Silencenus

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Silencenus (n.): O intenso desejo de
silenciar a própria mente.

YIBO POV

Cambridge tinha, tradicionalmente, cheiro de café, croissants e natureza. Entretanto, em nenhuma outra estação do ano se podia sentir tão forte o cheiro das folhas queimadas que se misturavam ao vento gelado e corriam por toda a cidade. Era quase como uma ajuda da natureza para aumentar o encanto quase místico daquele lugar.

Aquele cheiro específico invadia o meu nariz, causando aquela sensação típica de congelamento que percorria todo o trajeto do meu pulmão, gelando o meu peito, enquanto eu, Eros e Adam caminhávamos até o The Village.

- Você está bem? - Adam perguntou, depois de me dar algum tempo de silêncio, enquanto caminhávamos, sem nem ao menos tentar me envolver na conversa que estava tendo com o Eros

- Perfeitamente. - respondi simplesmente, sem olhá-lo e parando na calçada, ao lado do poste de semáforo, esperando a sinalização abrir para os pedestres.

Coloquei as mãos nos bolsos do moletom e fixei meu olhar no semáforo com o bonequinho vermelho brilhando do outro lado da rua.

- Tem certeza? - meu amigo questionou-me para confirmar. - O que Xiao fez foi tão...

- Professor Xiao. - o corrigi, sem humor algum. - O assunto Xiao morreu. - falei, sem tirar os olhos do bonequinho que nunca ficava verde.

- Morreu? - Adam perguntou, demonstrando claramente que não havia entendido.

- Ele quis dizer que não é mais pra você falar sobre o "falecido" perto dele. - Eros respondeu por mim e eu agradeci mentalmente a inteligência perspicaz do garoto.

- Que falecido? - Adam virou a cabeça que estava voltada para mim bruscamente, para poder olhar Eros.

- O "morto". - Eros explicou outra vez, em um tom de obviedade.

- Que morto? Quem morreu? - meu amigo perguntou, mais uma vez e eu mal pude acreditar que ele estivesse sendo tão lento em entender assim.

Eros arregalou levemente os olhos, olhando estupefata para Adam

- Ele disse pra você não falar mais do Xiao. "O assunto Xiao morreu". - ele falou, fazendo aspas com os dedos, usando um tom de tanta obviedade que eu quase tive vontade de sorrir, mas o gelo em meu peito rapidamente congelou a vontade.

- Ahhhhhhh! - Adan exclamou, expressando sua compreensão e seguindo-me enquanto atravessávamos na faixa de pedestres. - Não podemos mais falar do Xiao, mas aposto que não vão se passar cinco minutos até ele mesmo falar do suposto "falecido". - Adam falou, em um tom descontraído.

O simples fato de escutar o nome dele estava tornando o meu peito cada vez mais ártico. A cada menção do nome "Xiao", eu sentia dar um passo mais para dentro de uma geleira, para dentro do meu iceberg pessoal.

Virei-me, parando de frente para Adan e parando de costas para a porta de entrada do The Village. Cruzei os braços na frente do corpo para me proteger de um frio intenso que, aparentemente, só eu sentia e encarei os dois, principalmente o meu colega de quarto.

- Eu falei sério. - falei em um tom sério, porém sem ser rude. - Eu não quero mais falar nesse assunto. Não quero mais falar nele e nem ouvir o nome dele a não ser que seja extremamente necessário por questões da universidade.

Adan me olhava com certo arrependimento no olhar e apenas balançou a cabeça em afirmação. A expressão de Eros apenas reafirmava que ele já havia entendido. Dei-lhes um sorriso curto de agradecimento e virei-me de frente para a porta, empurrando-a e adentrei o local sem ao menos sentir vontade de olhar para o lugar onde ele costumava ficar.

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