E o rapaz sabia que se não colocasse os pensamentos dela no lugar, Marinette se afundaria no meio de suas inseguranças, achando que não seria boa o suficiente.

- É claro que vai. - ele se aproximou, sentando de frente para ela. - Você foi a melhor bailarina da companhia e...

- Você tá certo, eu fui. - ela parecia certa do que pensava, sem prestar tanta atenção no que o aloirado tinha a dizer.

- Me deixe terminar, Marinette. - a mestiça encarou as íris verdes do rapaz. - Você foi e está voltando na melhor forma. Ninguém nunca teve uma recuperação tão boa quanto a sua ou conseguiu realizar em tão pouco tempo passos tão difíceis. - tombou a cabeça olhando a firmemente para que ela acreditasse nas palavras dele. - Você está exatamente como a Marinette que eu me lembro de ver dançar antes de tudo.

A Dupain-Cheng quase o abraçou, mas ela ainda não sabia quais eram os limites daquela nova relação. Adrien parecia disposto a ajudá-la, mas ainda sim ele parecia receoso, evitando contados demais.

Então, ela apenas sorriu.

- Obrigada, por isso, Adrien.

- Eu só digo isso, porque é o que eu vejo. Eu não mentiria pra você. - ele se levantou com as próprias sapatilhas nas mãos, andando até a mochila para guardá-las.

Marinette pareceu refletir um pouco mais.

- Adrien, eu fico pensando, o porquê não posso dar o dinheiro que a companhia precisa, sendo que eu posso ajudar com o financeiro e ainda voltar a dançar.

O rapaz se virou novamente para ela. Ele suspirou.

- Porque isso vai ser mal visto, Marinette. Fu quer consertar os próprios erros por ele mesmo e por merecimento, mesmo que o seu acidente não tenha sido culpa dele. Mas ele é o responsável pela companhia, pelo espetáculo. E quando tudo desmoronou a culpa caiu sobre ele. - a mestiça não tinha ideia de que a situação era mais profunda do que ela pensava. - Aceitar seu dinheiro pode parecer que você está pagando pra voltar pra companhia, mancharia sua imagem. E também, acabaria com o que resta da academia, já que não haverá prestígio nenhum no meio disso.

A feição do rapaz caiu, ele não queria ter aquela conversa com Marinette e muito menos deixá-la nervosa.

- Então, eu preciso me sair bem, não é?! Eu não posso errar, porque essa é a nossa última chance. - ela também se levantou murmurando para si mesma.

- Marinette. - Adrien se aproximou. - Eu também vou estar lá, vou dançar com você. - pôs as mãos nos ombros dela encarando os olhos azuis tão frágeis naquele momento que o rapaz pensou que eles pudessem quebrar como cristal - Você não tá sozinha.

Quantas vezes ela já não havia escutado aquilo dele; que ela não estaria sozinha, que ele estaria ao lado dela para apoiá-la?! Vezes demais para que ela pudesse contar. Mas a franco-chinesa sabia que aquilo era uma verdade, ele não sairia de perto dela, ele não descumpriria sua palavra, só se ela pedisse, ou como da última vez,  o ordenasse para nunca mais voltar. 

O coração pesou novamente no peito, por perceber mais uma vez que não o merecia, não merecia nem o pouco do carinho que ele a oferecia, quando ela ao menos tinha pedido desculpas por destratá-lo. Marinette só esperava que um dia estivesse pronta para falar sobre aquele dia, para lhe pedir perdão.

Ela só não sabia quando aquele dia chegaria, quando ela finalmente pudesse dar respostas, das quais Adrien tanto ansiava.

E ele esperou e continuaria esperando que ela se abrisse, a pedido de Alya, que não a forçasse a falar. E Adrien também não queria aquilo, não queria forçá-la a entrar naquela conversa. Sabia que precisava de respostas, mas não dava para arrancá-las na marra, sempre que conversavam ela o ouvia, contudo não dizia nada. E quando a mestiça estivesse pronta, ele a ouviria. De qualquer modo, o loiro não teria muitas opções a não ser esperar até que ela estivesse pronta.

- Muito obrigada, Adrien, de novo por isso. - ela elevou a mão, sem pensar muito, segurando a dele que estava posicionada no ombro dela.

O rapaz subiu a mão do ombro para o rosto dela, a acariciando, perdido no momento.

- Vai dar certo, Marinette.

E reparando na distância cada vez menor pela aproximação de ambos, Adrien se afastou, pegou a usual mochila no chão. A Dupain-Cheng comprimiu os lábios.

- Preciso ir e você precisa descansar. Você sabe como Plagg pode ser exigente. Então, por favor não seja cabeça dura e descansa, ok?! - ele deu ênfase no final da frase e Marinette sorriu levemente pela preocupação dele.

O Agreste abriu a porta saindo do recinto quando a franco-chinesa acenou um tchau. 

A Dupain-Cheng soltou o ar pela boca e se encarou no espelho. Amanhã ela teria um longo dia e só torcia para que tudo desse certo.

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