17 - Quase nos deixamos levar.

230 48 76
                                    

[09 de Maio de 1985]

— Não sei como você me convenceu a vir num lugar desses. – Reclamou Dandara.

— Foi você que se auto convidou. 

Celine procurava por peças no amontoado de objetos do ferro velho enquanto Dandara cruzava os braços e olhava as palmeiras a dançarem pelo vento de outono. Trocou o peso do corpo para a perna esquerda e encarou Celine mais uma vez.

— Mas eu não achei que a gente viria para esse monte de tralha.

— O lixo de uns é o tesouro de outros. – Celine proferiu. – Você nem ao menos me perguntou onde eu estava indo, para começo de conversa.

— Achei que seria um lugar menos bagunçado e não aqui, longe do centro da cidade e de tudo. Além do mais, você disse que estava criando um tipo de cosmético, o que raios você está procurando para colocar em um cosmético?

— O que eu estou procurando não irei colocar dentro do cosmético. – Celine disse como se falasse algo óbvio. – É para eu fazer o mecanismo de...ah, você vai ver quando eu terminar. – Ela disse polpando tempo que gastaria tentando explicar aquilo para Dandara.

— Tudo bem, só ache isso logo. Há mosquitos me picando.

Celine continuou sua busca entre os amontoados e Dandara continuou a observar as palmeiras a balançarem enquanto cantarolava uma música que ainda não havia sido criada em 1985. Não demorou muito mais para que Celine terminasse de pegar tudo que achava necessário e guardar em um caixote de madeira. 

Dandara sorriu e as duas saíram do ferro velho.

— Você já quis ganhar reconhecimento?

— Como assim? – Celine perguntou estranhando a pergunta repentina de Dandara.

— Sobre a máquina do tempo, sobre ter criado ela.

— A Celine de catorze anos talvez, mas eu não. Além disso, é perigoso as pessoas saberem da existência da máquina relógio. – Ela deu uma pausa. – Você gostaria caso fosse você?

— Se fosse a máquina do tempo, não, porque eu entendo que é perigoso e percurso do tempo e essas coisas que você fala, mas se eu fizesse algo com que me dediquei tanto, gostaria de ser reconhecida por isso.

— Como os vestidos que anda desenhando? – Celine perguntou.

— É, como isso.

***


Dandara colocou um disco de vinil na vitrola, a música lhe pareceu familiar. Era Take On Me de a-ha, mas Dandara não saberia dizer o nome.

Celine estava no quarto a mexer em algumas coisas e a pensar, sorriu ao ouvir a música que Dandara havia colocado. Era bom ter alguém ali naquela casa grande, alguém que dava cor e vida aquele lugar, como Dandara, já Celine sentia que a casa ficava tão escura e triste quando era só ela ali. Aquela casa bonita e praiana nunca havia sido feita para uma pessoa só, era o lugar em que Celine cresceu e estudou, o lugar em que viveu com os pais, e depois da morte deles, não conseguiu mais viver ali e precisou achar um apartamento.

— Dandara. – Celine a chamou, elevando um pouco a voz para que Dandara a ouvisse em meio a música que tocava.

Dandara caminhou até o quarto, parando no batente da porta. Segurava uma xícara com chá na mão. Seus cabelos cacheados estavam presos num coque simples, os fios saindo singelamente. A música ainda tocava.

80 Chances Para Te Reconquistar Onde histórias criam vida. Descubra agora