Capítulo 4

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" Ligação é um acontecimento um tanto raro, a união só é possível se as almas forem predestinadas, a ligação não é uma relação exclusivamente amorosa, existem ligações entre irmãos, amigos, filhos e pais. O maior problema aqui são os efeitos colaterais, a distância entre duas pessoas ligadas, causa algumas reações ao organismo, já existem medicações que podem amenizar os sintomas, mas o ideal é se manter em contato com a outra pessoa, mas seu caso tem agravantes delicados... Mas não se preocupe Gulf, estaremos aqui pra te apoiar e achar o melhor tratamento "

As palavras de Dr.Gun ainda ecoavam em sua cabeça, eram tantas informações e preocupações, que o jovem omega se sentia sufocado, o ar em seus pulmões parecia quente, o que percorria seu corpo era uma espécie de calor gelado, a visão começava a embaçar e infelizmente o garoto reconhecia aqueles sintomas, o cio estava começando. Se enrolando na toalha, mal terminando o banho, Gulf se escora na parede sentindo as pernas fraquejarem, as malditas fisgadas começavam a atacar seu ventre, o líquido viscoso já era expelido, escorrendo entre suas coxas, a respiração ofegante e cada vez mais sufocante, ele já não coordenava o próprio corpo, quando ouviu vozes do outro lado da porta. — Gulf, tá tudo bem ? Precisa de ajuda ? – a fala vinham acompanhada de batidas na porta —  Gulf, consegue abrir a porta ? Me deixa te ajudar – ainda que o garoto pudesse sentir o nervosismo de Tul do outro lado da porta, ele não tinha força pra lhe responder, contorcido no chão gélido do banheiro, Gulf abraçava a própria barriga na esperança de que a dor diminuísse, agradecia que o piso do chão fosse frio, contra seu rosto ainda que minimamente, amenizava o calor em em sua pele.

— Que cheiro é esse ? Está muito forte – a voz grossa do Alfa surge por ali também, ambos mais velhos conversam contra porta do banheiro, metade da conversa não foi entendida pelo garoto, o barulho do sangue sendo bombeado em suas veias parecia alto em seus ouvidos, a visão embaçada não lhe permitia distinguir as próprias mãos diante do rosto — Gulf, vamos entrar ok ? Me desculpe invadir sua privacidade mas estou preocupado – o garoto queria responder que tudo bem, que ele realmente precisava de ajuda, mas tudo que saiu de seus lábios foi um grito desesperado de dor, e em seguida o estouro da porta sendo arrombada — Gulf !! –Tul corre em sua direção, lhe tirando do chão úmido — Nossa, é muito forte – a voz de Max, fugia entre as mãos que cobrem o nariz, evitando sentir o cheiro doce dos feromônios do garoto, não que ele representasse risco, ele já havia impregnando Tul, os feromônios de Gulf não influenciaram sua parte alfa, mas ainda sim, seu nariz funcionava, e o cheiro adocicado realmente se tornara forte demais no pequeno espaço do banheiro — Max pega ele – pedia Tul, já com lágrimas nos olhos.

O mais velho se aproxima, se abaixando pra pegar o menor no colo, mas assim que se coloca de joelhos, Kanawut entra em desespero ao sentir o cheiro e a presença do Alfa —  Não...Não por favor – o menor implorava se debatendo contra os braços de Tul, chorando, gritando e arranhando qualquer coisa em que suas mãos pudessem alcançar — Gulf, calma por favor, só queremos ajudar – Tul já não controla as lágrimas, pelo menor e por si. Ver o garoto naquela situação só lhe trazia lembranças do passado sombrio, antes de conhecer Max, os pesadelos, os medos, o nojo do próprio corpo, além da dor incomparável de um cio solitário —  Gulf, por favor confia na gente – o omega mais velho tentava acalmar o menor, mas sua voz tremia — Tul – a voz de Max era baixa e pesarosa quando sussurrou seu nome, ele não queria aceitar aquela opção, mas ele precisava medicar Gulf, além do que o garoto já tinha algumas machucados no corpo, por se debater contra o piso, o mais velho sem opção apenas concorda com a cabeça e em seguida se encolhe junto com Gulf, quando o rosnado de Max ecoa pelo banheiro. Gulf solta um gemido choroso, mas para de se debater, já sem forças pra lutar mais, a dor em seu abdômen parece lhe rasgar por dentro, Max lhe ergue do chão o pressionando suavemente contra o peito e o levando ao quarto de Plan, o pobre garoto agora só tinha forças pra chorar sobre os lençóis. Os passos de Tul estalam sobre o piso e logo retornam, sentando ao seu lado o ômega ergue a cabeça do garoto —  Toma pequeno, esse remédio vai te ajudar – tentando encaixar o comprimido na boca do menor, Tul não contém as lágrimas as deixando cair sobre a cama, com certa dificuldade ele consegue fazer o garoto engolir o inibidor.

Os infinitos minutos que o remédio demorou pra fazer efeito foram agoniantes para ambos os ômegas, Gulf por passar pela dor do cio e Tul por se sentir impotente diante daquela situação. Agora parado a porta, Max encara os dois adormecidos sob a cama, Tul dormia ainda com o rosto marcado pelas lágrimas, a mão se acomodava nos cabelos escuros do menor que finalmente parecia calmo e dormindo profundamente. Max sorriu com a cena, Tul parecia tão relaxado ao lado do menor, que era quase como se tivesse sido assim a vida inteira, ver aquela imagem alegrava o coração do mais velho, o celular que vibra em seu bolso lhe tira dos pensamentos — Alo!? –  atendendo o aparelho, ele fecha a porta pra não acordar os dois ômegas que dormem tranquilos — Consegui algumas pistas do que você me pediu, esta livre agora ? – a voz de Off passa através do aparelho — Me dá meia hora e eu chego ai.

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