[30 de Abril de 1985]
O mar sempre fora algo especial para Dandara, desde os tempos de menina em que ela saía pela praia acompanhada de sua tia e levava seus baldes de brinquedo e criava seus castelinhos de areia. O mar às vezes levava seus castelos, mas Dandara nunca se chateava, ela passava as mãos sobre a água salgada e proferia em sua doce voz de criança "Tá desculpado."
Ao tempo em que crescia, seu amor pelo mar crescia junto, amava o quão perigoso e calmo as ondas poderiam ser, amava praia, chinelos, acarajé ou picolé, amava conchas, sol, pagode, amava histórias de piratas, sereias e krakens, amava tudo que a lembrava do mar.
E mesmo não acordando na casa praiana de Celine, pela varanda do apartamento ainda ouvia os sons das ondas a quebrarem.
— Bom dia. – Celine a desejou assim que a viu, levantada encarando a paisagem.
— Bom dia. – A outra respondeu ainda imersa em seus próprios pensamentos.
Um cheiro leve e saboroso atingiu a narina da garota enquanto ouvia aquele barulho de fritura. Não resistiu e saiu da varanda, entrando na pequena cozinha do local.
— Eu amo panquecas! – Dandara contou com animação enquanto via a loira a preparar o café da manhã.
— É, eu sei.
Dandara pegou uma recém feita do prato, balançando as mãos no intuito de não se queimar, já que a panqueca ainda estava quente.
— Você dormiu bem? – Dandara perguntou para Celine, mas com uma genuína preocupação. De madrugada, quando fora se levantar para beber água, viu a garota viajante a se contorcer no sofá enquanto dormia, parecia estar tendo um pesadelo, e não parecia qualquer pesadelo. Celine derrubava lágrimas e se encolhia, parecia até como uma criança em apuros, e para Dandara, que havia se acostumado a vê-la sempre com uma postura firme e afirmativa, aquilo havia sido novo e estranho.
Não a acordou, pois não sabia se tal ato poderia desencadear algo a mais, ou até mesmo assustar a loira, então colocou a coberta vermelha, que havia caído no chão, de volta nela e limpou as lágrimas que haviam caído pelo seu rosto.
— Sim. – Celine respondeu e Dandara arqueou as sobrancelhas, mas não insistiu, ela provavelmente não queria falar sobre seus sonhos, e mesmo que fosse curiosa, Dandara respeitou isso. – E você?
— Bem também.
— Eu quero te levar num lugar. – Celine contou.
— De novo? E que lugar é? – Dandara perguntou animada.
— Não vou te contar, senão estraga a surpresa.
— E quem te disse que eu gosto de surpresas? – Dandara desafiou.
— Você gosta.
— É, está certa, eu gosto. – Dandara sorriu.
***
Dandara abriu a boca, mas não disse uma palavra, estava atordoada demais com as luzes neons e os barulhos das máquinas de fliperama por todo o local.
Antes mesmo de ter voltado no tempo, Dandara tinha um apreço pelos anos oitenta e seus famosos fliperamas. Deu uma boa olhada nos jogos que os jovens jogavam. Havia Tetris, Asteroids, Spacewar e muitos outros, mas o que mais chamava a atenção dela, era aquele tão conhecido, Pac-man.
Dandara saiu feliz em direção ao jogo enquanto formava um largo sorriso. Era até estranho para ela se sentir assim, visto que havia passado a maior parte daqueles meses presa em uma falta de ânimo e alegria, mas ali ela estava, jogando Pac-man nos anos oitenta! Era algo ela que nunca acreditaria se tivessem a contado antes.
Celine sorriu para si, ficava contente em vê-la daquele jeito, e naqueles momentos, até sentia que as coisas estavam voltando a se encaixar, mesmo que por um momento apenas.
As duas jogaram jogos e riram com luzes brilhantes e sons robotizados até se cansarem. Saíram do fliperama com um rosto leve e pacífico que não era de costume de nenhuma delas, mas que se acostumariam caso preciso. Dandara pediu para que Celine passasse pela casa de praia, gostaria de ver o sol se pôr perto do mar, e assim Celine fez.
— Eu gosto disso, ver a natureza. – Dandara confessou abraçando seu próprio corpo pelo frio que havia lhes alcançado. – É uma sensação...
— Reconfortante. – Celine completou e Dandara a olhou.
— É, isso. – Ela disse sem jeito.
— Tem mais uma coisa que quero te mostrar, na verdade, é um presente. – Celine contou. – Feche os olhos, por favor.
Dandara fechou os olhos e aguardou ansiosa. Sentiu quando Celine segurou seu cabelo delicadamente, o colocando de lado. Uma corrente fina passou pelo seu pescoço de maneira gentil, como se Celine calculasse cada passo, cada movimento em sua cabeça inteligente. Fechou o colar e Dandara abriu os olhos, levando a mão ao pingente feito de uma bela concha do mar.
Formou um sorriso em seu rosto, aquilo era tão ela, aquele colar gritava Dandara, a visita ao fliperama gritava Dandara, a panqueca gritava Dandara, e de repente tudo aquilo era demais e assustador. Retirou o colar de seu pescoço de imediato, deixando Celine confusa.
— Para, por favor, Celine.
— O que foi?
— Para de agir como se você me conhecesse há anos!
— Eu não te conheço há anos, mas é como se fosse.
— Não, Celine, você não me conhece!
— Sim, eu conheço!
— Não!
— Eu te conheço, Dandara! – Celine exclamou elevando a voz. – Eu sei que sua flor favorita é margaridas, sei que já participou de uma escola de samba, sei que sua cor favorita é azul mesmo que diga ser amarelo e sei que quando está com problemas os imagina indo embora com o mar!
A última parte pegou Dandara de jeito, aquilo era algo dela, algo pessoal que nunca havia contado para mais ninguém, e Celine saber daquilo era como se alguém simplesmente tivesse invadido sua privacidade.
— Como sabe disso?
— Por que VOCÊ me contou! – Celine gritou desgastada. – Você me contou tudo isso, ao menos uma versão de você que acreditava em mim.
— Então talvez esse seja o seu problema, se tudo isso que você diz for verídico, é aquela Dandara que você conheceu, é aquela Dandara que, segundo você, se apaixonou pela Celine! Nada daquilo que você diz aconteceu para mim, a não ser eu ser levada para esta época! Eu não sou a Dandara que você viveu um romance trágico ou sabe se lá! Eu não sou! – A garota exclamou e jogou o colar na direção de Celine, que o pegou com a mão.
✨✨✨
O que acharam desse capítulo e o que esperam para o próximo?
Obrigada por ler ;)
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80 Chances Para Te Reconquistar
Ciencia Ficción"Dandara havia se cansado de estar acostumada com a monotonia de seus dias, os mesmos acontecimentos, problemas, dramas se repetindo toda vez que o sol começava a surgir. Então quando uma jovem loira e misteriosa a levou de volta ao passado, dizendo...