25 - Presente.

187 41 95
                                    

[03 de Junho de 1985]

Celine acordou abruptamente com o coração batendo acelerado, e um suor frio descendo sua testa. Dandara acabou acordando também.

— É só outro pesadelo. – Ela assegurou, segurando a mão da loira. – Volte a dormir.

Foi só naquela semana que Dandara havia percebido o quanto os pesadelos de Celine eram recorrentes. No geral eram sobre coisas que ela já havia visto, cenas gravadas em sua memória que apareciam durante o sono.

Dandara se preocupava. Celine tinha muitas feridas para cicatrizar, e ela esperava ao máximo que pudesse a ajudar neste processo.

— Volte a dormir. Está tudo bem. – Dandara repetiu, e Celine fez um aceno de cabeça, se ajeitando na cama e fechando os olhos, mesmo que relutante.

Dandara passou a mão nos cabelos loiros da garota e a abraçou. Por muito tempo, era Celine quem a protegia, e agora, Dandara sentia que ela quem protegia Celine.

***

Celine ajeitou seus cabelos em um rabo de cavalo e respirou fundo. Fez um sorriso triste ao ver as fitas de ioga que eram da mãe, guardadas na estante, e se lembrar qual dia era aquele.

Vestiu roupas simples e menos coloridas do que de costume e calçou um par de sapatos sociais. Respirou fundo mais uma vez.

— Hoje era o aniversário dela. – Celine contou para Dandara que estava escorada na parede. – Ela iria completar quarenta anos hoje.

— Sinto muito.

— Irei visitá-la no cemitério.

— Irei com você, se não se incomodar. Afinal, não precisa enfrentar isso sozinha. – Dandara pronunciou, e em resposta, Celine a ofereceu um meio sorriso.

— Tudo bem.

Aquilo era difícil para ela, perder mais um aniversário de sua mãe, não poder comemorar ao lado dela e ao lado de seu pai. Doía. Doía muito.

Celine caminhava, Dandara ao lado. Aos passos que se aproximava daquele lugar, mais Celine se sentia longe de sua mãe. Em todo caminho, a garota pensava nela, em seu rosto, sua voz... ainda se lembrava da voz dela? Agarrada ao passado, a pequena cientista buscava se lembrar de tudo aquilo.

Achava de uma grotesca injustiça não poder reviver aqueles dias, ainda mais quando ela tinha uma máquina do tempo, um passaporte para qualquer época, menos para aquelas onde Celine ainda tinha seus pais consigo.

Por que haviam feito aquilo? Ela não entendia, não entendia. Eles poderiam ter impedido, poderiam ter deixado Celine impedir. Mas ao invés disso, impediram o impedimento.

Dandara não percebeu, mas Celine deixou uma lágrima solitária escorrer.

Com as flores na mão, ela caminhou até o túmulo de sua mãe. Deixou as flores preferidas da mãe no local, e aproveitou para deixar algumas no túmulo de seu pai, que era ao lado.

Helena Dias Santos, amada mãe, irmã, esposa.

— Eu nunca tinha parado para pensar em perdê-los, eles eram tão invencíveis para mim, sempre haviam sido. Eram tão fortes, inteligentes, geniais. Eu os perdi na pior fase da minha vida, e não tem um dia que eu não me arrependa das vezes que eu discuti e briguei com eles. Se eu pudesse, se eu tivesse outra chance, teria dito tantas vezes mais que os amava, que os admirava. Teria os abraçado. Teria voltado.

Dandara não sabia o que dizer, Celine havia tido uma família que havia a amado. Dandara não sabia o que era isso. O que soube fora abraçar Celine de lado e tentar ao menos transmitir algum consolo.

80 Chances Para Te Reconquistar Onde histórias criam vida. Descubra agora