Solasta

437 65 20
                                    

Solasta (adj.): Luminoso. Brilhante.

YIBO POV

As luzes de Boston eram sempre muito intensas durante a noite. Pontos amarelos brilhavam por todos os lados de uma perspectiva distante, mas não o amarelo pálido que se vê por aí e sim um amarelo brilhante, intenso, combinando perfeitamente com o meu estado de espírito inflamado. Havia luz a todo o alcance dos olhos, como uma selva de vagalumes brilhando constantemente no meio da escuridão profunda da noite.

"A dangerous plan, just this time... A stranger's hand clutched in mine.", a música soava baixinho vinda do som do carro que estava sintonizado em uma rádio local. "I'll take this chance, so call me blind. I've been waiting all my life", desviei os olhos das luzes que brilhavam do lado de fora da janela do carro para a luz que brilhava ao meu lado. Xiao Zhan.

Seu cabelo estava levemente bagunçado, resultado ainda das minhas mãos desesperadas atacando-o uma hora antes. Ele segurava o volante com a mão esquerda, dirigindo em linha reta pela auto estrada que levava à ponte de acesso à Cambridge e com a direita, segurava carinhosamente a minha mão, deslizando o polegar carinhosamente por meus dedos. Seus lábios estavam infinitamente mais vermelhos do que de costume.

O trecho fixou-se em minha mente, como um alerta para mim mesmo, de que aquele era um pedido do meu coração, sobre o qual eu não tinha consciência até aquele momento. "Por favor, não deixe cicatrizes nesse jovem coração, apenas segure a minha mão", pensei e involuntariamente suspirei, enquanto encarava o rosto perfeito do Xiao. Como se tivesse escutado os meus pensamentos, ele apertou os dedos em minha mão.

Não trocamos nenhuma palavra no caminho de volta ao meu dormitório. Não precisávamos de sílabas quando o silêncio nos falava com tanta clareza. Nossos corações conversavam em completo entendimento, usando apenas o que sentíamos. Ele parou o carro exatamente no mesmo lugar onde o havia feito quando fora me buscar, sete horas antes. Ele diminuiu o volume do som até o zero e virou-se para mim.

- Desculpe-me por lhe trazer tão tarde. - ele falou, com extrema educação e um leve pingo de doçura. - A intenção era lhe devolver às onze. - falou, justificando-se.

Franzi o cenho, sem entender exatamente porque ele estava dizendo aquelas coisas, sem entender porque ele estava se justificando por algo que, definitivamente, não necessitava nem de desculpas, nem de justificativas.

- Eu pensei que a intenção fosse não me devolver... - falei conseguindo manter um tom de voz razoável.

Xiao Zhan arregalou levemente os olhos e negou com a cabeça.

- A intenção estava longe disso. - ele disse, em um tom mais sério. - Eu jamais tive em mente qualquer planejamento para o que... aconteceu hoje... - completou, olhando fixamente, passando-me mais certeza do que era necessário.

Jamais havia passado por minha mente a ideia de que Xiao tivesse me chamado para sair com ele, tendo em mente um encontro sexual. As coisas que aconteceram, aconteceram por si só e não foram, nem de longe, uma manifestação unilateral da parte dele. Eu havia caminhado até o carro dele por livre e espontânea vontade. Eu havia caminhado até o quarto dele, por livre e espontâneo desejo que me corroía. Eu o havia deixado tirar a minha roupa e morder meu corpo e me tocar intimamente porque eu quis. Porque eu o queria ardentemente.

- E eu jamais achei que tivesse. - falei, tocando a sua mão que estava apoiada na própria perna, àquela altura. - Xiao...

- Me desculpe, Yibo. - Ele falou, interrompendo-me. - Fui longe demais e não queria ter ultrapassado os seus limites.

- Não ultrapassou. - Afirmei, antes que ele continuasse a dizer qualquer coisa. - Eu não pedi para parar porque não estava me sentindo confortável ou porque não estava gostando. Eu pedi para parar porque eu... É confuso... - fiz uma careta para mim mesmo e para a minha falta de eloquência em explicar e até mesmo entender o que acontecia comigo. Soltei um suspiro cansado, cedendo à ausência de palavras que explicassem com dignidade de estilo e disse apenas o que estava em minha mente. - Eu senti medo.

WonderfallOnde histórias criam vida. Descubra agora