19 - Algumas ficam, outras vão embora.

181 48 56
                                    

*aviso de gatilho: esse capítulo pode apresentar violência explícita que pode ser sensível a determinado público.

[14 de Maio de 1985]

A loira suspirou.

— Entre. – Ela pediu e Dandara entrou no apartamento. As duas se sentaram, cada uma em um dos sofás, e Celine começou: – Bom...Eu nasci numa tarde chuvosa de 1967, cresci aqui, sendo filha de dois gênios. Nem sempre isso era algo bom, eu sempre estava a frente dos outros alunos da minha turma, eu era a garotinha mais solitária daquela incrível escola. Eu passava muito tempo estudando e mal brincava na rua.

"Na adolescência, depois da máquina do tempo, eu vivia voltando para os anos setenta, e comecei a querer me enturmar. Com quinze anos eu já estava fumando cigarros com outros jovens pelas ruas da cidade. Eu sabia o quão mal aquilo causava para mim e para minha saúde, mas eu não conseguia parar. Eu tentei por diversas vezes, mas eu não conseguia, vício é assim, toma conta de você. Então meus pais morreram e eu me vi no fundo do poço. Eu não tinha nada, não tinha amigos, não tinha pais, e as únicas pessoas da minha idade que eu conversava não eram sequer da minha própria época."

"Eu morei com meu tio por um tempo, e depois aluguei meu apartamento. Então eu conheci o Dan, e ele me ajudou a parar de fumar. Ele havia perdido o pai dele também, então eu sabia que ele me entendia, e ele me ajudou a ter vontade de acordar pela manhã. Depois eu finalmente voltei a usar a máquina do tempo e quis ir para o futuro, e lá em 2021 eu esbarrei em uma menina bonita, e tudo teve cor novamente, não só pela menina, mas porque eu sentia que aquela era a época que eu deveria ter nascido, a época que, apesar de tudo, eu pude fazer amigos, nem que fosse por meio de tecnologias, até que as coisas pioraram novamente..."

"...Então, Dandara, essa sou eu. Uma orfã, ex-fumante e... humana."

— E uma pessoa brilhante. – Dandara completou.

— É...Talvez...

— Obrigada por me contar, sei que não é fácil, mas eu precisava saber.

— É, eu sei.

— Tem mais uma coisa.

— O que é?

— Sei que ainda tem algo que não me falou. É sobre minha morte, não é? Celine, me diga, como eu morri da primeira vez?

Celine levou seu corpo para trás e negou com a cabeça.

— Não, Dandara, isso não.

— Eu mereço saber.

— Não posso...

— Celine, me conte.

A loira fechou os olhos e respirou fundo.

— Você não quer saber, acredite em mim.

— Não importa o quão ruim seja, eu preciso saber.

— Tem certeza? – Ela perguntou com voz fraca, quase como um sussurro, e Dandara assentiu. Celine com os olhos marejados, segurou as mãos de Dandara. – Foi em setembro. Eu e você estávamos namorando há meses. Você estava feliz.

E de repente as memórias alcançaram a cabeça da viajante.

"Era uma noite, estávamos indo na sua casa porque você decidiu que iria me apresentar a sua mãe"

— Você sabe, minha mãe não é nem de longe uma mãe exemplar, mas ela está sóbria há uma semana. Quero que ela saiba por quem eu estou completamente apaixonada. – Ela segurou a mão de Celine.

— Olhe, está começando a chover. – Celine disse sentindo as gotas caírem.

— Então é melhor nos apressarmos.

As duas, de mãos dadas, apressaram o passo sentindo a chuva aumentar. Chegando na calçada pararam, e Dandara depositou um beijo na bochecha de Celine. Ela abriu a porta de sua casa e, quando entraram, Dandara viu sua mãe jogada no sofá da sala, bebendo direto de uma garrafa.

"Ela parecia ter começado a beber a pouco tempo e, dessa vez, você preferiu não brigar com ela, não sei se foi porque eu estava ali ou se porque estava feliz com suas próprias coisas, eu não sei. Só sei que você me apresentou a ela mesmo assim."

— Mãe... — Dandara hesitou, talvez aquela não fosse uma boa hora, mas nunca teria uma boa hora com Sônia, portanto continuou: – Essa é a minha namorada, Celine. – Celine sorriu, nunca se cansaria de ouvir aquela palavra. – Ela é muito especial para mim. Ela é a pessoa mais divertida, amável e esquisita que eu conheço, então gostaria que fosse gentil com ela.

"Então sua mãe... Ela te xingou de todos os nomes possíveis, com todas as palavras possíveis, ela estava furiosa com você e você simplesmente não aguentou mais aquilo, não aguentou ser maltratada daquele jeito, então você a desferiu um tapa no rosto...– Celine começou a chorar. As memórias apareciam na sua cabeça, tão frescas. – E... ela... ela revidou, só que com a garrafa de vidro...Dandara...Dandara, você caiu no chão, com o vidro espalhado por todo o canto... Você não resistiu."

Celine estava em prantos.

Dandara não conseguiu mais respirar depois do que havia escutado. Seu pulmão buscava pelo ar que lhe faltava. Tossia, suas respirações se tornavam rápidas e curtas, cada vez mais curtas. Celine se assustou, a mão de Dandara apertava a sua. Celine rapidamente procurou nos bolsos de Dandara por sua bombinha, até finalmente a encontrar e a dar para a garota que inalou o ar.

— A minha... A minha própria mãe. – Dandara dizia com voz fraca entre soluços e lágrimas.

— Eu sinto muito, muito mesmo. – Celine a abraçou, envolvendo seus braços em Dandara, que apoiou sua cabeça no peito da loira.

***

Uma hora se passou. Dandara havia parado de chorar e seu cabelo já não estava mais desgrenhado. O relógio azul estava no seu pulso.

— Não faça nenhuma besteira. – Celine pediu.

— Eu não vou machucar minha mãe se essa é a sua preocupação.

— Tem certeza que está bem?

— Não. – Dandara foi sincera. – Mas eu só morri em setembro, certo? Então se eu for para janeiro, ficarei bem, não é?

— Eu não sei. Como eu te disse antes, depois que eu voltei no tempo você morreu em outros meses também.

— Eu vou ficar bem.

— Só me prometa que, se você sentir a terra tremer, nem que for apenas por um segundo, irá fugir para qualquer outra época, okay? – Dandara não entendeu aquilo de princípio, mas assentiu. – Promete?

— Eu prometo.

Celine suspirou.

— Tchau, Dandara.

Dandara adicionou a data e o local no relógio. E então... 

✨✨✨

eu chorei e nem é brincadeira.

Nos vemos no próximo capítulo pessoal! Amo vcs

80 Chances Para Te Reconquistar Onde histórias criam vida. Descubra agora