Ikigai

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Ikigai (n.): Uma profunda razão de
ser. O que faz você levantar todas as
manhãs.

Wang Yibo Pov

- Mas o que é exatamente esse tal de UIA, que a sua mãe me falou? – meu pai falou entrando no quarto. – Se eu soubesse que dormiria aqui em casa, teria mandado Martha preparar o quarto para você. – ele resmungou, antes de eu responder.

- Union Internationale des Architectes. – expliquei a sigla para minha mãe. – É um congresso internacional que reúne arquitetos de todos os lugares do mundo e os arquitetos mais importantes e destacados são chamados para falar, para fazerem palestras, ministrarem cursos. – falei, enquanto tirava os sapatos, sentado à beira de minha cama. – Não se preocupe com o quarto.

- Tudo bem, eu já entendi que se trata de um congresso de arquitetura. Que o seu professor lhe convidou para ir, porque vai fazer palestras nesse congresso...

- Isso! – afirmei. – Eu nem acredito que ele me chamou. – falei, demonstrando toda a minha alegria direcionada àquele fato.

Meu pai, é claro, entendia aquela empolgação como fruto exclusivo do fato de eu ter sido convidado pelo meu professor incrível, gênio da arquitetura e estratosfericamente conceituado no mundo da arquitetura e negócios. Mas a verdade é que somente dez por cento de mim alegrava-se por este motivo. Noventa por cento de mim estava em uma incontrolável euforia por ter sido convidado pelo homem que me arrepiava os poros, que me revirava os sentimentos, que me fazia tremer em sua presença... O homem por quem eu estava apaixonado.

- Você deve estar mesmo louco para ir – meu pai observou, enquanto sentava ao mu lado na cama. – Ele vai cuidar de você lá ou você vai por conta própria?

- Eu já tenho dezoito anos não é com se eu não soubesse me cuidar pelo menos um pouquinho. Mais sim ele vai está lá comigo – falei.

Joguei-me para trás na cama, caindo em cima dos travesseiros, enquanto meu pai se mantinha em silêncio verbal.

- Tudo bem... – meu pai falou, finalmente, depois de um suspiro. – Acho que está na hora de deixar você fazer algumas coisas sozinho. – ele falou em um tom dramático.

Uma das características mais marcantes do meu pai era o seu forte senso de zelo pela vida das pessoas que amava. Especialmente em relação a mim e a  minha mãe. A verdade é que meu pai tinha um enorme e incorrigível medo da morte. Tanto para si, quanto para nós.  Segurança nunca era exagero e quando cismava que algo iria dar errado ou parecia perigoso demais, não havia quem o convencesse do contrário.

- Eu vou deixar você ir, mas se você vacilar, cara, se você não atender as minhas ligações, se você se meter em lugares perigosos, se ment..

- Pai, eu só vou ao congresso e volto. – O interrompi antes que ele começasse com um sermão que jamais iria terminar.

- Está bem. – ele falou, concordando finalmente. – Podemos ir amanhã bem cedo pegar as suas roupas em Cambridge.

- Na verdade, eu estava pensando se você poderia pedir para Stephen ir lá ainda hoje pegar. Eu posso ligar pro Adam e pedir que arrume algumas roupas para mim...

- ok. – meu pai concordou. – Eu tenho um compromisso com sua mãe pela manhã, seria complicado ir até Cambridge.

- Você bem que poderia me dar um carro... – sugeri a ideia pela milionésima vez desde que eu fizera dezesseis anos.

Meu pai semicerrou os olhos, olhando-me cinicamente.

- Veremos isso. – falou, e afastou-se em direção a porta do quarto enquanto eu me jogava em minha cama, para alcançar o celular que estava na cômoda do outro lado. – Vou avisar Stephen que você vai precisar dele, quando seu amigo acabar de arrumar as suas coisas, ligue para ele.

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