- Um; A Tragédia de Giselle -

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Paris parecia um papel em branco pelo acúmulo de neve. O frio congelante fez Adrien tremer levemente. Provavelmente, o sobretudo cinza não estava fazendo um bom trabalho para protegê-lo daquele frio.

Continuou caminhando pelas ruas, distraído demais para reparar no mundo a sua volta. O que Chloé havia lhe pedido mais cedo perturbou sua mente e a inundou de pensamentos ansiosos pelo resto do dia. E naquele momento andando de volta para o apartamento, onde morava com o melhor amigo, ele pensava novamente, como um vício, no dia em que tudo havia acabado para ele.

"Adrien pôde ouvir os aplausos da plateia no Palais Garnier, o mais renomado teatro francês. As bailarinas se curvaram para o público agradecidas após o final do primeiro ato. Por detrás das cortinas ele as observou, correndo de volta para os bastidores com enormes sorrisos.

Marinette apareceu ao seu lado, dando um leve pulinho para abraçá-lo. Faltavam poucos minutos para que eles entrassem em cena, interpretando o ballet romântico de Giselle, o papel da protagonista era um dos mais difíceis de ser interpretado, mas Adrien não se preocupou com o fato. A Dupain-Cheng era uma das bailarinas mais talentosas de sua geração. Uma verdadeira estrela em ascensão. E ele estava certo, o papel principal como Giselle era dela, mas nem todos ficaram contentes com aquela notícia.

Caline Bustier, a coreógrafa responsável pela peça, os chamou.

- Adrien! Marinette! Vocês entram em um minuto. - a mulher de longos cabelos ruivos, presos em um coque, parecia nervosa e agitada para aquela noite de estreia.

- Sim, Srta. Bustier, nós já estamos indo. - Marinette respondeu sorridente.

Encarou Adrien por um par de segundos.

- Boa sorte, gatinho. - beijou rapidamente a bochecha dele.

- Se você vai dançar comigo, então eu já tenho toda a sorte do mundo. - ela sorriu apaixonadamente para ele, antes de se posicionar para sua entrada no palco.

O segundo ato começaria. O loiro entraria minutos depois dela.

Ele só não imaginava que fosse a última vez que a via sorrindo daquela forma.

E o rapaz viu sua Marinette dançar como Giselle e interpretar a dor e a tristeza que a personagem sentia, depois de descobrir que seu amado era noivo de outra mulher e havia mentido sobre sua posição social, fingindo ser um camponês.

E delirante, ela morre cravando uma espada em seu próprio peito.

O personagem do rapaz,  Albrecht entra em cena, o grande amor de Giselle, a procura do túmulo de sua amada na floresta. Encontrando-se com as Willis, noivas fantasmagóricas que morreram virgens antes de se casarem, as quais atacam qualquer homem que entre em seu domínio, fazendo o dançar até a morte. Albrecht é condenado àquele terrível destino, mas o amor inabalável de Giselle não permite que a maldição se concretize, dançando em seu lugar.

E ela dançou aos olhos de Albrecht até o alvorecer, quando as Willis perdem seu poder. O rapaz estava a salvo graças a jovem camponesa que o perdoa, mas é condenada a ser uma Willis para sempre.

Os dois dançavam como se fosse parte de suas vidas, como se não houvesse antes ou depois, apenas a existência dos dois naquele palco, sofrendo por seus personagens, pela infelicidade deles, pelos seus destinos trágicos. Eles sentiram na pele a dor daquele ballet.

E quando se encararam antes de tudo terminar, afastados pela posição final de seus personagens, os jovens perceberam que estavam chorando. Sorriram discretamente um para o outro.

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