22 - Décima sexta tentativa.

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[Tentativa número 15]

Os cabelos de Celine estavam desgrenhados, sua maquiagem borrada, suas botas sujas. Ela estava um caos. Estava cansada, se sentia vazia. Toda vez que aquilo acontecia ela perdia uma parte do seu coração, toda vez.

Aquela já era a décima quinta tentativa. Celine fechou os olhos por um instante, não sabia quantas mais poderia aguentar.

Caminhou pela rua, precisava avisar Dandara, precisava dizer que a amava, precisava impedir, precisava acabar com o ciclo.

Ela correu, ganhando forças, e viu Dandara do outro lado da rua. Céus, como estava linda, radiante como o sol que não aparecia naquele dia. Dandara era assim, tão brilhante e tão bela, como uma pintura. Seus traços pareciam ter sido feitos da mão de um artista, era assim que Celine a via.

Então ela sentiu a terra tremer, e seu coração se apertou. Ela olhou o chão.

Estava acontecendo de novo.

— Celine?

Levantou o olhar para frente. Dandara a olhava curiosa, ela deu um passo para atravessar a rua...

Um ônibus a pegou em cheio.

O mundo de Celine se silenciou e nem o grito alto que deu ela ouviu. Caiu de joelhos, ouvindo apenas aquele chiado baixinho, nada mais. Seu coração havia perdido mais um pedaço e não fazia ideia se ainda restava algum para ela perder. Por quê? Por que aquilo estava acontecendo de novo? Qual era o problema? Qual falha havia naquela época que fazia aquilo acontecer?

— Eu... – Ela falou baixinho, no meio de sirenes e gritos de pessoas que agora ela conseguia ouvir. – Eu sou a falha.

Não sabia se aquilo era um pensamento racional ou não, mas Celine parecia ter encontrado sua resposta por um instante.

— E se eu for o problema? – Sussurrou. – E se eu ter entrado na vida dela tenha sido o problema?

Talvez aquilo não fizesse sentido, ou talvez fizesse todo o sentido do mundo, a questão era que, entre os carros, ela viu o número oitenta e então ela teve uma ideia. Ela nunca conseguia chegar a tempo desde que aquilo havia acontecido, e em sua cabeça, talvez fosse sua culpa, talvez ela tivesse haver com aquilo, então e se...e se voltasse para onde tudo começou? Para o beco onde ela se esbarrou com Dandara, e então a levasse para os anos oitenta? Aquilo funcionaria? Não sabia, mas depois de quinze tentativas, qualquer outra ideia parecia promissora. Teria de ser rápida, pensou. Teria de se arrumar, porque se desse certo, não gostaria de que Dandara a visse do jeito que estava naquele momento.

Celine não pensou ali que, se desse certo, Dandara se esqueceria de tudo, e que não se lembraria dela. Mas se tivesse pensado, teria feito da mesma maneira.

Correu para a casa de praia onde estava ficando todos aqueles meses. Não ousou chorar, estava determinada.

— Eu prometo, Dandara. Irei te salvar.

Penteou seus cabelos, trocou de roupa e pegou um de seus pirulitos. Nunca se esqueceria daquela data. 25 de Janeiro de 2021, ela digitou.

Mal sentiu a dor de cabeça dessa vez. Estava no beco. Aquela era assim, a tentativa de número dezesseis.

Olhou para a rua vendo Dandara olhando para trás.

— Velhas fofoqueiras. – A moça murmurou.

Celine esperou, e quando Dandara iria passar, Celine a puxou. Não queria tapar sua boca, mas foi preciso.

— Calma. – Celine a pediu, tirando sua mão da boca dela. Era a primeira vez em tempos que conseguia falar ao menos uma palavra para Dandara.

Dandara passou alguns minutos a encarando e, aproveitando de sua rápida distração, Celine colocou um dos relógios no pulso dela.

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