Picasso

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Draco

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Draco

Ao que parece, Harry trabalhou como modelo durante um tempo quando morava em Nova York; por isso as fotos dele estão por aí, flutuando pela internet, apenas esperando que alguém faça um fake se passando por ele.

Todos nós demos uma boa olhada na foto do telefone de Blás e rimos muito daquela bizarra coincidência. Apesar disso, há uma questão que ainda não consigo engolir: se Harry acabou de se mudar do novo México, e não de Nova York, bom não seria razoável esperar que ele parecesse um pouco mais jovem na tal foto? Afinal de contas, não conheço ninguém as dezessete anos, que  tenha exatamente a mesma aparência que tinha as quatorze, ou mesmo aos quinze. Mas o Harry daquela foto era idêntico ao Harry atual.

E isso não faz o menor sentido.

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Chegando à aula de artes, entro na fila para o armário de materiais, pego minha tralha e vou para o cavalete. Finjo que não estou nem aí quando vejo que  Harry está instalado bem ao meu lado. Simplesmente respiro fundo e ,sem a menor pressa, coloco o avental e vou escolhendo os pincéis, aqui e ali espichando o olho na tela vizinha e tentando  não babar com a obra-prima que Harry está fazendo: uma versão absolutamente perfeita de Mulher de cabelos Amarelos, de Picasso.

Nossa tarefa é reproduzir um dos grandes mestres, escolher uma pintura clássica da história da arte e tentar cópiá-la . Por algum motivo besta, achei que redemoinhos simplesinhos de Van Gogh não me dariam tanto trabalho, que eu tiraria a parada de letra e ganharia nota máxima facilmente. Mas quando olho para a tela a minha frente, para as pinceladas caóticas e apressadas que consegui produzir até agora, vejo que estava redondamente enganados. Só que a essa altura não posso mais voltar atrás e salvar a situação. Pior, não tenho ideia do que fazer.

Desde que me tornei medium não preciso estudar. Nem ler. Basta colocar as mãos sobre o livro que seu conteúdo imediatamente pipoca em minha cabeça. Quanto as provas? Digamos que hoje sou à prova de provas: basta passar os dedos sobre cada pergunta para que a resposta se revele na mesma hora.

Mas o buraco de arte é mais em baixo.

Porque talento não pode ser fabricado.

Portando, não e á toa que meu quadro parece um lixo se comparado ao de Harry.

__Noite estrelada?__ ele pergunta, indicando com a cabeça os borrões azuis que vergonhamente escorrem pela minha tela. Minha vontade é de cavar um buraco no chão e nunca mais sair dali. Fico pensando em como ele pode advinhar o que estou fazendo só de olhar para essa bagunça de manchas.

Em seguida, só para me torturar mais dou uma olhada rápida no seu trabalho, nas pinceladas sinuosas que ele produz sem esforço. E acrescento mais um item na lista, aparentemente interminável de qualidade e talento do garoto.

Sério. Na aula de inglês, por exemplo, ele respondeu a todas as perguntas que o Sr. Binns fez, o que é bastante estranho, já que teve só uma noite. Para ler trezentas e tantas páginas de O morro dos ventos uivantes. Sem falar nos comentários que acrescenta depois: Harry é capaz de discorrer sobre fatos históricos, eventos que aconteceram séculos atrás, como se tivesse presenciado tudo com os próprios olhos. Além disso, é ambidestro, o que aparentemente é uma, bobagem; mas o garoto consegue escrever com uma das mãos e pintar com a outra sem qualquer esforço. E as tulipas que ele tira do nada? E a caneta mágica?

__Excelente! __ exclama a Sra. Trelawney__ Exatamente como Picasso!__ Ela alisa a trança comprida enquanto corre os olhos pela tela de Harry mentalmente dando cambalhotas de alegria, a aura vibrando num lindo azul-cobalto. Vasculha memória em busca de outro aluno tão talentoso quanto ele, mas não encontra.

Depois vem ao meu lado.

__ E você ,Draco?__ Ainda sorrindo, mas por dentro pensa:  Que diabos e isso?

__ É, hummm... Era pra ser Van Gogh__ respondo, vermelho de tanta vergonha. __ Sabe noite estrelada?

__Bem... é um bom começo__ ela diz, tentando evitar uma careta de espanto__ O estilo de Van Gogh é bem mais difícil do que parece. Ah, não se esqueça de acrescentar os dourados e amarelos! Afinal de contas , a noite estava estrelada, não estava?

Enfim ela passa para outro aluno, a aura se dilatando em pequenas centelhas. Sei que não gostou do meu trabalho, mas fico agradecido pelo esforço que fez para esconder isso. Em seguida, tonto que sou mergulho o pincel na tinta amarela sem sequer me dar o trabalho de limpar o azul que estava antes. Resultado: um grande borrão verde em minha tela.

__Como é que você consegue?__ pergunto a Harry, comparando sua obra-prima a meu desastre, já muito disposto a me conformar com o fracasso.

Ele sorri e, buscando meu olhar, diz:

__Quem você acha que ensinou a Picasso?

Jogo o pincel no chão furioso, salpicando tinta verde por toda parte : nos sapatos , no avental, no rosto. Sem ao menos conseguir respirar, fico olhando para Harry enquanto ele recolhe o pincel e o coloca de volta em minha mão.

__Todo mundo tem de começar em algum lugar__ ele diz em seguida, os olhos verdes intensos e ardentes, enquanto seus dedos buscam a pontinha da  cicatriz que dá pra ver  na gola da minha camisa.

As minhas cicatrizes.

As que eu escondo. Quase nunca fico sem camisa.

Essa cuja existência ele não tem a menor chance de saber.

__Até Picasso tinha um professor.__ Ainda sorrindo Harry  afasta a mão e leva consigo o calor que é capaz de produzir em mim. Calmamente volta a pintar.

Só então me lembro de respirar outra vez.

Só então me lembro de respirar outra vez

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Desculpa qualquer erro na escrita até ♡

Para sempre (Drarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora