23 - Está tudo bem em querer ficar.

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[23 de Maio de 1985]

— Gabriela, a mesa seis. – Celine a indicou.

A moça fez um gesto de concordância com a cabeça e se dirigiu a mesa.

— Vejo que está fazendo um bom trabalho. – Celine tomou um susto com a voz de Beatrice.

— Estou fazendo um ótimo trabalho. – Ela a corrigiu.

— De qualquer jeito, tenho algo a te dizer que não é sobre trabalho.

— E sobre o que é?

— Um concurso de dança! – Beatrice disse cantando.

— E por que você está falando disso comigo? – Celine cruzou os braços.

— Porque você será minha companhia!

Nananinanão.

— Será sim! Você sabe dançar, não sabe?

— Só nos seus sonhos irá me ver dançando.

— Não posso ir sozinha. – Beatrice choramingou. Celine a olhou fazer um biquinho e piscar os olhos numa atitude exagerada de quem implora.

— Se eu for, e se eu for não vou dançar, estará me devendo uma.

— Fechado! – Beatrice estendeu a mão, apertando a de Celine. – Irá ser magnífico, já tenho um vestido apropriado. Espere para ver.

***


Dandara estava passando boa parte de seus dias na discoteca. Chegava mais cedo e conversava muito com João. Já o considerava um amigo. Ele era divertido, a ouvia e também contava suas histórias. Depois de conversar com ele, ela normalmente dançava, e quão divertidas aquelas discotecas poderiam ser!

Agora ela estava lá, o ajudando a guardar as bebidas que a pouco haviam sido entregues. João parecia concentrado, lendo os rótulos e guardando cada uma em seu devido lugar. Já Dandara achava irônico estar guardando as bebidas daquele bar quando, normalmente, era quem as jogava fora.

Enquanto ajudava João naquela tarefa, sem perceber Dandara cantarolava.

— Eu conheço essa música. – João afirmou, olhando para a garota. – Celine a canta de vez em quando, baixinho né, porque ela não é de fazer apresentações. – Ele riu.

— Ah, é? Ela canta?

— Sim, sim. Qual é mesmo o nome da música?

I wanna be yours. – Dandara respondeu e o rapaz balançou a cabeça como se dissesse "ah, sim".

— Acabamos. – João anunciou vendo que as garrafas estavam enfim guardadas. – Sabe, – Ele se sentou em uma cadeira, começando assunto. – Eu já tive uma paixãozinha na Celine.

— Mas você sabe que ela é... – Dandara parou de dizer. Estava nos anos oitenta, se lembrou. Se na atualidade já era difícil, a mentalidade das pessoas naquela época era pior.

— Gay. – Ele completou e Dandara abriu a boca, surpresa. – É, depois eu soube.

— Ela te contou?

— Não, Celine não é de dizer coisas pessoais, mas eu percebi depois.

— E você não liga para isso?

— Por que eu ligaria? É quem ela é e quem ela ama. O mínimo que eu posso fazer é respeita-la.

— É legal da sua parte levando em conta a sua época.

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