[25 de Janeiro de 2021]
O vento soprava sereno e o sol esquentava a areia da praia. O chocar das ondas contra as rochas era como um som pacífico e relaxante que a fazia se esquecer de todo o caos que atormentava seu consciente, como uma turbulência que agita tudo em sua volta.
Mesmo que uma máscara tapasse seu nariz, ela inspirou profundamente. Imaginou seus problemas saírem da sua cabeça e mergulharem na água e sumirem com a correnteza, era um pensamento corriqueiro que a causava certo conforto no peito.
Deu uma boa olhada na praia quase completamente vazia. Viu dois garotinhos brincando de peteca mais a frente e sorriu por trás da máscara, era bonito para ela ver como, mesmo com todo o caos que o mundo se encontrava, eles ainda conseguiam se divertir.
Ver os meninos a fez pensar em seu irmão mais novo e uma saudade enorme se instaurou em seu coração, já se faziam alguns anos que não o via, visto que ele fora morar com o pai em outro estado, mas apesar da saudade e da falta que ele fazia nela, ela ficava feliz por ele, afinal, o pequeno garoto que já deveria estar com treze anos havia, sem sombra de dúvidas, tido uma sorte maior que a dela.
Ela se levantou, ajustando seu short jeans e tirando a areia que havia ficado em sua roupa. Calçou seus chinelos e fez o caminho para sua casa, que não era longe dali.
Tirou sua máscara e lavou suas mãos quando chegou. Procurou de baixo do sofá, da cama, nos vasos de plantas e entre os armários até que achasse todas as garrafas de bebidas que sua mãe escondia. Esvaziou cada uma e ajudou sua mãe, que estava adormecida no sofá, a caminhar para a cama.
Deixou sua mãe deitada e caminhou em direção ao seu próprio quarto, onde colocou os fones de ouvido e deitou-se na cama. Odiava o quão monótona sua vida havia se tornado, era sempre as mesmas coisas, os mesmos dias que se repetiam, os mesmos problemas. As músicas sempre foram como uma luz em sua vida, uma das poucas que ainda lhe restavam, e sempre que possível renovava sua playlist, para que essa parte da sua vida fosse sempre nova e nova, mesmo que acompanhada de músicas antigas.
Olhou para sua blusa florida e lembrou-se da dívida que havia ficado. Caminhou até a pequena gaveta fechada em sua escrivaninha, onde guardava seu dinheiro e girou a pequena chave para que a abrisse. Sua face logo se transformou em surpresa e raiva quando viu que todo o dinheiro que havia guardado havia sumido.
Com passos pesados e apressados entrou no quarto de sua mãe. Balançou seus ombros para que a mulher acordasse.
— Onde está o meu dinheiro? Foi você que o pegou não foi?!
— Dandara!! O que está falando? – Sua mãe exasperou de volta, mas sua voz ainda estava arrastada devido a bebida que havia tomado.
— Estou falando do dinheiro que eu juntei esse mês, estava na minha gaveta, trancado, mas você conseguiu abrir, não foi?
— Aquela merreca? – A mulher perguntou num tom de desprezo. – Não consegui comprar nem metade do que eu queria com aquilo.
— Você é uma aproveitadora mesmo! Era meu dinheiro! Meu! Se você quer afogar suas mágoas em bebida, que arrume dinheiro para comprar!
— Você é uma ingrata, Dandara! Eu te carreguei por nove meses e você não pode emprestar um dinheiro para sua mãe? Sinceramente, eu queria que você nunca tivesse nascido. – E num ato rápido, Sônia desferiu um cuspe no rosto da filha.
Dandara limpou seu rosto e saiu do quarto, batendo a porta. Seu corpo pareceu pesado e sem resistir, caiu ao chão em choros silenciosos. Droga de vida, ela pensava.
Limpou as lágrimas e pegou sua máscara, a colocando e saindo de sua casa. Bateu no portão das suas vizinhas da frente.
— Me desculpem, – Ela começou quando as duas mulheres de uns cinquenta e poucos anos atenderam, uma delas segurando um gato branco. – Mas eu não vou conseguir pagar a blusa este mês, infelizmente houve um problema com meu dinheiro...
— Foi sua mãe, não foi? – Uma delas sugeriu, interrompendo Dandara.
— Ela pegou o seu dinheiro? – A outra perguntou.
— Realmente não vem ao caso. – Dandara se pronunciou.
Era o que me faltava, Dandara pensou. Ter feito uma blusa com suas vizinhas havia entrado na lista de uma das coisas nas quais nunca faria novamente, já era horrível para ela ter que conviver com aquelas duas fofoqueiras que pareciam ter o cuidado de sua vida como um passatempo, e agora ficar em dívida com aquelas mulheres parecia o pesadelo, se bem que ela achava que se o pesadelo tivesse um rosto, teria o rosto daquelas duas línguarudas, como Dandara as chamava secretamente.
— Olha, eu prometo que pagarei a blusa no mês que vem, tudo bem?
Ao ver as mulheres assentirem, Dandara deu meia volta e saiu dali. Não queria voltar para dentro de casa, então decidiu que faria um passeio pelas ruas já tão conhecidas de sua cidade litorânea.
Passou a mão em seus cabelos negros e cacheados e os prendeu em um coque enquanto andava sem saber ao certo para aonde ia. O sol quente havia rapidamente sido coberto de nuvens e uma sensação estranha fez com que seus pelos do braço se arrepiassem.
Olhou para trás, não vendo nada além de suas vizinhas a encarando.
— Velhas fofoqueiras. – Murmurou para si.
Continuou andando, mas a cada passo dado sentia a sensação estranha aumentar, era como se algo estivesse errado. Parecia que havia algo em suas memórias que ela não se recordava, como quando ela acordava pelas manhãs e por mais que tentasse, não se lembrava dos sonhos que tivera.
Ignorou essa sensação, ela estava mesmo ficando louca. Tentou concentrar seus pensamentos no barulho das ondas, imaginou a sensação estranha mergulhar no oceano para que fosse embora com as correntezas.
Mas antes que conseguisse terminar de imaginar, sentiu-se puxada por algo ou alguém e quando voltou para si, estava no que parecia um beco. Iria gritar por socorro, mas uma mão gelada e magra tampou sua boca a impedindo.
— Calma. – A voz feminina pediu e devagar, tirou a mão que tampava sua boca.
Foi então que Dandara pôde encarar a moça estranha. Ela deveria ter sua idade, tinha cabelos loiros, uma franja que cobria sua testa e na boca um pirulito vermelho. A moça não deu tempo para que Dandara pensasse mais, colocou um relógio azul estranho em seu pulso.
— Quem é você? O que você está fazendo?!
Dandara tentou tirar o relógio de seu pulso mas não conseguia, viu então que a moça estranha possuía um igual. Era um relógio moderno, e a loira parecia estar mexendo em algum mecanismo estranho dele. Tentou sair dali, mas tão rápido a menina segurou seu pulso, a impedindo novamente.
— Isso vai doer um pouco, mas logo passa.
A moça disse clicando em algo no relógio que havia colocado em Dandara. Aquilo foi a última coisa que ela ouviu antes que tudo em sua volta se escurecesse e se tornasse inaudível.
✨✨✨
Primeiro capítulo postado! Me digam o que acharam por favor <3
Nos vemos no próximo!
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80 Chances Para Te Reconquistar
Ciencia Ficción"Dandara havia se cansado de estar acostumada com a monotonia de seus dias, os mesmos acontecimentos, problemas, dramas se repetindo toda vez que o sol começava a surgir. Então quando uma jovem loira e misteriosa a levou de volta ao passado, dizendo...