Epílogo

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[25 de Janeiro de 2021]

O vento soprava sereno e o sol esquentava a areia da praia. As ondas ao fundo cantavam e pássaros voavam alto ao redor daquela cidade litorânea. Era 25 de Janeiro novamente.

— Olha, eu prometo que pagarei a blusa no mês que vem, tudo bem? – Dandara avisou e viu Dona Luísa assentir para ela.

Girou os calcanhares e começou a andar. Estava com vontade de chorar mas não chorou, não ousaria derramar mais lágrimas por causa de Sônia. Não naquele momento. Só gostaria de distrair sua cabeça, de respirar.

— Falta quanto? – Uma delas perguntou.

— Uns trinta segundos, aproximadamente. – A outra respondeu.

Dandara já estava longe, sentindo a sensação esquisita a rondar, tinha algo estranho, sentiu seus pelos se arrepiarem.

Olhou para trás, não vendo nada além de suas vizinhas a encarando.

— Velhas fofoqueiras. – Murmurou para si.

— Velhas fofoqueiras. – Ela contou.

— O quê?

— Foi o que ela disse.

A outra riu.

— Vai acontecer agora. – Luísa proferiu e logo Dandara foi puxada por alguém no beco. As duas senhoras olharam a cena com os olhos atentos, sem piscar.

Então uma delas soltou uma risada.

— Velhas fofoqueiras. – Luísa repetiu. – Nem somos velhas assim.

A outra, de cinquenta e poucos anos, soltou mais uma risada e colocou o gato, que antes segurava no colo, no chão.

— O quê? Está se sentindo nostálgica, Luísa?

— Sabe que não precisa me chamar de Luísa quando estamos a sós. – A mulher a lembrou, entrando na casa.

— Eu sei, Dandara, eu sei. Só acho engraçado.

— Mas respondendo a sua pergunta, Celine, sim, me sinto nostálgica. – Sorriu. – Foi onde tudo começou.

— E pensar que você odiava suas vizinhas.

— E você também não gostava muito delas pelo que me dizia.

— Éramos jovens e imaturas, afinal, de que outra maneira poderíamos não gostar de nós? Somos incríveis.

Dandara riu, guardando a chave de casa numa mesinha. Levou a mão aos cabelos cacheados pretos, que agora também estavam com um bom punhado de fios cinzentos, e os prendeu.

— Você sempre muito modesta.

— Sempre. – Celine afirmou, caminhando até a companheira de longos anos e beijando sua testa.

— Onde vamos agora? Estava pensando em rever a copa de 2002, ou então aparecer na Time Traveller's Party.

— Sabe muito bem que não podemos ir nessa festa, e também que não sou fã de futebol.

Dandara bufou.

— Vou morrer querendo ir nessa festa. – Então soltou uma risada. – Estou brincando, na verdade, estava pensando em não viajarmos para época nenhuma por enquanto, afinal, agora tudo vai ser novo para nós. A primeira vez que as coisas vão ser novas.

— Está certa. – Celine sorriu, mesmo que para ela, as coisas só seriam novas em setembro daquele ano. – Acho que é hora de sentar, e assistir.  

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