[01 de Maio de 1985]
Dandara havia aprendido algo com sua tia que ela guardava até hoje em seus pensamentos. "Quando você estiver com muita raiva, converta essa raiva em determinação." quando ela ouviu aquilo pela primeira vez, com seus quatorze anos, não havia entendido muito bem, nem levado muito a sério, mas com o tempo, fez uso daquele conselho.
Dandara estava nervosa, mas havia convertido aquilo em determinação para sua busca. Se Celine não a dizia tudo, ela iria descobrir por conta própria.
A começar pelo seus pais. Não havia nenhuma foto deles por toda a casa de praia, e quando ficara no apartamento, não havia visto nenhuma também. Celine os mencionava de vez em quando, mas nunca havia falado algo concreto, de fato, como, qual o nome deles, o que eles faziam, ou qualquer história de família.
Dandara procurava por documentos, ou qualquer coisa na casa que falasse sobre eles. A menina começava a até duvidar de suas existências. Sabia que Celine nascera de alguém, de fato, mas algo não estava certo. Até alguns documentos que achara da casa de praia estavam no nome de Celine, e de ninguém mais. Ah, como ficaria feliz se o Google já existisse.
Haviam muitas incógnitas em tudo aquilo, e mesmo que fosse difícil, Dandara não iria se cansar até colocar pingos em todos o is.
***
Celine se agachou, ficando de frente com Beatrice. Ela chorava sem parar, com os ombros caídos e cabeça baixa. Celine colocou seus dedos no queixo de Beatrice, os levantando e fazendo com que a garota de cabelos escuros, finalmente a encarasse.— Não é culpa sua, e você não deveria chorar por causa de homens, está gastando suas lágrimas por quem não te merece.
— É fácil para você dizer, nunca esteve apaixonada.
— Está errada. – Celine disse causando surpresa em Beatrice que não soube o que dizer por um tempo.
— É só que... – Ela deu uma pausa fungando o nariz. – Eu sou uma idiota, uma idiota bem bonita, mas uma idiota. – Celine soltou uma risada pela forma com que a chefe nunca perdia o ego mesmo numa situação como aquela, o que fez Beatrice rir também.
— Você não é idiota, no fundo já sabia, só não queria acreditar porque você gosta dele.
— E do que isso adianta afinal? Estou aqui sozinha outra vez. Minha irmã, a mais nova, está se casando no final de semana. Eu literalmente troquei a fralda dela, e o único broto¹ legal que eu conheço não é legal assim.
— Você é jovem, vai encontrar alguém. – Celine afirmou se levantando e ajudando a garota a se levantar também.
— Como sabe? Viu em sua máquina do tempo? – Beatrice perguntou se lembrando da brincadeira de Celine no outro dia, ao menos ela pensava que era uma brincadeira.
– Não, eu não vi, eu só sei disso. – Ela afirmou. – E lembre-se, você é a sua melhor companhia, não se esqueça disso. – Beatrice sorriu, limpando as lágrimas. – Agora vamos, temos que abrir a loja.
— Está certa. – Ela disse ajeitando o uniforme e se preparando para trabalhar.
***
Celine não sabia muito o que fazer, estava cansada, sozinha e já havia se sentido assim antes, e doía para ela se lembrar daqueles tempos.O seu primeiro pensamento foi visitar seu melhor amigo, a única pessoa que ela podia contar sempre, mas desistiu da ideia ao ouvir o seu telefone tocar, aquele vermelho telefone de disco. Por um instante havia se esquecido dele, havia se acostumado a mexer nos aparelhos modernos da época de Dandara, e desde que voltara, não havia encostado um dedo no aparelho antigo.
Era estranho como ela não se sentia pertencente a aquilo, ao contrário de Dandara que brilhava os olhos toda vez que via coisas antigas como fliperamas e doces velhos. Talvez a coisa que mais se identificava, uma das poucas, da época em que vivia, eram as cores, isso Celine gostava e não fazia questão de esconder. Aproveitava das roupas brilhantes e vibrantes, e talvez as cores significassem o mesmo para Celine que as músicas significavam para Dandara.
Atendeu o telefone e ficou surpresa e feliz ao ouvir a voz da garota em que estava pensando.
— Ei... – Celine hesitou.
— Oi...Estava pensando se poderia dar uma passada no apartamento.
— Claro! – Celine disse, um pouco empolgada.
E então esperou pela garota, enquanto dava carinho em seu gato Beatles.
Ela já havia tido outros gatos antes, mas nenhum como aquele que estava segurando agora. Ele era especial para ela, era seu companheiro e até a acompanhou em uma de suas viagens pelo tempo e espaço.
Celine abriu a porta do apartamento assim que ouviu as batidas. Dandara estava linda em seu vestido amarelo rodado, e Celine não conseguiu esconder o brilho no olhar ao vê-la. Se sentiu um pouco mal por se sentir assim sobre ela, visto que Dandara não sentia o mesmo e também não parecia querer que Celine se sentisse assim sobre ela.
— O que faz aqui? – Celine teve coragem para perguntar.
— Eu queria ver o Beatles. – Dandara mentiu pegando o gatinho e adentrando o apartamento.
Realmente, não haviam muitas fotos ali, ela percebeu. Haviam pôsteres e quadros, mas não fotografias. A não ser por uma, de um bebê brincando com aviões de papel, em um porta-retratos perto da tevê.
Dandara se aproximou da foto.
— É você? – Ela perguntou e Celine olhou para a foto.
— É, eu tinha um ano, eu acho.
Para Celine, Dandara estava um pouco estranha, talvez fosse o fato de que haviam brigado antes ou qualquer outra coisa, ela não sabia, mas ela parecia estranha.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Sim.
— Você já viu você mesma do passado? Tipo, já voltou para quando era uma criança, ou coisa assim?
— Já. – Celine respondeu. – Duas vezes. Mas não consigo fazer isso mais.
— Por quê?
— É uma longa história. – Foi o que ela disse apenas.
Estava aí outra coisa, Dandara pensou. Outra coisa que Celine não queria contar, parecia que Dandara conseguiria fazer uma lista só dessas coisas, mas ela iria descobrir, de um jeito ou de outro, iria descobrir tudo que precisasse. Afinal, era Dandara Oliveira, pensou, a garota que teve de aprender desde cedo como achar garrafas escondidas pelos cômodos, como achar sua mãe pelos bares quando ela não conseguia voltar para casa, ou como achar a si mesma no meio de tanta bagunça, e ela sabia que mesmo não sendo uma cientista, nem muito chegada a exatas, conseguiria qualquer coisa se quisesse, e agora, ela só queria respostas.
✨✨✨
SUMÁRIO:
1. Broto: expressão muito utilizada nos anos oitenta para se referir à garotos.
Oie gente! Como estão e o que acharam do capítulo?
Gírias como a citada acima no sumário serão mais frequentes aqui ;3
Lancei 2 capítulos de uma vez para que se sintam mais próximos da história, então aproveitem.
Comentários são muito bem vindos, assim eu posso ver as reações de vocês.
Um beijo e não esqueçam de conferir o capítulo 11!
VOCÊ ESTÁ LENDO
80 Chances Para Te Reconquistar
Fiksi Ilmiah"Dandara havia se cansado de estar acostumada com a monotonia de seus dias, os mesmos acontecimentos, problemas, dramas se repetindo toda vez que o sol começava a surgir. Então quando uma jovem loira e misteriosa a levou de volta ao passado, dizendo...