07 - Rir à toa.

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[29 de Abril de 1985]

Qual é a dessas revistas? – Dandara perguntou sentada no sofá de maneira despojada enquanto folheava as páginas. – São todas sobre praia, tipo, você mora praticamente na praia, não vejo qual o entretenimento em ler isso.

— Eu as comprei ontem e já as li há um tempo, agora só preciso mantê-las, tudo bem? – Celine falou pegando as revistas da mão de Dandara e as guardando perto da televisão.

— Você é um pouco esquisita, sabia?

— Vou levar isso como um elogio.

— Já está indo para a lanchonete?

— Sim. – Celine respondeu enquanto prendia o cabelo com grampos. — Vai ficar aí?

— Vou, quero dar uma volta pela cidade.

— Só tome cuidado.

— Pode deixar, até achei umas luvas de boxe nas suas coisas, pode ser útil. – Dandara brincou fazendo movimentos de lutas com as mãos. – Não sabia que você lutava.

— Eu não luto.

— Então você só tem as luvas à toa?

— Não é à toa.

— Eu entendi, você é tipo uma guardadora. Fica juntando tralha.

— Eu não sou uma guardadora.

— E essas revistas? – Dandara apontou para os objetos.

— Isso é diferente.

— Não vejo como.

— Está bem, chega, eu vou chegar atrasada.

Dandara soltou uma risada.

— Então vai lá!

Ela viu a moça sair da casa e subiu as escadas até chegar no quarto. Naqueles dias estava usando roupas emprestadas de Celine, e por mais que elas fossem ou muito coloridas, ou pretas demais, era até divertido vestir roupas que não eram muito de seu habitual.

Procurou por peças de roupas mais simples e se trocou. Desceu as escadas e saiu daquela casa.

Ver a praia lotada de turistas e pessoas parecia até um pouco errado para Dandara, visto que havia ganhado uma certa aversão de aglomerações, mas aquilo a deixava feliz, ver todas aquelas pessoas e guarda-sóis por toda a beira-mar. Algumas pessoas ali poderiam ser já avós em sua época, mães, pais, tias cheias de gatos e muito mais, e era engraçado ver por aquela perspectiva, imaginar que ela poderia já ter esbarrado em muitos deles em seus estados mais velhos.

Pensou então em sua mãe, ela deveria ser uma criança e pelo que sabia da história dela, ela deveria estar em outra cidade naquele tempo. Por um instante, Dandara pensou em tentar evitar que sua avó a colocasse na rua, evitar que Sônia não finalizasse o ensino médio e evitar que começasse a beber, mas apesar da ideia ser tentadora, Dandara sabia que aquilo poderia arriscar sua própria existência, e mesmo que não amasse a vida que levava, ainda era curiosa o suficiente para querer estar viva para ver coisas diferentes, como estava fazendo naquele instante.

Um carro de telemensagem passou na rua próxima a orla da praia e gritava com todas as palavras dizeres de amor. Dandara não conseguiu evitar rir e tampar sua face com as mãos ao começar a tocar uma música melosa e clichê pelo som do carro.

Parecia muito vergonhoso para ela a ideia da existência daquilo, apesar de saber que algumas pessoas achavam romântico, ela não conseguiria saber onde enfiar a cara se alguém lhe fizesse tal feitio.

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