[03 de Maio de 1985]
Celine pegou a chave e abriu a porta com certa dificuldade devido as sacolas de compras que segurava na mão. Quando adentrou, viu Dandara a colocar um disco na vitrola, pelo jeito a garota havia aprendido a mexer no objeto.
— Eu só vim trazer algumas comidas. – Celine se apressou em dizer.
— Tudo bem. Pode ficar aqui na casa de praia se quiser, afinal, é sua casa, não minha.
— Que comidas são essas? – Celine perguntou mudando de assunto e encarando a geladeira que não estava tão vazia quanto havia imaginado.
— Ah é, eu comprei.
— Não me diga que enganou velhinhas outra vez, Dandara.
— Não, eu só estou ajudando a vizinha a costurar algumas peças e, ela me pagou um dinheiro que deu para eu comprar algumas comidas, ao menos as mais baratas.
Celine assentiu, continuando a guardar as compras.
Dandara encarou a loira por alguns segundos e ao se lembrar do que gostaria de fazer, forçou um sorriso. Estava perto de Celine e iria aproveitar da oportunidade.
— Sabe, acho que seria legal se eu conhecesse seus pais. – Dandara falou de repente e Celine abriu a boca em surpresa.
— E de onde veio essa ideia? – Ela quis saber.
— Ah, vai, tenho que conhecer os cientistas que criaram a máquina do tempo! – Dandara atuou, mesmo que de fato, desejasse conhecer eles, caso existissem.
— Não acho que é uma boa ideia.
— Por que eles moram longe? – Dandara instigou.
— É.
— Mas podemos viajar de carro, no seu chevette, ah vai, seria legal, e a Beatrice te daria uma folga.
— Não, Dandara, desculpe-me, mas não. – Celine concluiu, encerrando o assunto por ora e voltando sua atenção ao que fazia.
***
A senhora, que não deveria ter mais que sessenta anos, cabelos grisalhos e olhos escuros, jogou as peças encima de uma mesa próxima aonde Dandara se encontrava, segurando alguns papéis.
— Estas roupas estão precisando de costuras. Algumas de botões, outras de zíperes. – A senhora disse. Eram de fato muitas roupas, mas Dandara não pareceu se importar com aquilo.
— Certo, dona Clara. Mas confesso que estou aqui por outro motivo também.
— O que é, mocinha? – Ela perguntou com sua voz rouca, porém gentil.
— Fiz esses desenhos e gostaria de saber a sua opinião, e se me ajudaria a fazer as roupas? – Dandara perguntou, estendendo os papéis na frente da senhora que, precisou de seus óculos para que pudesse enxergar direito os desenhos. Eram croquis de diversos tipos de roupas, em sua maioria vestidos, desenhados com cuidado por Dandara. – O que acha? – Ela perguntou ansiosa.
— São bons. – A senhora avaliou. – Mas acho que está faltando algo, minha cara. Um pouco de cor, talvez devesse perguntar a alguém que entenda mais do assunto do que uma velha costureira como eu.
— Certo. – Dandara assentiu. – Obrigada. – E de supetão deu um abraço na senhora, que pareceu surpresa com o gesto. – Irei costurar os botões e zíperes. – Dandara disse por fim, recolhendo as roupas.
O sol começava a se pôr. Celine deveria estar no laboratório a fazer alguma coisa, e Dandara havia finalmente terminado uma parte das costuras. Sentou-se no sofá e de maneira folgada, apoiou os pés na mesa de centro. Com o ato, acabou derrubando os papéis que havia deixado ali.
Se levantou, recolheu os croquis que havia espalhado no chão, os organizou e ficou por um tempo os encarando, de maneira pensativa.
Caminhou em passos calmos por um corredor da casa, na porta à direita havia o quarto de Celine, mas alguns metros à diante, virando à esquerda, havia uma porta fechada que dava ao pequeno laboratório que Celine fazia seus experimentos.
Abriu a porta cuidadosamente, Celine estava em uma cadeira, usando um jaleco branco, luvas e óculos esquisitos que mais pareciam aqueles óculos antigos de aviação. Na lousa branca, um pouco a frente dela, haviam muitos cálculos e equações que causavam uma certa dor de cabeça em Dandara, por não entender nada do que todas aquelas letras e números significavam.
— Dandara.
— Ei...Estou te atrapalhando?
— Não, de maneira alguma. – Celine disse retirando os óculos e parando o que estava fazendo.
— Eu pensei que você pudesse me ajudar numa coisa.
— Fale, o que é?
Dandara se aproximou e então estendeu os papéis para que Celine visse.
— Eu estou fazendo estes croquis, mas acredito que está faltando algumas coisas, e como você parece entender bastante de moda, pensei que talvez pudesse me guiar nisso.
— Claro. Sente-se. – Celine puxou uma cadeira para Dandara. Tirou todas as coisas da mesa e deixou apenas os papéis de Dandara e alguns lápis e borrachas. – São muito bonitos seus desenhos. – Ela afirmou e Dandara a olhou desconcertada. – Bom... aqui, por exemplo. – Ela indicou com o lápis. – Talvez devesse colocar um brilho, e aqui uma cor que contraste com o laranja, como o azul por exemplo, e aqui...
Assim as duas continuaram, até que o sol desse lugar a bonita lua no céu. Celine deu ideias para Dandara, e depois de um tempo já não estavam mais falando dos croquis, falavam de coisas aleatórias, falavam de Beatrice, da senhora Clara, de Daniel, falavam de música, de rock, de pop, falavam de qualquer coisa, mas tinha uma coisa em específico que Dandara estava disposta a conversar sobre.
— Estava pensando...
— Diga. – Celine pediu.
— Amanhã não terei o que fazer...
— E o que quer fazer?
— Queria dar um passeio.
— Que passeio?
— Para conhecer seus pais.
— Dandara. – Celine repreendeu.
— Ah, vamos, por favor.
Celine desviou o olhar.
— Você tem algum problema com seus pais?
— Eu não tenho nenhum problema.
— Então o que é?
Celine abriu a boca, olhou para Dandara e a garota poderia jurar que a loira estava pronta para a dizer algo, pronta para a contar seja lá o que fosse que ela escondia, mas então ela fechou a boca e se levantou de repente.
— Não podemos ir. E eu preciso dormir agora.
E Celine simplesmente saiu.
✨✨✨
Obrigada pelos 2k gente linda!!
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80 Chances Para Te Reconquistar
Fiksi Ilmiah"Dandara havia se cansado de estar acostumada com a monotonia de seus dias, os mesmos acontecimentos, problemas, dramas se repetindo toda vez que o sol começava a surgir. Então quando uma jovem loira e misteriosa a levou de volta ao passado, dizendo...